Nunca havia cruzado com nada escrito do Chico (ao menos
não deste, do outro li “Budapeste”) até então, sendo que assim, como vagava
pelo sebo sem um “alvo” específico e encontrando-me repentinamente diante da
obra de tão ilustre expoente do humor brasileiro – apesar de julgar, é verdade, como muitos, suas últimas empreitadas na tv meio fracas – , decidi, curioso, de pronto levá-lo para dar uma conferida.
Fato curioso que talvez valha a pena destacar - ou não - é que isso se passou numa sexta, no 22 de março deste ano... "Curioso"
pois após chegar em casa e dar uma folhada no livro, resolvi dar uma olhada no
perfil de Chico na internet e surpreendi-me com a data de sua morte: 23 de
março do ano passado... no creo en las brujas, pero...
Bem, coincidências (?) à parte, quanto ao livro, embora
talvez tivesse criado certa expectativa e esperasse um pouco mais, trata-se de
uma leitura agradável, divertida, direta, sem muita “frescura” e com um toque
todo particular. São contos bem-humorados que se passam em geral num interior fictício do Ceará,
focando as narrativas nas peculiaridades da região e de seus habitantes e
linguajar.
“Partindo de
Bacurim, no rumo de Paratinga, qualquer caminhante encontra um povoado pequeno
por nome de Santa Arminda. Caminho de piso ruim, desvios e catabis. Estrada
pouco assentada por pneus de automóveis, mas castigada pelos cascos de zainos e
alazães (sic). Vez por outra passam bois puxando carros modorrentos,
molengões...”, começa a narração do
primeiro conto do livro, “Chico Motta”.
Já a introdução daquele que dá título ao livro – e um dos
mais divertidos do mesmo – vai assim: “Capivali
e Querém não distavam mais do que quatro léguas uma da outra. E se havia uma
aproximação geográfica tão grande – apesar de não constarem dos mapas – maior ainda
era a rivalidade. Feito Natal e Mossoró, São Paulo e Campinas. Só que lá a
rivalidade gritava mais, porque além da concorrência, nada mais de proveitoso
havia a ser feito...”. E segue, inserindo no triângulo regional seu
terceiro vértice, a cidadezinha de Cravelho, menor e mais humilde, mas que
decide construir uma nova cadeia – e não uma cadeia qualquer, mas uma cadeia de
primeiro mundo! – para fazer inveja às duas vizinhas. O problema é que, construída
a nova cadeia, e convidadas as autoridades – entre as quais até mesmo o
governador – para a grande inauguração, falta o essencial para uma boa cadeia:
alguém preso lá dentro. E começa-se assim na cidade uma desesperada busca por
um candidato ao posto...
Quem se habilita? É por uma boa causa. Teje preso!
Para quem, como eu, não sabia, Chico publicou, além deste, cerca de mais uma dezena de
livros.
Outra pequena curiosidade que pode ter sido notada por algum leitor mais atento (ou mais chato): apesar de nos
últimos tempos ele costumar assinar o Anysio assim, com “y”, seu nome não foi escrito errado no título deste texto, não: como mostra a capa lá em cima, nesse livro ele ainda era um Chico, digamos, abrazucado, com o velho e bom “i”
mesmo...
Ah... e não, Professor Raimundo, Bento Carneiro, Tim Tones
e Nazareno (“Caalaaaaaaaaada!!”) não estão lá... Mas ainda assim vale a leitura
como entretenimento para uma boa espairecida – ou mesmo para quem só quiser
matar a curiosidade a respeito dessa faceta do artista.
(por Diego T. Hahn)
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