sexta-feira, 31 de maio de 2013

Grupo Consórcio de Batatas da Laide (por Juliano Lanius)


Grupo Consórcio de Batatas da Laide

Almoço em família é muito engraçado. Aqui no Sul, o cardápio é quase sempre o mesmo: churrasco. Que bom! Qual é o gaúcho que não gosta de uma carne bem gorda e sangrenta? Ainda mais ao redor dos que nos amam e amamos também. Eu adoro.
 
Minha família não é muito diferente. Assim como na maioria das famílias, também temos o tio comediante, no caso, Tio Cláudio. Tio Cláudio possui certo dom natural para contar piadas, fazendo com que um ínfimo detalhe torne-se algo de que todos achem graça. A diferença – e vantagem – de Tio Cláudio para os outros tios é que ele frequentemente renova seu estoque de anedotas. Ainda bem, por que sempre tem aquele que conta a mesma piada todas as vezes que quer agradar. Sabemos quando Tio Cláudio está passando um pouco da conta no momento em que sua esposa, Tia Thereza, solta um: “Menos, Cláudio Augusto!”. Quando nosso nome sai por completo da boca de nossas esposas, ou mães, é que a coisa está feia para o nosso lado. E Tia Thereza tem certa implicância com seu nome. Não sei se ela pensa que as pessoas sempre erram ao escrever Thereza – e sempre erram – ou se pensa que as pessoas são analfabetas. Sempre que lhe perguntam seu nome, ela diz: “Thereza, com H e com Z, tá?”. A pessoa deve se sentir até meio coagida, pensando que ao menor erro de grafia vai receber um xingamento ou coisa parecida.

Também temos o gritão na nossa família. Você também tem um na sua? Pois é, e advinha quem é o gritão da minha? Meu pai. Pai para mim, Sérgio para as irmãs, e Tio Sérgio para as sobrinhas. Na escola, não ensinaram o princípio da propagação do som a meu pai. Ele não deve ter aprendido que as ondas sonoras perdem força à distância, mas que de perto são bem potentes. Acho que, às vezes, ele pensa que os vinte centímetros entre ele e a pessoa que o escuta não são suficientes para a intensidade com que ele fala. Pai, é mais do que suficiente.
Ah, na nossa família também temos aquela tia que recebe os convidados em sua casa, a anfitriã. Essa sempre é a mais prestativa, alcança os pratos, os garfos, as panelas e os copos. Bem pudera, já que ela é a dona da casa, ela é que tem que saber onde estão essas coisas. Tia Adelaide, mais conhecida como Tia Laide, é a que nos recebe na sua casa em muitos encontros familiares. Tia Laide é admirada por todos na família por sua maravilhosa salada de batatas (maionese, para os gaúchos). Tanto, que, mesmo quando os almoços aconteçam em outro local, ela sempre é a escolhida para fazer a maionese, ou lhe oferecem para fazer. Porém, em sua casa, ocorre um probleminha toda vez que ela prepara a tal salada. Geralmente, as pessoas preferem que a comida seja farta, que todos fiquem satisfeitos, ao invés de deixar os convidados com desejo de comer mais. Tia Laide não pensa assim. Para ela, se não sobrar nada, mesmo que um ou dois nem tenham comido, melhor. Não sei se é por que ela não gosta de guardar os restos ou por que ela quer realmente que as pessoas a elogiem e peçam que ela faça mais da próxima vez. Tipo massagem no ego, sabem?
E, pelo jeito, esta história é de longa data. No último almoço muitos disseram que Tia Laide sempre faz pouca maionese. A maioria explica que é a quantidade de batatas que ela cozinha a causa da fome alheia. Ela diz que a media correta é duas batatas por pessoa. Eu, sinceramente, não sei. Mas não custava nada colocar ao menos mais cinco batatas na panela.

Neste encontro, onde a polêmica foi grande, todos trouxeram idéias de como resolver a questão da falta de batatas na casa da Tia Laide. A hipótese que mais nos animou foi a possibilidade de plantarmos nossas próprias batatas. Concordamos em fazer uma espécie de “consórcio de batatas”. Cada um contribuirá com uma quantia ainda não estipulada de dinheiro. Esse investimento será para custear o terreno, que será arrendado na chácara de Tio Cláudio e Tia Thereza – com H e Z –, a compra das sementes e algum produto que seja necessário. A mão-de-obra vai ser familiar. Assim, não haverá mais desculpas por ter deixado as pessoas com angústia por não poder servir de mais uma colherada da bendita maionese.

O único problema é que até a primeira safra ainda teremos outros encontros. Por este motivo, deixo aqui um pedido aos produtores e comerciantes de batatas: estamos aceitando doações desta raiz de que tanto carece nossa família. As informações sobre como efetuar as doações podem ser obtidas através do meu email. E aqueles que se interessam em fazer parte deste consórcio, que fará um imenso bem aos amantes da maionese da Tia Laide, devem aguardar divulgação nos meios de comunicação. Depois de consolidado, o Grupo Consórcio de Batatas da Layde, fará doações da maionese a quem queira experimentar.
 
(Juliano Lanius)

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