terça-feira, 12 de novembro de 2019

Seção "Mais valem algumas palavras do próprio autor - quando este é fera, claro - do que mil resenhas": "Pergunte ao Pó", de John Fante (por Diego T. Hahn)


"(...) alguma perturbação da paz, algo vago e inominável infiltrando-se em minha mente. (...) Procurei, senti os dedos da mente tateando, mas não chegando a tocar no que estava lá me aborrecendo..."

"(...) Aquilo requeria alguma meditação. (...) Isto é mau, Arturo. Você leu Nietzsche, você leu Voltaire, deveria saber. Mas o raciocínio não ajudava. Eu podia me livrar daquilo por meio do raciocínio, mas não era o meu sangue. Era o meu sangue que me mantinha vivo, era o meu sangue que corria por meu corpo, dizendo-me que aquilo era errado. Fiquei sentado ali e entreguei-me ao meu sangue, deixei que me levasse nadando até o mar profundo dos meus primórdios."

"(...) Eu estava errado. Cometera um pecado mortal. Podia equacioná-lo matemática,
filosófica, psicologicamente: podia prová-lo por uma dúzia de maneiras, mas estava
errado, pois não havia como negar o ritmo quente e compassado da minha culpa."