Grupo
Consórcio de Batatas da Laide
Almoço em família é muito engraçado. Aqui no Sul, o cardápio é quase
sempre o mesmo: churrasco. Que bom! Qual é o gaúcho que não gosta de uma carne
bem gorda e sangrenta? Ainda mais ao redor dos que nos amam e amamos também. Eu
adoro.
Minha família não é muito diferente. Assim como na maioria das
famílias, também temos o tio comediante, no caso, Tio Cláudio. Tio Cláudio
possui certo dom natural para contar piadas, fazendo com que um ínfimo detalhe
torne-se algo de que todos achem graça. A diferença – e vantagem – de Tio
Cláudio para os outros tios é que ele frequentemente renova seu estoque de
anedotas. Ainda bem, por que sempre tem aquele que conta a mesma piada todas as
vezes que quer agradar. Sabemos quando Tio Cláudio está passando um pouco da
conta no momento em que sua esposa, Tia Thereza, solta um: “Menos, Cláudio
Augusto!”. Quando nosso nome sai por completo da boca de nossas esposas, ou mães,
é que a coisa está feia para o nosso lado. E Tia Thereza tem certa implicância
com seu nome. Não sei se ela pensa que as pessoas sempre erram ao escrever
Thereza – e sempre erram – ou se pensa que as pessoas são analfabetas. Sempre
que lhe perguntam seu nome, ela diz: “Thereza, com H e com Z, tá?”. A pessoa deve
se sentir até meio coagida, pensando que ao menor erro de grafia vai receber um
xingamento ou coisa parecida.
Também temos o gritão na nossa família. Você também tem um na sua?
Pois é, e advinha quem é o gritão da minha? Meu pai. Pai para mim, Sérgio para
as irmãs, e Tio Sérgio para as sobrinhas. Na escola, não ensinaram o princípio
da propagação do som a meu pai. Ele não deve ter aprendido que as ondas sonoras
perdem força à distância, mas que de perto são bem potentes. Acho que, às
vezes, ele pensa que os vinte centímetros entre ele e a pessoa que o escuta não
são suficientes para a intensidade com que ele fala. Pai, é mais do que
suficiente.
Ah, na nossa família também temos aquela tia que recebe os convidados
em sua casa, a anfitriã. Essa sempre é a mais prestativa, alcança os pratos, os
garfos, as panelas e os copos. Bem pudera, já que ela é a dona da casa, ela é
que tem que saber onde estão essas coisas. Tia Adelaide, mais conhecida como
Tia Laide, é a que nos recebe na sua casa em muitos encontros familiares. Tia
Laide é admirada por todos na família por sua maravilhosa salada de batatas (maionese, para os gaúchos). Tanto, que,
mesmo quando os almoços aconteçam em outro local, ela sempre é a escolhida para
fazer a maionese, ou lhe oferecem para fazer. Porém, em sua casa, ocorre um
probleminha toda vez que ela prepara a tal salada. Geralmente, as pessoas
preferem que a comida seja farta, que todos fiquem satisfeitos, ao invés de
deixar os convidados com desejo de comer mais. Tia Laide não pensa assim. Para
ela, se não sobrar nada, mesmo que um ou dois nem tenham comido, melhor. Não
sei se é por que ela não gosta de guardar os restos ou por que ela quer
realmente que as pessoas a elogiem e peçam que ela faça mais da próxima vez.
Tipo massagem no ego, sabem?
E, pelo jeito, esta história é de longa data. No último almoço muitos disseram
que Tia Laide sempre faz pouca maionese. A maioria explica que é a quantidade
de batatas que ela cozinha a causa da fome alheia. Ela diz que a media correta
é duas batatas por pessoa. Eu, sinceramente, não sei. Mas não custava nada
colocar ao menos mais cinco batatas na panela.
Neste encontro, onde a polêmica foi grande, todos trouxeram idéias de
como resolver a questão da falta de batatas na casa da Tia Laide. A hipótese que
mais nos animou foi a possibilidade de plantarmos nossas próprias batatas.
Concordamos em fazer uma espécie de “consórcio de batatas”. Cada um contribuirá
com uma quantia ainda não estipulada de dinheiro. Esse investimento será para
custear o terreno, que será arrendado na chácara de Tio Cláudio e Tia Thereza –
com H e Z –, a compra das sementes e algum produto que seja necessário. A
mão-de-obra vai ser familiar. Assim, não haverá mais desculpas por ter deixado
as pessoas com angústia por não poder servir de mais uma colherada da bendita
maionese.
O único problema é que até a primeira safra ainda teremos outros
encontros. Por este motivo, deixo aqui um pedido aos produtores e comerciantes
de batatas: estamos aceitando doações desta raiz de que tanto carece nossa
família. As informações sobre como efetuar as doações podem ser obtidas através
do meu email. E aqueles que se interessam em fazer parte deste consórcio, que
fará um imenso bem aos amantes da maionese da Tia Laide, devem aguardar
divulgação nos meios de comunicação. Depois de consolidado, o Grupo Consórcio
de Batatas da Layde, fará doações da maionese a quem queira experimentar.
(Juliano Lanius)