segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Zen Pencils ("Roll the dice", de Charles Bukowski)


E, bom, pra fechar este primeiro ano do De Letra em grande estilo, uma mistura explosiva pra detonar tudo:

Zen Pencils + Charles Bukowski.

Sem dúvida um épico do Zen Pencils, com este que talvez seja o poema mais famoso do velho safado (e, emblemático, se encaixa bem nesse clima de fim de ano - e de fim em geral...).

Para quem não conhece o Zen Pencils (há um outro post muito bom sobre ele aqui no De Letra: http://www.deletradj.blogspot.com.br/2013/10/zen-pencils.html), trata-se do seguinte: um desenhista australiano pesca uns pensamentos, poemas, textos inspiradores em geral, enfim, de gente famosa e cria uma espécie de história em quadrinhos em cima deles.

E para quem ainda não conhecia o texto do velho Buk e não saca muito de inglês, aqui vai uma tradução aproximada do mesmo para se curtir melhor a obra de arte mixada mais abaixo:

Roll the dice ("Role os dados")

"Se você vai tentar, vá até o fim
Caso contrário, nem comece.
 Isto pode significar  perder namoradas , esposas, parentes, empregos
E, talvez, até sua cabeça.
Isso pode significar não comer por três ou quatro dias. 
Pode significar congelar de frio sobre um banco do parque. 
Pode significar prisão. 
Pode significar escárnio, desprezo, desdém.
Isso pode significar zombaria, isolamento. 
Isolamento é o prêmio. 
Todos os outros são um teste à sua resistência. Do quanto você realmente deseja fazer isso.
E você vai fazer isso
apesar da rejeição e das piores probabilidades. 
E será melhor do que qualquer outra coisa que você possa imaginar. 
Se você vai tentar, vá até o fim
Não há outro sentimento como esse 
Você ficará sozinho com os deuses
 E as noites flamejarão com fogo
Faça, faça, faça
Até o fim
Até o fim
 Você levará a vida direto para a risada perfeito
 É a única briga boa que existe."

Feliz Ano Novo e que em 2014 a gente continue indo (ou tentando) até o fim!





sábado, 14 de dezembro de 2013

Pelos sebos da vida: "Tubarão", de Peter Benchley (por Diego T. Hahn)


Bom, aproveitando a chegada da temporada e seguindo na mesma onda (ah, como eu gosto desses trocadilhos!) do texto anterior do amigo Juliano aqui no blog, vamos continuar com nossos refrescantes banhos de verão, porém nos aprofundando um pouco mais agora...

O imenso peixe deslocava-se silenciosamente pelo mar noturno, impulsionado por movimentos curtos do rabo em forma de crescente...”
Assim começa esse clássico thriller de Peter Benchley,  com o qual quase todo mundo já teve contato mais provavelmente graças ao filme do Spielberg.


A propósito, pelo que leio e ouço parece-me que o dito cujo seja mesmo um dos animais que exercem maior fascínio sobre a galera, talvez por ser o único remanescente da época dos dinossauros ou por ser uma espécie de leão da água, o rei dos oceanos, mas muito provavelmente também por esse seu destaque literário-cinematográfico.



Com essa incursão do peixe pelas artes, por exemplo, aprendemos que o Tubarão Branco não é branco, é na realidade cinza-escuro em cima, e recebe esse nome pela sua parte de baixo, a sua barrigona, essa sim alva como um belo fantasma.
 

E que ele é descendente do jurássico Megalodon, uma locomotiva cheia de dentes, graças a Deus (que me perdoem a Mãe Natureza e os biólogos por esse graças a Deus) já extinta, que fazia o grande branco parecer uma sardinha.
 
As principais diferenças entre as duas obras: no livro (SPOILER! SPOILER! SPOILER! Para quem ainda não sabe, SPOILER é o ato fdp de entregar o ouro, contando partes importantes ou mesmo o final de uma obra), Hooper traçava a mulher de Brody ou o xerife achava que ele traçava, não lembro bem e obviamente não me prestei a reler o livro para tirar essa dúvida. De qualquer forma, tem aquele clima tenso entre eles, que não tem no filme, ao menos não por esse motivo.
 
Mas não se preocupem, que Hooper paga caro por isso. Sim. E o xerife nem precisa fazer nada (SPOILERERAÇO!): quando resolve dar uma de espertinho naquela sua gaiola embaixo d´água, nosso amigo peixe destrói o negócio, tal qual no cinema, à diferença que na obra de Benchley, o biólogo não vai se esconder numas rochas lá no fundo e sim na bocarra do bichão.

Por fim, o destino do tubarão no livro, embora tão definitivo quanto na película, é mais ameno, por assim dizer: quando se aproximava do indefeso Brody no que restava do barco inundado, supostamente para dar o bote final, o bicho simplesmente para e afunda, morto pelo desgaste da porradaria protagonizada entre eles, ao contrário da hollywoodiana explosão do peixe na tela.
 
Enfim... vale dizer que, sim, foi Spielberg quem o materializou aos nossos olhos (e Williams aos nossos ouvidos, com aquela tensa trilha crescente), mas é justo dar os devidos créditos a Peter Benchley, pela mente criadora desse terror, que fez muita gente não só pensar mil vezes antes de se banhar nas águas de algum oceano, como ficar ressabiada até mesmo de entrar, por exemplo, numa reles piscina (sim, sei de gente que tinha esse medo irracional, ficando atucanada inclusive nas águas calmas do clube, pois chegavam quase a visualizar às vezes um enorme branco chegando e atacando do nada no meio da piscina)!
 
Mas deixando de lado essa fobia extrema (e a piscina lá no texto anterior do Juliano), só nos resta então agradecer...
Obrigado, Mr. Benchey...  obrigado por estragar para sempre a tranquilidade de nossos banhos de mar!!
 

sábado, 7 de dezembro de 2013

Água de piscina (por Juliano Lanius)



            Fui sócio de um clube recreativo, em certa época da minha vida. Os finais de semana e os períodos de férias escolares eram preenchidos com idas regulares ao clube. Neste tempo, eu deveria estar entre os 8 e 9 anos de idade. Portanto, a piscina e os tobogãs que me faziam cair dentro dela eram a atração principal. Ficava horas dentro d’água, e saía com os dedos dos pés e das mãos murchos e a boca roxa. Mas, sempre reclamava quando minha mãe avisava a hora de ir embora. Hoje, percebo desinteresse dos jovens em aproveitar os espaços e as atividades que os clubes oferecem e que são cada vez mais diversificados.

            Uma jovem de seus 14 anos, aproximadamente – idade em que o clube é o lugar das festas, das pegações, das tardes de piscina e esportes e do encontro com os amigos –, relatou-me que não tem muita disposição para ir ao clube do qual é sócia. O argumento usado por ela foi que quase não há espaço para tanta gente nas piscinas e nas dependências do clube. Mesmo com os dias de calor, sua preferência é ficar em casa, no ar-condicionado e no conforto de seu sofá. Nem mesmo a piscina com ondas lhe chama a atenção. E, pensando bem, não deve ter a menor graça mesmo entrar em uma piscina e não poder nem ao menos dar algumas braçadas. Sabe quando “deitamos” de costas na água e nos deixamos boiar e nos levar conforme as turbulências da piscina? É impossível de se fazer isso com a piscina lotada. Corre-se o risco, inclusive, de provocar o que podemos chamar de “embundamento”. Nunca sabemos se um desatento irá cruzar em frente ao tobogã quando estamos prestes a cair na água. E também podemos ser “embundados” quando esquecemos que, no final do tobogã, tem sempre alguém chegando.

            Nos meus tempos de clube, o acesso a este tipo de entretenimento era um tanto quanto restrito. Somente me tornei sócio porque era dependente do meu padrasto na época. Porém, nos dias atuais, as mensalidades estão mais em conta, e existem planos diversos para os mais diversos públicos. Estudantes pagam menos. Idosos pagam menos. Crianças abaixo de certa idade pagam menos. Casais pagam menos. Ou seja, com este turbilhão de descontos, todos querem o seu lugar ao sol. E dentro da piscina, também. Acho ótima a ideia dos clubes abarcarem todas as acamadas sociais em suas instalações, mas que se preparem para o superpovoamento e façam as adequações necessárias para satisfazer a todos.

            Uma característica do clube onde eu era sócio que me chamava a atenção era o fato de a piscina das crianças ter a água menos fria do que a dos adultos. Em minha ingenuidade, pensava que o motivo de tal fenômeno era o volume de água da piscina das crianças, que era bem menor do que a piscina dos grandes. Contudo, passados os anos e algumas visitações esporádicas a outros clubes, me dei por conta de que não era a quantidade de água que influenciava em sua temperatura, e sim o xixi que, nós crianças, fazíamos dentro da piscina. E que sensação maravilhosa. Aquele líquido quentinho nos escorrendo pelos calções e misturando-se a água cristalina da piscina era um deleite. Ainda mais quando o dia estava nublado e a água mais fria, aí então as terminações sensitivas de temperatura do meu corpo arrepiavam-se de prazer.

            Sinto falta dos tempos de clube, dos amigos, do tempo ocioso que passávamos curtindo a piscina, os tobogãs e todo o aparato do lugar. Nestes dias de calor, sinto falta do frescor da água cristalina. E, nos dias de frio, sinto falta das calorosas guloseimas que me aqueciam o estômago. Porém, concordo com a jovem que prefere ficar em casa. Se não podemos nadar, boiar e nos saracotear, que graça tem a piscina? Se não podemos escorregar, que graça tem os tobogãs? Pelo menos, a piscina menor continua quentinha.