domingo, 7 de outubro de 2018

"A Profecia: Esquecendo a lição de Optimus Prime, Marco Véio rumo ao Planalto..." (ou "Só a Arte salva") (por Diego T. Hahn)


Cara, o que eu queria dizer é mais ou menos o seguinte: eu posso não ser um mito, ok... maaass... ando nuns delírios de ser mesmo uma espécie de profeta (bem, como o nosso país é talvez o mais democrático do mundo – aparentemente qualquer um pode ser presidente, independentemente dos delírios – , por que não já começar a pensar em um corrida ao Planalto baseado então nesse meu novo status??...)

O caso é que há alguns (3?4?...) anos, logo após a explosão da revolução pós-pós-pós-digital, com a proliferação dos smartphones que curiosamente geraram não uma maravilhosa onda de informação como seria de se supor (meio que utopicamente, agora vejo, é verdade...) mas sim primeiramente uma insuportável onda de popularização dos tais dos memes, que pipocavam (e continuam pipocando) pra lá e pra cá, eu (que não tinha – e, acredite, continuo não tendo – face ou mesmo o tal do uáts) olhava para a galera em alguns encontros, churrascos, ou simplesmente no dia a dia, e observava – fora a brincadeira inicial do “profeta”, não queria dar uma de visionário às avessas, mas há coisas que só você olhando de fora para entender - cada um no seu aparelhinho, dando risadinhas e se cutucando e mandando uns para os outros os videozinhos e imagens engraçadas durante duas horas seguidas – e me mostravam e eu às vezes até me esforçava, para não parecer tão "dissonante", mas em geral não conseguia entender qual era a graça daquelas piadinhas toscas ou daquelas imagens bizarras (em sua maioria, coisas nada inéditas, ou no máximo um pouco curiosas às vezes, vá lá, mas que haviam por algum motivo atingido uma aura, um status pop... Lembra, por exemplo, do Marco Véio? Um dos involuntários “precursores” dessa nova onda descerebrada – e, diabos, era um tal de taca le pau pra cá, taca le pau pra lá, taca le pau pra todo lado!... e eu só ia abaixando a cabeça, procurando não ser atingido... fazer o quê?).

Ah, mas que sujeito chato sou eu também, que não acha nada engraçado, praia, macaco, tobogã, Marco Véio, eu acho tudo isso um saco, admito!...

Mas, cara, seja como for, noves fora minha chatice em termos de humor, já ali senti que havia algo muito errado em curso aqui por estas nossas bandas. Sim, era possível se perceber que uma burrificação em massa estava em franco processo na nossa sociedade tupiniquim moderna. De alguma forma, a tecnologia, que havia avançado inacreditavelmente, possibilitando fantásticas alternativas de crescimento em termos de informação e comunicação, estava de alguma forma gerando uma terrível involução cognitiva (ou seja, os telefones estavam mesmo mais inteligentes – mas nós, cada vez mais burros...). Mas havia também algo mais (começo aqui ligeiramente então também meus delírios "sociológicos"): não era para eles a questão puramente da graça do meme em si; mas uma certa sensação de "pertencimento" também: o não sentir-se sozinho neste mundo; o fazer parte de um "time" - nem que seja o time dos memes...

Agora devo dizer – se você ainda não tinha sacado –, prepare-se: meio através de “metáforas”, mas este texto é sim sobre política.

Porque tenho a teoria que ali foi o começo de tudo - ou, o começo do fim... (da picada?...)

Eeee... corta!

 Bem, já que estou sendo deveras pretensioso com minhas teses, vamos agora a uma singela análise sociológica do brasilian (supostamentis) sapiens – ou seja, eu, tu, ele(não?)/ela, nós, vós, eles/elas... Por que não? (Isto é, por que não além do fato de eu não ter um diploma de sociologia? Bobagem... Já que todo mundo – ou ao menos todo o mundo facebookiano – atualmente é especialista em tudo, por que também não eu, pô? Só porque não rezo também para o Deus Zuckerberg? Rá! Vocês – quatro ou cinco leitores deste blog – vão ter que me engolir do mesmo jeito!...)

Pois bem... a tese, lá vai (ok, se quiser passar para uma parte mais “divertida”, e “metafórica”, pode pular para 4 parágrafos adiante!):

O caso é que o brasileiro, independente da classe social (e mesmo, caramba, do grau de instrução – inclusive, de acordo com pesquisa feita pelo instituto britânico Ipsos Mori, o brasileiro é o segundo povo no mundo (perdendo só para o sul-africano) com a visão mais distorcida da própria realidade... bem, a proliferação das famigeradas fake news, mesmo entre gente facebookiana/uatsápiana teoricamente instruída, só corrobora isso, não é mesmo?), parece transitar entre a falta de "cultura" e o medo, o que acaba gerando uma espécie de hipocrisia crônica nesse nosso povo – e, claro, diferente do que muitos pensam, uma gente em termos gerais deveras preconceituosa/egoísta.

Falta de cultura, pois educação, de melhor ou pior qualidade, até é oferecida em nosso país, todo mundo teoricamente tem acesso a ela, mas a questão é que percebe-se que mesmo aqueles que têm o acesso à melhor não conseguem dar “o salto” que só a reflexão verdadeira (através da famigerada "cultura" – o pensar de formas diferentes...), é capaz de permitir (então, se você engole todas as bobagens que lhe repassam no facebook e no uatsáp, sinto muito, mas não adianta nada sua formação superior, sua pós, seu mestrado, seu doutorado... você é instruído, mas burro).

E o medo é o medo mais primordial, da violência, sim, mas também o medo de parecer fraco, medo de admitir-se fraco (medo de admitir a fraqueza de não saber determinado assunto, por exemplo, que talvez seja o mais pertinente nesta avaliação... melhor ter certeza de tudo, não é mesmo, ainda que possa não ser a verdade verdadeira?), mascarando-o portanto com agressividade, ou seja, com mais violência, ou ainda, procurando "virar o jogo" não com argumentos mas com a sua tradicional "ginga" e "malemolência", com sarcasmo, ironia, através da  velha e boa malandragem (criticada mas, paradoxalmente, ao mesmo tempo, de certa forma, cultuada em nosso país – afinal, quem prefere, por exemplo, no dia a dia a convivência com o chato certinho ao invés do charmoso cara comunicativo e engraçado, ainda que este resvale um pouquinho para o “lado negro da força”?) e do politicamente incorreto, que, pois bem, é exatamente mais engraçado – e másculo!

Pois a propósito de chato certinho – e agora pulando diretamente para a área das “artes” – , lembro de uma história em quadrinhos da minha infância, dos Transformers, em que o Optimus Prime, chefe dos “mocinhos”, disputava com Megatron, líder dos malvadões, uma partida de uma espécie de videogame, era uma realidade virtual na qual os avatares dos dois se enfrentavam para decidir a guerra entre autobots e decepticons (para evitar mais destruição e mortes), e Optimus vencia Megatron, que devia então ser destruído na vida real com o simples apertar de um botão. Mas então, para surpresa de todos, Optimus diz que não pode ser assim pois trapaceou, pois puxou uma espécie de cano naquela realidade virtual, fazendo cair no abismo e morrer uma porção de pequenos seres que viviam ali... para incredulidade dos seus próprios comandados – e minha também, óbvio – Optimus dizia que ele é que devia ser destruído por ter matado aquelas criaturas que não existiam na realidade, e Megatron seguiria em frente, forte, belo e mau. Meio burrico, pragmaticamente falando, me parecia, mas, ao mesmo tempo, exemplo máximo de lisura e cavalheirismo que já vi, ao menos na ficção, e, bem, ainda que nem perto disso – furo sinal vermelho de madrugada, com a justificativa de não dar mole pra violência, colei muito durante os anos de estudante, já menti pra caramba nessa vida, ainda que sob a justificativa de “mentiras sinceras” etc – procurei de uma forma ou outra nortear ética e moralmente minha vida a partir de então de acordo com o mais próximo possível daquela lição de Optimus Prime.

E, buscando esse exemplo do líder dos Autobots, procuro sempre questionar carinhas que vêm com enfáticas opiniões, no mínimo polêmicas, mas supostamente engraçadas ou revolucionárias (ao menos nas cabeças deles...), se seriam eles capazes de defender essas ideias, que defendem ali no churrasco ou no futebol em meio aos outros carinhas (acredito que mais procurando reforçar a “moral” deles do que propriamente emitir uma opinião realmente sincera sobre o assunto), em um microfone, em um auditório diante de um público variado e desconhecido? E, talvez o principal, o fariam, defenderiam essas ideias, para um filho pequeno deles?...

Mas, com licença, a propósito de artes e voltando à tese, só que pulando dos quadrinhos para o cinema, o brasileiro mostra então toda sua hipocrisia mesmo, esta forjada sem que ele se dê conta através do medo e da falta de cultura, quando se sensibiliza por exemplo em situações bem retratadas na telona ou na telinha – diante do sofrimento de certas minorias, por exemplo (e nem vou adentrar na temática da Segunda Guerra aqui, para não "ferir sentimentos"...); o brasileiro emociona-se com filmes como “Dança com Lobos” e “A Missão”, mas, curiosamente, ignora, ou relativiza a questão, quando HOJE, na vida REAL, certos indivíduos que estão no poder ou marchando rumo a ele no país demonstram total desrespeito, por exemplo, pelos povos indígenas, e por outros grupos em situação de vulnerabilidade - sinto muito, mas não consigo evitar: minha "formação" obtida através da ficção também não me permite jamais voltar-me contra os "fracos e oprimidos"... (não, também não quero fazer o papel, mas, bem, talvez o que nos falte seja mesmo um Kevin Costner “vira-casaca” no que resta de nossas aldeias, não é mesmo?...)

Mas por falar em filmes, algo na atual situação do nosso país também me remete ao penúltimo Star Wars, o tal Despertar da Força... caramba, depois de tudo aquilo que passamos, com a vitória final dos rebeldes sobre o Império em O Retorno de Jedi, 30 anos depois (!) há uma sombria Primeira Ordem, querendo reimplementar aquele regime, com tudo o que se passou parecendo ter sido esquecido! (hey, criaturas facebookianas, assim como eu não quero acabar num calabouço por escrever textos como esse aqui, vocês também não querem levar porrada após terem seus textões debulhados por uns tiozinhos mal-humorados num porão, né? Não é 13, nem 17; é 2018, porra!!)... – o problema aqui, no entanto, é o risco de um desses grupos se apossar da ideia de que, tal qual naquele filme, seu messiânico Luke Skywalker também está “isolado” e sem nada poder fazer no momento (portanto, perdão, George Lucas! – Deixemos as guerras lá nas estrelas, já que temos a nossa própria aqui, entre elas...)

Pois ainda no terreno da ficção científica – agora me empolguei! – , às vezes sinto nos últimos dias também  inacreditavelmente estar vivendo um daqueles sombrios futuros alternativos de alguns filmes, como “Efeito Borboleta”, ou “De volta para o Futuro 2” (caramba, nossa mãe está prestes a casar com o imbecil do Biff, cara!! Vocês tão entendendo isso???)...

Seguindo em frente nas citações cinéfilas, para finalmente chegar na minha “profecia” (não comigo, mas pode também fazer a relação com o anticristo do filme de mesmo nome aí com o seu adversário político, seja ele qual for... tá valendo – já que já se joga, por exemplo, o nazismo/fascismo de um lado pro outro mesmo, com direito inclusive a contestações de brazucas a contextualização feita institucionalmente pelo governo da própria Alemanha, veja você!): há um tempo atrás, pensando nesse medo de se falar a verdade e de se falar sobre coisas realmente importantes, refletir realmente sobre elas, mascarando isso através do “humor” que me parecia proliferar como uma peste com os tais memes pela internet, cheguei a escrever, falando sobre a “burrificação” que vinha acontecendo através da tecnologia, que me parecia que haviam dado ferramentas poderosíssimas a primatas, parecia o monólito diante dos homens-macacos (ver Kubrick)... como dito antes, a tecnologia evoluindo absurdamente, a comunicação teoricamente sendo facilitada como jamais imaginado, mas cognitivamente o brasileiro involuindo abruptamente... e foi, e foi, e foi... até que uma geração cresceu, foi forjada, através da linguagem que prima nessas novas tecnologias, através especialmente do humor desses memes, que virou o norte deles – como talvez a lição do Líder Optimus tenha sido um dia para mim... assim, eles baseiam-se a respeito do que realmente importa através do que é simplesmente mais engraçado, cool, do que está em voga na rede, de quem faz mais barulho, ou até mesmo simples e masculamente politicamente incorreto... isso dá até votos, veja bem. Você não precisa de uma plataforma de governo. Você não precisa de propostas. Você não precisa sequer saber falar. Você pode dar simplesmente declarações “engraçadas” (ou “diferentes de tudo que está aí”) – batendo em minorias, que seja... Você tem que gerar “memes”. Você tem que “mitar”, como eles dizem hoje em dia. Só assim você chegará ao coração deles.

Artes? Para quê? Ler? Quem lê hoje em dia? Notícias, jornais? Para que, se tem o face e o uáts para nos dar as últimas e mais importantes da nossa bolha – e, especialmente, saciar nossa sede de pertencimento e homogeneidade – ?...

Então, aonde chegamos? A uma disputa entre uma Gang 90 e as Absurdettes (e me parece que estamos mesmo fadados a ficar “perdidos na selva...” aqui por estes nossos pagos) que a meu ver nem deveria estar participando dela – talvez devesse estar se refundando, ensaiando mais, corrigindo as distorções dos acordes dos últimos shows, talvez até mesmo mudando o nome da banda, enfim, revendo conceitos musicais etc – e um Exército de um Homem Só (mil perdões, caro Scliar, por essa associação! Mas sei que neste caso posso contar ao menos com o seu senso de ironia...), com a diferença que o Capitão (!) Birobidjan (além de ser um fiel e revolucionário seguidor dos preceitos do velho Marx, claro), após seus lunáticos discursos, recebia o aplauso entusiasmado tão somente de pequenos homenzinhos imaginários... e não, como acontece insanamente com esse “nosso” atual, inacreditavelmente ovação de um grande número de gente de verdade!

A "solução", para mim? Ainda que não o melhor dos mundos, pareceria-me bem óbvia (embora provavelmente tarde...): procurar algum caminho pelo meio – e, no fim das contas, o principal, o que nos resta, seguir nosso caminho de evolução através – além claro do básico estudo e informação, filtrada, ponderada – das artes (leitura, cinema, teatro...), buscando novas ideias ou adaptar/refrescar nossas novas velhas ideias.

Mas, como aparentemente a nova arte realmente valorizada em nossos tempos é o meme... fazer o quê, pode seguir tacando le pau, Marco Véio, se quiser – só, por favor, não pros meus lados, ok, amigão??...