terça-feira, 18 de novembro de 2014

"Vento sul" e "Vigia" (por Guto Dauber)


E esta semana, outra participação especial no blog: desta vez do camarada poeta, músico e filósofo de bar Guto Dauber - também conhecido como Master Saviux - com dois de seus poemas, que jaziam egoisticamente arquivados numa gaveta qualquer por aí...


Vento Sul
 
Venho não se sabe bem de onde
Vejo o universo no horizonte
Fujo da sombra que assombra o homem
E a dor
 
Venho não se sabe bem de ontem
Vejo o que se sabe sobre hoje
Vento que assopra a vida e esconde
A dor
 
Vales de vento e de sombra, será?
Que em outros lugares o vento espera
 
Talvez de seus olhos me vejam
Nos turvos de uma fagulha
Barulhos de vidas passadas
Relatos de noites escuras
 
 
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Vigia
 
De vigília te vigio
Na noite turva
Do sono profundo
Te espero pra ontem
Te guardo memória
Da noite de outros dias
Vergonhas de fora
Vontade eu tenho
Coragem, meu bem,
Porém...

 
 
 

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Recuos e avanços (por Celina Fleig Mayer)


Em mais uma participação especial no "De Letra", temos a honra de apresentar esta mordaz crônica nos enviada pela amiga e ilustre escritora, integrante da Academia Santa-Mariense de Letras, Celina Fleig Mayer:

                O casamento é uma espécie de sociedade “mista” em que seus componentes precisam fazer concessões... Quando as coisas – essa palavrinha é muito abrangente, então diremos, quando a relação não vai muito bem, é preciso marcar uma reunião. Geralmente as pessoas chamam isso de “discutir a relação”, mas não é bem assim, até porque já começar com discussão pode levar a rupturas. Reunião é melhor, e ela, para um casal, pode surgir “do nada”, de uma paisagem, de um gramado cheio de orvalho, qualquer acontecimento. Aliás, fatos novos sempre ensejam uma “reunião”, sejam eles proporcionados por amigos, parentes ou entre o casal. Nasceu o filho, a mulher anda tresnoitada e resmungona? Reunião presidida pelo excelentíssimo “sócio” que está de cabeça fria. E, especialmente, deve se mostrar cheio de compreensão e amor para dar. Isso rende juros e “correção” de comportamento.

            Dia desses recebi um emeil de um amigo que dizia nos invejar, marido e eu, porque íamos para a praia, por uns dez dias, quase mensalmente. Menos, lógico, naqueles meses bem frios, porque os pisos  dos apartamentos de praia dão uma sensação térmica além da realidade. Aí ficamos aqui sobre o piso de madeira, aconchegados junto a lareira. Mas, voltando à “santa inveja” do amigo, que ele é uma pessoa muito legal, se explicava que a Madalena dele não gostava de praia.  Desde o começo dos tempos, isto é, da longa união de mais de 30 anos. Faltou um acordo inicial para resolver essa pendenga,tipo: “Como assim, Madá? Que é que tem de ruim na praia? Vai ver que nunca gostaste por causa da companhia, vindo comigo vai ser diferente. Prometo! A gente fica lá, longe desse calorão, guarda-sol armado  junto ao mar, aquela brisa”...Acredito que agora, já é um tanto tarde, a mulher não terá vontade de exibir  curvas passadas e perdidas, por pior que seja o verão na sua cidade. Não vai se deixar convencer. Essa reunião nem deve acontecer mais, por falta de quorum...

Tão acostumada ela a ser do contra que, na ocasião de comemorarem com os ex-colegas do marido o aniversário de 35 anos de formatura da Faculdade, onde ele estudou, o cara chegou sem sua Madalena. Todo mundo compareceu acompanhado da antiga ou da atual consorte. E aí? Perguntavam. Estás viúvo? Ele explicou que a Madá não gostava de viajar...

            Constatei, então, o quanto um casamento pode amofinar uma pessoa, abafar até, se ela não tenta um acordo em tempo hábil, bem no início das primeiras “manifestações” contrárias da outra parte. Esse amigo devia vir informando suas vontades, negociando suas preferências para caberem nos contras da parte da mulher. Cedendo aqui, avançando ali. Fico imaginando como deve ser a “função” de mesa e cama, (ou o inverso), desse casal. Ele amanhece “todo-todo”, e ela vai ficando uma “arara”, só repetindo: “para com isso, homem!” No mínimo, a Madalena é daquelas mulheres que sofre de dor de cabeça persistente...

            Um autor, numa crônica inspirada, escreveu uma frase genial: “Os casamentos longos acontecem muito mais pelos recuos do que pelos avanços...” Pelo jeito, a mulher do meu amigo tem se aproveitado muito dos recuos dele. E, enquanto os dois vêm avançando em idade, ela vai aumentando seu território.a de campo.u territdade  Não sei o que é que vai sobrar, no fim de contas, para o pobre...


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Terror (por Diego T. Hahn)


Bom, passado o período de (intensas) campanhas e todo o (feroz) debate político gerado pelas mesmas, e, na sequência, a famigerada eleição, com seus resultados, que geraram mais (feroz) debate político, o que me veio à cabeça e fiquei aqui a matutar intrigado nos últimos dias foi o seguinte:


Por que será que no Brasil o Jason é mais conhecido que o Michael Myers?


Pra quem não sabe, o Jason Voorhees é o personagem principal da série cinematográfica Sexta-Feira 13. Aquele, da máscara de hóquei branca, com uns furinhos. 

                                                      "Prazer. Jason."


O Myers é o da série Halloween. O da máscara de monstro, também branca.

                                                   "Myers. Michael Myers."


Ambos, psicopatas, vivos-mortos, cujos filmes originais tiveram várias sequências (Sexta-Feira 13, acho que mais de 10 - seriam 12?... Halloween, creio que umas sete ou oito - não sei, não me prestei a abrir o google aqui e pesquisar, gosto mais de escrever essas coisas assim, alicerçado só no apoio da memória Hahn - embora não tão confiável, é mais divertido). 


Pois quem no Brasil não sabe quem é o Jason?


Todo mundo conhece o Jason!


O Jason virou apelido até de uma daquelas sandálias com uns furinhos e tal, pela semelhança com a sua máscara... 


Mas por que o Michael Myers não é tão conhecido assim por aqui?

Pergunta por aí: poucos sabem quem é.
 
Me arriscaria a dizer que, entre o público com um mínimo conhecimento cinéfilo, algo em torno de 70% das pessoas sabem quem é o Jason, mas esse percentual deve cair pela metade, se não menos, em se tratando do Myers.
 
O fato é que o Myers me parece mais "cult", enquanto o Jason, mais "pop".


E por quê?


Como disse antes, ambos são psicopatas, quietões, caminham devagar enquanto perseguem suas vítimas antes de trucidá-las...


Será que é por que o Jason andou distribuindo bolsa-família? Não creio. Jason não tem nada de família. Na verdade, ele odeia famílias. Ele as destrói. Myers também - na verdade mais ainda: sua meta principal desde sempre é matar a própria irmã, por exemplo.
 


Será o marqueteiro do Jason melhor que o do Myers?


 
Será a máscara, mais legal?
 
 
 Será que é porque a gente se "identifica" mais com a Sexta-Feira 13, que vez em quando temos por aqui, e menos com o Halloween, que vemos talvez como um evento meio "artificial", puramente norte-americanizado?


Não sei.

Pode ser tudo isso e muito mais, mas também pode ser que não seja nada disso e - mesmo tendo-se em conta que independente de qual dos dois você escolha colocar pra rodar, provavelmente ele vai te apavorar com eficiência, fazendo mais ou menos tantos estragos na sua telinha quanto o outro faria - a resposta seja bem simples:


Talvez o pessoal simplesmente não vá com a cara do Michael Myers. 
 


(Sim, eu aproveitei para este texto o momento das tais das eleições, aproveitei igualmente a data do Halloween que foi esses dias, e, sim, deve ter também alguma espécie de metáfora, alegoria, ou coisa que o valha aí... ou não!)