segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

UFC MMA MMS YMCA (por Diego T. Hahn)


(Em homenagem ao retorno do Anderson Silva - lembra dele? Aquele da propaganda de seguro... - ao batente - e batente talvez seja mesmo o termo mais adequado para designar o ofício em questão - no próximo sábado, não poderíamos deixar de reprisar esta adorável crônica, publicada originalmente no "De Letra" - com alguns tons premonitórios, ou não!? - em 16 de julho de 2013, após a derrota do lutador - a primeira das duas contra o americano aquele - na defesa do cinturão)

Pra começar, confesso que nunca entendi bem esse esquema dessas siglas todas aí, quais as diferenças entre elas, se são categorias diversas ou se são todas a mesma coisa (dizem as más línguas que MMA, por exemplo, é a abreviatura de Muito Macho Agarrado, ou algo assim... não sei, não me prestei a ir pesquisar, mas creio que seja só intriga da oposição).
Mas, enfim... por falar em intriga, o que me intriga mesmo é todo esse fascínio que as tais lutas livres (ou como quer que se chamem) passaram a exercer no público nos últimos tempos.
 

Acho curioso, por exemplo, esse “surto” de artistas que viraram fãs do “esporte”  (por “coincidência”, quase todos vinculados – em bom português, têm contrato  – à rede que transmite as lutas por aqui)...


Acho engraçado também pessoas que antes condenavam, digamos, o boxe, pela sua violência agora terem virado igualmente fãs ardorosos dessa nova modalidade de combate.
Ah, e por falar em boxe: para garantir a integridade física, por assim dizer, dos lutadores, seja do boxe, como também das artes marciais, sempre foi exigido um mínimo de equipamentos de proteção, como luvas, capacetes, peiteiras, saqueiras (aqueles protetores anti-vasectomia traumática), etc...
E por que cargas d´água nos MMAS da vida não há esse cuidado e permite-se que os caras se arrebentem a pau sem proteção alguma?? (Cadê a Polícia Civil? A Federal? Direitos Humanos? ONU?? OTAN? ANVISA???)
Huuuuummm... aaaaaahh, sim... aham... percebo, percebo...
Olha, também assisto vez em quando, quando tô meio à toa na vida, mas a verdade é que sou um hipócrita assumido: não curto. O que me faz ver provavelmente é aquela curiosidade pelo grotesco, que nos faz seguir vendo um filme trash ou até mesmo algum reality show da vida... mas não curto. Por dois motivos principais:
Primeiro porque na realidade a maior parte do tempo da luta acho o negócio um tanto quanto chato... muita ensebação, como costumamos dizer por aqui: rola pra um lado, rola pro outro, se agarra, se solta, se agarra, se solta, rola pra um lado, rola pro outro... e nada.
E segundo, ainda que contraditoriamente em relação ao primeiro motivo, porque quando não estão naquele rala-e-rola sem graça, ao mesmo tempo não consigo compactuar com aquela porradaria extrema ali, caras com a cara arrebentada, sangue jorrando pra todo lado, e tudo aquilo exposto como algo “legal”, como só mais uma modalidade esportiva, pra todo mundo ver na tv, com patrocínios, propaganda, cachorro-quente, pipoca, e tudo...
Aliás, creio que a maioria hoje em dia no fundo continua a se chocar com toda aquela coisa insana ali dentro daquele ringue, mas não admite isso de forma alguma; pelo contrário: jura que acha o máximo!... parece mesmo que admitir que você não goste daquilo possa lhe fazer parecer fraco ou algo assim perante os olhos do resto do mundo...
Não, você tem que babar, gritar, esganar-se, clamando por porrada, por sangue! Isso sim é sinal de força!
Isso sim é sinal de virilidade, de masculinidade! (Ou de feminilidade, conforme o gênero do/da fã)...
Outra coisa interessante: curiosamente também até alguns dias atrás todo mundo babava pelo tal Anderson “Spider” Silva. Agora, dum dia pro outro, só pelo fato de ele ter levado umas bifas na orelha, todo mundo bombardeia o sujeito, chamando-o de arrogante, palhaço, mercenário, vendido, patife, canalha, sem-vergonha, bobo, feio, chato, entre outros tantos impropérios... parece mesmo uma espécie de ciúme:
“Ai, Spider, que óóóódio; beijou a lona e não a mim!...”
Pois vejam só: já eu, que não gostava do cara, agora passei a gostar – talvez exatamente por ele ter perdido. E acho que se é pra existir, tem que haver mesmo um pouco de arte no meio desse troço, um pouco de zoação – como nos velhos e bons telecatchs, por exemplo...
Uma das poucas coisas divertidas, aliás, desse negócio todo, que ao meu ver são as declarações do verdadeiro showman do ramo, o fanfarrão Chael Sonnen, ah!, disso a maioria dos fãs do “esporte” surpreendentemente parecem não gostar, criticam até mesmo, falam em “falta de respeito” e blá blá blá...
Mas isso talvez só seja um sintoma do nosso mundo: as pessoas preferem ver sangue a dar uma boa risada.
Ou levam realmente a sério todo esse circo.
E além do mais, lá vem os teóricos da conspiração de novo: ah, porque o cara entregou, assim como a Espanha entregou pro Brasil na Copa das Confederações e o Brasil pra França na Copa de 98 e...
Tudo bem, eu como um notório teórico das conspirações, respeito as teorias das conspirações alheias, mas essas aí confesso que já me parecem demais.
Uma coisa é dar a cara a tapa, outra a um puta soco que pode te matar.
Se bem que revendo o vídeo do nocaute agora, o Anderson Silva parece forçar bastante mesmo naquela frescura dele e quando ele está no chão o americano meio que “erra” alguns golpes, socando o ar e...

Para, para!! Para, se não eu já acabo me convencendo também!...
Já estou até começando a imaginar um retorno triunfal do Spider, tal qual Rocky Balboa em Rocky 2 diante do Apolo, o Doutrinador, tal qual Superman em Superman 2 diante dos vilões da zona fantasma, tal qual o Grêmio na Segundona diante do Náutico (felizmente não posso citar o meu time como exemplo, pois ele nunca teve um retorno triunfal desses), enfim, um retorno triunfal, reconquistando o cinturão em uma revanche es-pe-ta-cu-lar, épica ,história... afinal, quem não gosta de uma revanche es-pe-ta-cu-lar, épica, história??
Os humildes serão exaltados. E Anderson Silva voltará, depois de humilhado, mais humilde (embora com bem mais grana no bolso) e triunfará.
Anderson Silva é nosso pastor e nada nos faltará.
Porém...
Há teorias também que dão conta que Chris Weidman é um robô, fabricado pela NASA, sob encomenda da CIA, um protótipo de última geração, para botar ordem na casa e manter o imperialismo  ianque em dia. Que porra era essa de um negão do Mercosul mandar no octógono? Já não bastou o “barbudo das Arábia” ter detonado nosso pentágono?
Bom, mas voltando o foco da questão ao nosso estimado público:
E você, cara – sim, você aí, barbado – , não se envergonha, de convidar sua namorada para assistir às duas da madruga de um sábado a dois caras suados só de sunga se agarrando??
Já não bastam os vinte e dois correndo atrás da bola no sábado à tarde?
Até uma infame duma comédia romântica é preferível nesse caso, pô!...
Eu, como disse antes, até assisto também, mas isso se não houver duas moças se agarrando em algum outro canal. Preferência sempre delas, claro. Ladies first.
(Imagem proibida para menores de 18!)
E, para finalizar (tranquilamente, sem chave de braço ou de perna), não querendo dar uma de moralista – embora talvez já dando –, mas quanto a esse papo que as lutas não incentivam a violência, não são um mau exemplo porque é só um esporte e tudo deve ficar ali dentro do ringue e blá blá blá, fica a interrogação:
Se quando é fã de futebol, a gurizadinha mais nova vai pra rua imitar os jogadores chutando uma bola, agora com essa nova geração correndo o risco de virar fã dos MMAs e UFCs da vida, graças a todo esse destaque e propaganda em cima do relativamente novo esporte, vão imitá-los como? Indo para a rua chutar o quê, exatamente?
Enfim, são só conjecturas meio perdidas de mais um sujeito chato que às vezes parece mesmo não achar nada engraçado, macaco, praia, tobogã, UFC, MMA, eu acho tudo isso um saco, mas, bem, é isso, e depois de tudo isso, se você é um lutador esquentadinho e não gostou do que foi escrito aqui, não te faz de rogado, cara: pode vir! Vem! VEM! Vem, que eu encaro a bronca...
Não uso sunga nem pra tomar banho de mar, mas fiz judô no colégio até a faixa azul, porra!!! 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Vista da sacada (por Diogo Couto)

 
E fazendo sua surpreendente estreia na área da poesia aqui no De Letra nosso amigo de fé, irmão camarada, Diogo Couto, vulgo Diogão, piloto aéreo nas horas vagas, quando não está filosofando sobre a vida. Recebemos do nada um dia esse seu maravilhoso texto via e-mail (certamente inspirado pelo que vê lá de cima, mas provavelmente também por um de seus Hemingways ou Kerouacks que carrega invariavelmente embaixo do braço - mesmo quando está pilotando um avião!) dizendo lá nada além do que segue abaixo... ninguém sabe por onde anda a figura hoje em dia (últimas informações, embora um tanto quanto desencontradas, dão conta que pros lados do espaço aéreo goiano... outros dizem, porém, que foi abduzido por jupterianos anfetaminados e indecentes, que o recrutaram com o intuito de fazer experiências sexuais com um espécime terrestre e implantar-lhe um chip em um local do corpo que não podemos mencionar aqui), há tempos o sujeito não dá as caras (dá sinal de vida aí, seu porra!!), mas certamente esse filho da mãe abençoado com uma alma poeticamente conturbada está bem onde estiver e, além de para não escondermos do mundo essa preciosidade abaixo, também para matarmos um pouco da saudade do mesmo, não poderíamos deixar de publicar o que segue:
 
 
Por você eu deixo de ser coruja e viro cotovia
pra assim andar só de dia
por você
 
a temperatura caiu e o céu se encheu de um rubro pastoso
 
 
lânguidas nuvens que quase posso tocar
 
 
cheiro de almíscar e solidão
 
mórbido asfalto
 
 
sereno orvalho
 
secas gramíneas
 
multidões solitárias
 
poeira e fumaça
 
luzes ascendem paralelas, verticais
 
telhas do mais barato barro
 
borracha e carne
 
 
tô te dizendo tudo o que tô vendo
 
rostos cuidadosamente embelezados, inexpressivos
 
às vezes uma tímida lua me espreita pelo buraco da janela cinza de nuvens
 
o que ela quer?
 
 
tô na sacada da poesia e lá embaixo nada e tudo, mescla pastosa de dúvida
 
 
pode ser
 
afinal acho que nada é
 
não tem que haver pontos nem vírgulas,
apenas um rolo de papel higiênico
 
 
cheiro de café e sorriso
 
então pare
 
estático alvoroço
 
 
maravilhoso
 
cool feet
 
longa tarde, ciclo eterno de esperas
 
leve frio, denso ar, agressivo barulho do silêncio
 
 
vira o disco ou a página
ou vira louco,
artista quem sabe um lobo
 
vira lata, vira casaca,
vira o copo
 
 
tô na sacada da poesia
lá embaixo tudo e nada
mescla pastosa de dúvida
 

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Frase da semana (por André Gide)



E pra começar botando 2015:


"Acredite naqueles que buscam a verdade; 

duvide dos que já a encontraram".


(André Gide - 1869 - 1951 -, escritor francês, Nobel de Literatura).