Ou algo assim, sei lá; o
trauma talvez tenha feito com que meu cérebro registrasse alguma palavra da
mensagem de modo diferente, mas a base era mais ou menos essa...
E eu, então ainda muito
inexperiente no mundo cibernético, não havia salvado o tal e-mail enquanto escrevia. Isso foi há uns dez anos atrás e até
hoje, volta e meia, tenho pesadelos com aquela mensagem. “Sua mensagem não pôde
ser enviada...”.
Quarenta e cinco preciosos
minutos da minha vida. “Tente acessar sua caixa...”. Um tempo de uma partida de
futebol. Algumas fantásticas ideias irrepetíveis. Milhões de neurônios guerreiros
que se foram em vão...
Foi um primeiro grande choque, mas
depois fui me acostumando: falta de memória, conexão que cai, não sei o que lá
que não funciona, vírus...
E quem ou o quê, afinal de contas, é
esse tal de Java, pelo amor de Deus?
Seria, a propósito, alguma espécie de
divindade do mundo da informática?
Ao menos, parece nome de deus
indiano... e, enquanto o técnico em computação tenta domar a fera, eu vou
sonhando com o dia no qual voltaremos à era das cavernas: comunicação em inscrições
nas paredes, feitas com pedras, sinais de fumaça... com a clava, me exercito
golpeando um velho monitor de um aparelho então obsoleto e que me traz amargas
lembranças de um tempo no qual eu também golpeava o monitor, mas, ainda que se
com mais raiva, com mais cuidado, meio com medo de quebrar aquele troço ou
deixá-lo com sequelas irreversíveis e assim marchar com uma nota preta que
havia investido nele...
O pessoal ri quando eu digo essas
coisas, mas aí eu pergunto se eles nunca assistiram o filme aquele, “Matrix”, no qual as máquinas passam a
controlar o mundo – e, consequentemente, a gente...
Mas no fim das contas, eu admito que
nos dias de hoje não tem jeito: ele é mesmo imprescindível. Confesso aliás que
passo boa parte do meu dia de frente para ele... essa tal internet te pega de
jeito... tem muita diversão, informação, você acelera contatos, é mais
econômico para fazê-los... e hoje aprendi a salvar os e-mails.
Mas, por via das dúvidas, escrevo
tudo isso em uma velha e boa folha de caderno com uma caneta, enquanto ele,
silencioso, dorme na minha frente no momento, fingindo inofensivo, em sua tela
escura e seu teclado um pouco gasto...
Tento imaginar ele ali sonhando
também com aquela mensagem, “Sua mensagem não pôde ser enviada...”, e tentando
conter o arrependimento apenas para manter sua aparência séria e implacável de
máquina que não pode falhar, como lhe ensinaram quando foi fabricado...
Imagino então o dia em que ele
deixará o orgulho besta de lado e soluçando como uma criança me pedirá
desculpas por todo o transtorno causado e enfim nos tornaremos bons amigos.
Até que um dia voltaremos à era das
cavernas e eu, sem ressentimento algum, o deixarei por ali, sempre ao meu lado, em algum cantinho...
Só para amaciar a clava de vez em
quando.
(Publicado em “Flashbacks de um mentiroso”)
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