domingo, 4 de agosto de 2013

Sua mensagem não pôde ser enviada corretamente (por Diego T. Hahn)

               Tudo começou quando eu acabara de escrever um vasto e-mail no qual havia empregado quarenta e cinco minutos da minha vida e na hora de enviar o mesmo voltou na minha cara aquela fatídica advertência: “Sua mensagem não pôde ser enviada corretamente. Tente acessar sua caixa postal novamente”.

Ou algo assim, sei lá; o trauma talvez tenha feito com que meu cérebro registrasse alguma palavra da mensagem de modo diferente, mas a base era mais ou menos essa...
 
E eu, então ainda muito inexperiente no mundo cibernético, não havia salvado o tal e-mail enquanto escrevia. Isso foi há uns dez anos atrás e até hoje, volta e meia, tenho pesadelos com aquela mensagem. “Sua mensagem não pôde ser enviada...”.
Quarenta e cinco preciosos minutos da minha vida. “Tente acessar sua caixa...”. Um tempo de uma partida de futebol. Algumas fantásticas ideias irrepetíveis. Milhões de neurônios guerreiros que se foram em vão...
Foi um primeiro grande choque, mas depois fui me acostumando: falta de memória, conexão que cai, não sei o que lá que não funciona, vírus...

E quem ou o quê, afinal de contas, é esse tal de Java, pelo amor de Deus?
Seria, a propósito, alguma espécie de divindade do mundo da informática?

Ao menos, parece nome de deus indiano... e, enquanto o técnico em computação tenta domar a fera, eu vou sonhando com o dia no qual voltaremos à era das cavernas: comunicação em inscrições nas paredes, feitas com pedras, sinais de fumaça... com a clava, me exercito golpeando um velho monitor de um aparelho então obsoleto e que me traz amargas lembranças de um tempo no qual eu também golpeava o monitor, mas, ainda que se com mais raiva, com mais cuidado, meio com medo de quebrar aquele troço ou deixá-lo com sequelas irreversíveis e assim marchar com uma nota preta que havia investido nele...



O pessoal ri quando eu digo essas coisas, mas aí eu pergunto se eles nunca assistiram o filme aquele, “Matrix”, no qual as máquinas passam a controlar o mundo – e, consequentemente, a gente...
É, vai brincar com esses negócios! É como aquela piada do capataz grosso da estância que, quando pela primeira vez na vida vê um trem passando, laça o “bicho” e se vai atrás dele sendo arrastado e se quebrando todo. Quando sai do hospital dois meses depois e cruza com uma loja de brinquedos, mete bala num “Ferrorama”, um daqueles trenzinhos elétricos em miniatura, que estava exposto na vitrine, dizendo que “tem que matar quando é pequeno, porque quando cresce é um perigo...”.

Mas no fim das contas, eu admito que nos dias de hoje não tem jeito: ele é mesmo imprescindível. Confesso aliás que passo boa parte do meu dia de frente para ele... essa tal internet te pega de jeito... tem muita diversão, informação, você acelera contatos, é mais econômico para fazê-los... e hoje aprendi a salvar os e-mails.

Mas, por via das dúvidas, escrevo tudo isso em uma velha e boa folha de caderno com uma caneta, enquanto ele, silencioso, dorme na minha frente no momento, fingindo inofensivo, em sua tela escura e seu teclado um pouco gasto...
Tento imaginar ele ali sonhando também com aquela mensagem, “Sua mensagem não pôde ser enviada...”, e tentando conter o arrependimento apenas para manter sua aparência séria e implacável de máquina que não pode falhar, como lhe ensinaram quando foi fabricado...
Imagino então o dia em que ele deixará o orgulho besta de lado e soluçando como uma criança me pedirá desculpas por todo o transtorno causado e enfim nos tornaremos bons amigos.

Até que um dia voltaremos à era das cavernas e eu, sem ressentimento algum, o deixarei por ali, sempre ao meu lado, em algum cantinho...

Só para amaciar a clava de vez em quando.

(Publicado em “Flashbacks de um mentiroso”)

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