terça-feira, 22 de outubro de 2013

Os arcaicos de Barbosa (por Juliano Lanius)

Confesso que fui para casa, naquele dia, depois do trabalho, um tanto quanto indignado. O desfecho dos tais “embargos infringentes”, por alguns momentos, me deixou com um nó no estômago. Ao chegar em casa, liguei a televisão, a fim de ver as considerações finais deste caso. Na tentativa de entender todo o contexto da linguagem utilizada pelos magistrados, deparei-me com duas observações: 1) os ministros do STF não entendem uns o que os outros falam e/ou escrevem, e; 2) as leis, no Brasil, são redigidas para serem passíveis de intervenções interpretativas e embargos diversos.
            O calhamaço de folhas com que lidava o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, demonstrava o desentendimento e a desorganização que, infelizmente, tomou conta de todos os setores públicos do país. As pausas na fala discursiva do presidente demonstraram a nítida desordem entre os integrantes da corte. Os diversos pontos de vista, sobre as mesmas leis, nos mostram que as bases fundamentais que regem o sistema judiciário nacional não se enquadram a todos os cidadãos, e sim àqueles que são julgados conforme as interpretações magistrais. A aceitação ou não dos recursos interpelados pelos advogados dos réus do mensalão se dá a despeito dos resultados matemáticos que o direito sugere. São as convicções pessoais que balizam os votos dos ministros do STF, conforme seus entendimentos sobre determinadas leis, que deveriam ser aplicáveis a todos, sem distinção.
            A equação crime + atenuantes = pena modificou-se para crime + atenuantes + entendimento da lei pelo magistrado=pena e/ou aceitação de recursos. E estes somente servem para protelar a execução de sentenças previamente julgadas. Disse José Dirceu que se, por acaso, for condenado no Brasil, irá recorrer a cortes internacionais. Em um momento em que o país se esforça para se manter como nação independente e moralmente exigente, outros países não devem ter poder de intervenção em assuntos que não lhe competem. O fato de certa pessoa ter ocupado cargo em alto escalão do governo não a privilegia de ter acesso a recursos internacionais. Os crimes foram cometidos dentro do Brasil e contra o Brasil, portanto, as leis que devem reger as condenações devem ser as brasileiras.
            Mas, voltando à linguagem usada nas sessões do Supremo, cada magistrado luta para apropriar-se de termos altamente técnicos, para se fazerem ininteligíveis ao público e aos próprios colegas. Creio que, ao invés de debruçarem-se sobre os autos dos processos penais, os ministros têm seus olhos fixados aos dicionários jurídicos, a fim de serem conhecedores dos mais diversos e desconhecidos palavreados do direito. Chega a um ponto tal que nem mesmo eles – os magistrados – sabem do que estão falando. Então, pedem vênia ao presidente Barbosa, proferem seus votos e continuam a ser considerados os meritocráticos detentores do poder de julgar e condenar.

            Enquanto isso, continuamos às margens, assistindo a tudo de camarote e, o pior, sem entender patavina sobre o que se passa. Com a linguagem arcaica usada nas sessões do Supremo, fica difícil saber realmente o que acontece. Do que adianta as sessões serem transmitidas ao vivo se não as entendemos? Talvez uma tradução simultânea possa ser considerada. Imaginem um cidadão, falando em português e não “juridiquês”, dentro daquele quadradinho no canto da tela. Quem sabe, com essa medida, poderíamos estar um pouco menos “boiando” na história toda, como meros espectadores, e não agentes do processo. Pode ser que, um dia, tudo isto seja diferente. Mas, até lá, continuamos flutuando nas burocracias e trâmites público-administrativos do país, em meios aos arcaicos da corte suprema da nação.

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