quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Quem foi? (por Diego T. Hahn)


- Hmmm!! Hmmmm!!! – geme o sujeito, amarrado à cadeira e amordaçado, remexendo-se de um lado para o outro. Tem um olho roxo e um filete de sangue escorre da sua cabeça. Ele cheira mal. Muito mal.
Por trás, mansamente, vem caminhando um outro sujeito, batendo ameaçadoramente com um punho fechado na palma da outra mão repetidas vezes. Uma moça passa para esse cara uma marreta, que ele colhe e de imediato a usa para golpear o joelho do que está preso à cadeira.
- HHHHHHMMMMMMMMMMMMMMM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- Quem foi? Quem foi? Vai me dizer ou não?? – ele pergunta baixinho, aproximando bem o rosto do outro, que continua com os olhos fechados, como ainda processando a dor daquela pancada. Vem um outro soco na cara, que faz o sujeito cair com cadeira e tudo no chão.
A moça o recolhe e recoloca na posição anterior. O grandão volta à carga e dá um bofete na orelha do sujeito, que começa a chorar.
- Quem foi? Quem foi? – repete a pergunta o verdugo.
A moça chega por trás e despeja um balde com um líquido com um conteúdo indecifrável, com uma cor indistinta, e fedendo muito, sobre a cabeça da vítima, que treme e volta a gemer apavorado. Logo, coberto com aquela gosma, ele tem dificuldade até mesmo de respirar.
O grandão dá umas duas voltas caminhando lenta e calmamente ao redor do coitado, puxa um chicote e estala uma, duas, três vezes nas costas dele.
- HMMMMMMMMMMMMMM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O algoz suspira fundo. Coloca a mão no ombro da colega e fica olhando para o cara na cadeira, quase não conseguindo distinguir seu rosto em meio àquele coquetel de gosma, sangue e lágrimas. Ele puxa um tresoitão da cintura, engatilha o trabuco, volta a se aproximar do outro e, encostando a arma na sua têmpora, pergunta baixinho:
- Quem foi? Quem foi? Me diz. Me diz. – e continua, aumentando o tom, indaga mais duas vezes – Quem  foi??... Hã? HÃ?? Quem foi que passou...
E gritando e tirando na sequência a mordaça da boca do cara, conclui o interrogatório:
 – ... NA POOORRA da ENGENHARIA???????
Ao que vem finalmente a confissão desesperada – FUI EU! FUI EU!! FUI EU!!!!!! – seguida de um gemido e um choro convulsivo baixinho – Fui eeeeeuuuuuuuuu!...  –  e o grandão larga então uma triunfal interjeição do tipo “UH!!” e ergue os dois braços em pose de vitória, ainda empunhando o chicote e a marreta, ao lado da moça que sorri com o balde na mão, sendo saudados com uma estrondosa vibração pelos colegas que acompanhavam tudo agachados em círculo ao redor.
- PRÓXIMOOOO!... PRÓXIMO BIXOOO!!...
 
A produção esclarece que nenhum bixo foi realmente maltratado na construção deste conto (mendigos e indigentes foram utilizados nos trechos mais violentos).
De qualquer maneira, o Ministério da Educação adverte: passar no vestibular às vezes pode ser prejudicial à saúde.
 

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