domingo, 8 de setembro de 2013

Pelos sebos da vida (por Camilla Caetano): "O encantandor: Nabokov e a felicidade" (Lila Azam Zanganeh)


Quem nos dá a honra da "participação especial" no De Letra hoje com esta sua encantadora (com o perdão do trocadilho) resenha é a Camilla Caetano. A Camilla é uma leitora voraz e mantém também um blog de literatura, que é o "Companhia de Papel": http://companhiadepapel.blogspot.com.br/


Mais um livro que arrebata o coração e confirma meu prazer pela leitura: O Encantador - Nabokov e a felicidade (2011), de Lila Azam Zanganeh.
 

Fui hip-no-ti-za-da pelo texto cuja beleza transcende as linhas e parágrafos e conduz a um mergulho em apneia no significado de felicidade. Essa palavra mágica que desponta como ideal de vida de 99% das pessoas e que quando vai embora a saudade no peito ainda mora e é por isso que eu gosto lá de fora onde sei que a falsidade não vigora.

Conheci a jovem escritora franco-iraniana Lila Azam pelo site da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP 2013), que previa sua participação no dia 5 de julho na mesa de debate ´O prazer do texto`.

Entusiástica e estudiosa da obra de Vladimir Nabokov, Lila apresenta um ensaio sobre a felicidade a partir da fusão de biografias (dela e de Nabokov) e ficção. “Tomei a liberdade de misturar os gêneros – o eu torna-se personagem fictício. Cada capítulo do livro apresenta uma ideia de felicidade segundo o autor: a felicidade após a morte, a felicidade na memória, a felicidade no amor, felicidade na natureza, felicidade em palavras”, explica Lila.

Nas histórias e personagens de `Lolita´; `Ada ou Ardor´; e `Fala, memória´ há aquele olhar apurado sobre a vida e a natureza, apto a revelar o belo até mesmo nas pedras do caminho. E é por conta deste olhar que Lila intitula Nabokov como o ´escritor da felicidade`! Ele acreditava firmemente que a natureza daria o dom da felicidade aoobservador cuidadoso (p. 187).

Com autorização do filho (Dmitri Nabokov), O Encantador contém inúmeros trechos pinçados dos livros que citei acima, o que rendeu butterflies in the stomach pra ler Nobokov!! Acredito que a intenção mesma da autora foi desconstruir a criticada abordagem de temas sórdidos e revelar a faceta estilística do escritor, senão enaltecendo sua sensibilidade de colecionador de borboletas. Bons escritos tem um poder que só a inteligência emocional é capaz de captar, porque ressaltam a textura e a luminosidade dos detalhes e favorecem registros de otimismo e esperança que podem escapar à consciência. Daí dizer que leitura é fonte de felicidade. Ou nas palavras de Lila Azam: lemos para reencantar o mundo (p. 18).

Inexoravelmente inspirada por seu ídolo, Lila tem uma linguagem envolvente e faz descrições sinestésicas! Com uma significativa carga de subjetividade, tudo o que sabemos ou sentimos acontece por meio do tato, visão, olfato, paladar e audição, e feliz o escritor que, nesse sentido, aproxima palavras e sensações. Aliás, para Nabokov a grande literatura era uma conquista da linguagem, não das ideias (p. 134). 

Por essas e outras que sorvi com deleite as 296 páginas, formato 15x23, com tradução de José Luiz Passos, Alfaguara. Também não posso deixar de falar do projeto gráfico que contribuiu para meu `encantamento´: além de margens de 3 e 2,5cm pra quem adora tomar notas, a capa da edição brasileira é essa lindeza toda com fundo azul celeste e mariposas technicolor voando de dentro de um livro. É muito amor!

Todos hão de concordar que para cada vivência há textura, cor, cheiro, sabor ou canção apropriada que, a meu ver, são elementos reais e concretos pra construir a dita felicidade!

E talvez a realidade não seja duração. Muito embora seja tentador pensar que sim. (...) O presente é a memória sendo feita. (p. 123).
 

Cada vez que me miras

cada sensación

se proyecta la vida

mariposa technicolor
 

Um beijo bom, Camilla.
 

Um comentário:

  1. Pra rolar uma troca - e porque trocas literárias são as melhores - hoje vou subir a resenha que vc me mandou!! Grande abraço!

    Camilla

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