Quem nos dá a honra da "participação especial" no De Letra hoje com esta sua encantadora (com o perdão do trocadilho) resenha é a Camilla Caetano. A Camilla é uma leitora voraz e mantém também um blog de literatura, que é o "Companhia de Papel": http://companhiadepapel.blogspot.com.br/
Mais
um livro que arrebata o
coração e confirma meu prazer pela leitura: O Encantador - Nabokov e a felicidade (2011), de Lila Azam Zanganeh.
Fui
hip-no-ti-za-da pelo texto cuja beleza transcende as linhas e parágrafos e
conduz a um mergulho em apneia no significado de felicidade. Essa
palavra mágica que desponta como ideal de vida de 99% das pessoas e que quando
vai embora a saudade no peito ainda mora
e é por isso que eu gosto lá de fora onde sei que a falsidade não vigora.
Conheci
a jovem escritora franco-iraniana Lila Azam pelo site da Festa Literária
Internacional de Paraty (FLIP 2013), que previa sua participação no dia 5
de julho na mesa de debate ´O
prazer do texto`.
Entusiástica
e estudiosa da obra de Vladimir Nabokov, Lila apresenta um ensaio sobre a
felicidade a partir da fusão de biografias (dela e de Nabokov) e ficção.
“Tomei a liberdade de
misturar os gêneros – o eu torna-se personagem fictício. Cada capítulo do livro
apresenta uma ideia de felicidade segundo o autor: a felicidade após a morte, a
felicidade na memória, a felicidade no amor, felicidade na natureza, felicidade
em palavras”, explica Lila.
Nas
histórias e personagens de `Lolita´;
`Ada ou Ardor´; e
`Fala, memória´ há aquele olhar apurado sobre a vida e a natureza,
apto a revelar o belo até mesmo nas pedras do caminho. E é por conta deste
olhar que Lila intitula
Nabokov como o ´escritor da felicidade`! Ele acreditava firmemente que a
natureza daria o dom da felicidade aoobservador cuidadoso (p. 187).
Com
autorização do filho (Dmitri Nabokov), O
Encantador contém inúmeros trechos pinçados dos livros que citei
acima, o que rendeu butterflies
in the stomach pra ler Nobokov!! Acredito que a intenção mesma da
autora foi desconstruir a criticada abordagem de temas sórdidos e revelar a
faceta estilística do escritor, senão enaltecendo sua sensibilidade de colecionador
de borboletas. Bons escritos tem um poder que só a inteligência emocional é
capaz de captar, porque ressaltam a textura e a luminosidade dos detalhes e
favorecem registros de otimismo e esperança que podem escapar à consciência.
Daí dizer que leitura é fonte de felicidade. Ou nas palavras de Lila Azam: lemos para reencantar o mundo (p.
18).
Inexoravelmente
inspirada por seu ídolo, Lila tem uma linguagem envolvente e faz descrições
sinestésicas! Com uma significativa carga de subjetividade, tudo o que sabemos
ou sentimos acontece por meio do tato, visão, olfato, paladar e audição, e
feliz o escritor que, nesse sentido, aproxima palavras e sensações. Aliás, para
Nabokov a grande literatura
era uma conquista da linguagem, não das ideias (p. 134).
Por
essas e outras que sorvi com deleite as 296 páginas, formato 15x23, com
tradução de José Luiz Passos, Alfaguara. Também
não posso deixar de falar do projeto gráfico que contribuiu para meu
`encantamento´: além de margens de 3 e 2,5cm pra quem adora tomar notas, a capa
da edição brasileira é essa lindeza toda com fundo azul celeste e mariposas technicolor voando
de dentro de um livro. É muito amor!
Todos hão de concordar que para cada vivência há textura, cor, cheiro, sabor ou canção apropriada que, a meu ver, são elementos reais e concretos pra construir a dita felicidade!
E
talvez a realidade não seja duração. Muito embora seja tentador pensar que sim.
(...) O presente é a memória sendo feita. (p. 123).
Cada
vez que me miras
cada
sensación
se
proyecta la vida
mariposa
technicolor
Um beijo bom, Camilla.
Pra rolar uma troca - e porque trocas literárias são as melhores - hoje vou subir a resenha que vc me mandou!! Grande abraço!
ResponderExcluirCamilla