Por que será?
Para quem
nunca ouviu falar, um breve resumo: a história se passa na Oceania, um dos três
países, junto com Eurásia e Lestásia, que restaram depois de uma grande guerra
mundial e contra os quais Oceania está eternamente em guerra – mudando somente
o inimigo de tempos em tempos; às vezes um, às vezes o outro. Neste país, o
governo controla tudo através do Partido e seu líder supremo, o Big Brother
(Grande Irmão), que não se sabe ao certo se é um símbolo ou um homem de carne e
osso, mas que, definitivamente, está sempre de olho em tudo e todos. E disso
não resta dúvida, pois todas as casas – e todos os recintos em geral – são
monitorados através da teletela,
exatamente uma tela que captura tudo que se faz e fala em qualquer espaço
público ou privado. Faltam mantimentos e comida no país, todo o esforço de
produção vai para incrementar a máquina bélica de Oceania, mas, independente de
tudo, como o Partido controla – ou, pode-se dizer, É – o único meio de comunicação existente e através dele mostra
como a vida está cada vez melhor para o povo e tudo que está sendo feito em seu
benefício e as vitórias recorrentes do exército do país na guerra, o povo ama devotadamente
o Grande Irmão.
Winston, o
protagonista, porém, a um certo ponto, cansado de toda essa farsa e essa
opressão, resolve rebelar-se contra essa dominação.
Sempre se
associou a sociedade controlada descrita na obra ao regime soviético
stalinista, o que sempre pareceu bem óbvio, já que Orwell era um socialista
decepcionado com o regime totalitarista que imperava por aquelas bandas em
tempos de Guerra Fria.
Pois, passado
tanto tempo, caído o Muro de Berlim – e com ele, quase por completo, o
comunismo – , por que "1984" continua tão atual e há sempre aqui e ali uma referência
a ele, quando se fala de algum fato do nosso cotidiano atual? Não será tão
somente para criticar os resquícios do comunismo presentes nos regimes de Cuba
e da Coréia do Norte, será?
Pois, apesar
de focar sua crítica, como dito anteriormente, no regime soviético do final dos
anos 40, Orwell acabou tornando-se também mesmo uma espécie de “profeta” e vemos
sua obra ainda atual e particularmente para este que aqui escreve muitas vezes fica difícil não
visualizar a face do Grande Irmão em algumas bandeiras que tremulam imponentes hoje sobre nosso mundo globalizado - especialmente
depois do vazamento de informações confidenciais da inteligência estadunidense
que dão conta de que o país conta com um intrincado sistema de monitoramento de ligações
telefônicas e comunicação em redes sociais, e-mails, e outras ferramentas, na
internet, planeta afora...
(Como obviamente
o paralelo feito não é de exclusividade aqui do "De Letra", as vendas de "1984" nos dias seguintes ao
vazamento de tal informação aumentaram em mais de 7000% na livraria online Amazon, fazendo o livro passar em um dia do número 12.589 para o 184 no ranking dos mais vendidos do site.)
Ah, isso sem
falar, claro, nos satélites, e seus Google Street Views e Google Earths e tal, a não
nos deixar sumir do mapa... assim, estamos lá, queiramos ou não.
Pois a propósito de queiramos ou não, o mais incrível de tudo talvez seja exatamente isso:
hoje em dia, às vezes até parece mesmo que queremos! - sem nos importarmos nem um pouco ou sequer pensarmos a respeito de eventuais consequências e efeitos colaterais...
Essa outra, por exemplo, pode não ser lá tão óbvia - e até um pouco paranoica, bem sei -, mas flagrei-me também algumas vezes em meio a devaneios imaginando a face imponente do Grande Irmão pairando na nossa velha e boa rede mundial de computadores, especialmente na tela de entrada de algumas redes sociais – como naquela do nosso amigo Facebook particularmente, que pela sua abrangência virou quase uma espécie de império virtual mundial.
O curioso, neste caso, é que esse suposto novo Grande Irmão seria tão sutil e perspicaz que não nos obrigaria a nada: ele conta com a nossa bondade e a nossa espontânea colaboração e nós, por contra própria, expomos tudo – nossos dados pessoais e aqueles de nossos familiares e amigos, nossos rostos, nossos corpos, nossa localização exata neste exato instante; enfim, nossa vida inteira – ali para ele.
Essa outra, por exemplo, pode não ser lá tão óbvia - e até um pouco paranoica, bem sei -, mas flagrei-me também algumas vezes em meio a devaneios imaginando a face imponente do Grande Irmão pairando na nossa velha e boa rede mundial de computadores, especialmente na tela de entrada de algumas redes sociais – como naquela do nosso amigo Facebook particularmente, que pela sua abrangência virou quase uma espécie de império virtual mundial.
O curioso, neste caso, é que esse suposto novo Grande Irmão seria tão sutil e perspicaz que não nos obrigaria a nada: ele conta com a nossa bondade e a nossa espontânea colaboração e nós, por contra própria, expomos tudo – nossos dados pessoais e aqueles de nossos familiares e amigos, nossos rostos, nossos corpos, nossa localização exata neste exato instante; enfim, nossa vida inteira – ali para ele.
E como o
Facebook, por exemplo, foi uma das empresas que cedeu seus dados – ou melhor, o de seus “clientes”, ou
sua “população” – ao governo norte-americano, seria, de certa forma, um “círculo
que se fecha”...
Enfim,
às vezes parece que o Grande Irmão se transformou, se adaptou, se refinou, fez-nos acreditar que é tudo
legal hoje em dia, não há perigo nenhum, é tudo para o nosso bem. Não
precisamos mais levar porrada como levou Winston na ficção de Orwell.
E, como é tudo inofensivo, é tudo pelo nosso bem, o Ministério do Amor continua ali, de prontidão (piada interna).
E, como é tudo inofensivo, é tudo pelo nosso bem, o Ministério do Amor continua ali, de prontidão (piada interna).
Ah, os motes
do Partido, que controlava Oceania, eram:
“Ignorance is strenght, freedom is
slavery, war is peace” (ignorância é força, liberdade é escravidão, guerra
é paz).
Mais alguma
semelhança com a realidade talvez seja mera coincidência, uma fantástica profecia do escritor... ou pura obviedade.
(por Diego T. Hahn)
A respeito do assunto, eu escrevi http://adedeycastro.com/2013/07/08/que-feio-obama/
ResponderExcluirMuito bom seu blog, meu amigo!