segunda-feira, 29 de julho de 2013

Kinder Ovo dos Pampas (por Juliano Lanius)

                                                       
            Quando criança, adoramos ganhar presentes. Qual criança não gosta? Mas o bom mesmo são os momentos que antecedem a abertura e revelação do regalo. Toda aquela expectativa em saber o que se encontra dentro do embrulho nos faz imaginar mil coisas. “Será que é um carrinho? Será que é uma boneca? Se for roupa eu não quero!”
Todos conhecem o chocolate chamado Kinder Ovo, não é? Pois é, este pode ser considerado como o legítimo exemplo de espera angustiante. Muitas vezes, gastamos horrores de dinheiro tentando acertar na compra do Ovo que contém aquele brinquedo que falta à nossa coleção. Na maioria delas, não conseguimos. E, se conseguimos, já não temos mais um terço da mesada concedida por nossos pais. Aí, lá vem outra série de surpresas e somos obrigados a tentar completar mais um grupo de mimos.

Assim também é a fruta chamada caqui. Existe uma lenda que diz existir dentro da semente desta fruta desenhos de talheres, como garfo, faca e colher. Sempre achei esta história meio boba, porém a comprovei abrindo a semente e testemunhando o fato, que muitas vezes é a alegria de crianças, jovens e até adultos que desconhecem a lenda. Que na verdade não é lenda, pois cada semente realmente possui um dos talheres: garfo, faca ou colher. Vêm daí algumas brincadeiras e jogos na tentativa de adivinhar qual utensílio virá na próxima semente. Coisa simples, mas que aguça a curiosidade de pessoas que, sem conhecimento de causa, ousam denominar o caqui de “Kinder Ovo dos Pampas”.
E não deixa de ser autêntico. Como o chocolate, o caqui também possui a forma arredondada. Ambos possuem casca, são comestíveis e têm, em seu interior, surpresas que despertam nosso interesse, como bons curiosos que somos. Esta denominação se deve a uma conversa informal durante o almoço, em que lembranças do tempo de criança sempre vêm à tona. Devíamos registrar este nome e dar os créditos à professora de língua inglesa Gabriela Bueno, cuja surpresa a fez criar um novo produto gaúcho: o “Kinder Ovo dos Pampas”. De repente, até aumentemos o consumo e as exportações da fruta, devido ao desejo indiscreto e intrínseco do ser humano em saber o que há por dentro das coisas e comprovar uma teoria, no caso a dos talheres. Mas, com certeza, devemos pedir aos produtores que repassem à professora Gabriela uma porcentagem das vendas, afinal de contas uma nova marca foi criada.

O caqui é originário da China, sendo também muito consumido no Japão. Porém, o Rio Grande do Sul tem uma forte produção da fruta, justamente pelo clima favorável ao cultivo, pelo solo fértil que possui nosso Estado e pelo fato de possuirmos pessoas curiosas que compram o produto somente para ver se é garfo, faca ou colher. Portanto, podemos sim considerar o caqui como o “Kinder Ovo dos Pampas”, ou “Kinder Ovo nissei”. Contudo, devemos valorizar os produtos que venham da nossa terra, por isso meu voto vai para o primeiro nome.
Graças a Deus estamos em época de alta produção de caqui, pois, com a nova descoberta, é bem provável que a professora provoque a falta da fruta nos supermercados e feiras. Não que ela vá comer todos os caquis, mas certamente ela abrirá todas as sementes no anseio de ver os desenhos dos talheres ou na tentativa de invalidar a história.
Fica aqui um aviso a todas aquelas pessoas que gostam de caqui: corram e façam seus estoques, pois pelo jeito Gabriela vai dar um desfalque na comercialização da fruta. Ainda mais que essa semana é de pagamento, ou seja, com dinheiro no bolso e a novidade da surpresa em voga, haja paciência para desvelar os segredos do “Kinder Ovo dos Pampas”.

 
(Juliano Lanius)

domingo, 28 de julho de 2013

Primeira parcial do projeto crowdfunding "Flashbacks de um mentiroso 2"

Bom, como prometido, aqui vai a primeira parcial do andamento do projeto “Flashbacks de um mentiroso 2”!

(Aos que não têm conhecimento do que se trata: http://deletradj.blogspot.com.br/2013/07/projeto-crowdfunding-flashbacks-de-um.html)

Passado um mês do lançamento do mesmo, já tivemos uma significativa adesão – considerando-se que a brasileirada costuma deixar tudo pra última hora! –  de amigos e patrocinadores, atingindo até o momento cerca de 25% do valor necessário para viabilizar a produção da obra – sem contabilizar aqui as inúmeras “promessas” de colaboração para mais adiante!
A propósito, para esses amigos que prometeram e ainda não efetuaram a colaboração, estamos destinando uma nova cota, especialmente para eles: É a Cota Taco de Beisebol!
Mas como funciona a Cota Taco de Beisebol??
Bem, é mais ou menos assim: um belo dia aparecemos de surpresa na casa ou no trabalho do suposto colaborador eu e um amigo meu, o Tião Quebra Coco, que mede um metro e noventa e dois e é carinhoso e sutil como um trem descarrilado, o Tião de posse de um taco de beisebol, e aí pedimos gentilmente que o novo parceiro - de sua própria iniciativa, é claro - nos repasse toda a importância que se encontrar em sua carteira no momento (em caso de carteira vazia ou do velho migué do "esqueci minha carteira não sei onde...", pegaremos “emprestado” o cartão do banco do amigo, iremos até um caixa eletrônico e faremos um saque no valor de 352 reais, quantia que julgamos justa pelo transtorno nos causado).
Pois lembramos para os amigos que prometeram colaboração e não estão interessados em ser agraciados com a Cota Taco de Beisebol e aos demais amigos que têm interesse em participar do projeto, que o tempo passa, o tempo voa, e faltam apenas dois meses para a conclusão do mesmo!
Efusivos agradecimentos a todos os parceiros que já aderiram ao projeto e desde já também aos que em breve se juntarão - com taco de beisebol ou sem - nessa curiosa aventura literária!
Diego T. Hahn

domingo, 21 de julho de 2013

Em busca do livro perdido: "Sir Richard Francis Burton", de Edward Rice (por Diego T. Hahn)

Esta nova sessão do "De Letra" tem o intuito de promover nossa busca por alguns livros que nos interessam bastante, são difíceis de se achar e dos quais procuramos dicas, se alguém viu algum por aí (e pelos quais estamos dispostos inclusive a negociar – comprando-os, trocando-os por outros livros, ou mesmo aparelhos eletrodomésticos, televisores e coisas do tipo...).

E estreando a mesma, “Sir Richard Francis Burton”, de Edward Rice, obra que tem se mostrado o centro de uma busca frenética e – mesmo procurando-se em bibliotecas, sebos, internet, escavações arqueológicas – uma missão aparentemente impossível!...
Para dar uma breve descrição da obra, trata-se da biografia de Sir Richard Francis Burton...
Ok... mas...
Quem diabos é Sir Richard Francis Burton???
Bem, prepare-se então para um ligeiro resumo da vida do sujeito - que talvez o incentive a nos ajudar a procurar o tal livro...
Sir Richard Francis Burton foi um escritor, tradutor, historiador, linguista, geógrafo, arqueólogo, poeta, antropólogo, orientalista, erudito, espadachim, explorador, agente secreto (sim,  uma espécie de 007 mesmo!) e diplomata britânico do século XIX.
O quê??? Como isso é possível??
Sim, essa é a reação da maioria das pessoas, quando se aprofundam um pouco mais sobre a história do escritor (e tradutor, historiador, linguista, geógrafo, poeta...): “Não é possível que esse cara tenha feito tudo isso em uma só vida!”
Bem, se você não acredita em reencarnação e admite a possiblidade de sua biografia ser fidedigna, vai se surpreender também com o fato de Richard Burton (que não, não é o ator aquele) falar 29 línguas e mais de 40 dialetos...
Além de ter sido o primeiro ocidental a entrar em Meca, foi também um dos descobridores da nascente do rio Nilo, fatos que provavelmente já bastariam para lhe dar um imenso destaque na história da humanidade. Mas são outros “detalhes” da vida do explorador (e antropólogo, orientalista, agente secreto, espadachim...), que têm quase um quê de anedota, que acabam por dar ainda mais sabor a sua fantástica história...
Burton era, por exemplo, um mestre dos disfarces (sim, dos disfarces: mudava não só de roupa, como também de cabelo, cor da pele, voz, etc, tal qual aqueles detetives de filmes e desenhos).
Quer mais Burton facts?
Burton traduziu o “Kama Sutra” para o inglês.
Burton fez também a primeira tradução sem censuras das “Mil e uma noites” para o Ocidente.
Burton esteve em contato com povos canibais na África e com os pigmeus (e voltou vivo para contar a história).
Teve certa vez uma lança atravessada em seu rosto (mas não foi aí que partiu desta pra melhor; Burton morreu de velho mesmo em Trieste, na Itália, em 1890).
É, o cara foi quase mesmo uma espécie de Forrest Gump do século XIX, meu amigo!...
E, como ninguém é de ferro, depois de passar por algumas boas enrascadas nessas aventuras todas, Burton merecia dar uma relaxada no país do carnaval e foi também cônsul da Inglaterra em Santos, no Brasil (mas na verdade nem aí a família Burton sossegou completamente: ele acompanhou alguns combates da Guerra do Paraguai ao lado do Duque de Caxias, e sua mulher, Isabel Burton, traduziu “Iracema”, de José de Alencar).
Enfim... o resto... bem, o resto só lendo o livro...
E aí, alguém tem ele aí? Ou sabe de alguém que tenha ou tem uma dica privilegiada de onde achá-lo? Se sim, por favor, contate-nos (aqui em casa tem uma tv 29" da coroa e um microondas em bom estado dando sopa!).

terça-feira, 16 de julho de 2013

UFC MMA MMS YMCA (por Diego T. Hahn)

Pra começar, confesso que nunca entendi bem esse esquema dessas siglas todas aí, quais as diferenças entre elas, se são categorias diversas ou se são todas a mesma coisa (dizem as más línguas que MMA, por exemplo, é a abreviatura de Muito Macho Agarrado, ou algo assim... não sei, não me prestei a ir pesquisar, mas creio que seja só intriga da oposição).
Mas, enfim... por falar em intriga, o que me intriga mesmo é todo esse fascínio que as tais lutas livres (ou como quer que se chamem) passaram a exercer no público nos últimos tempos.
 
Acho curioso, por exemplo, esse “surto” de artistas que viraram fãs do “esporte”  (por “coincidência”, quase todos vinculados – em bom português, têm contrato  – à rede que transmite as lutas por aqui)...
Acho engraçado também pessoas que antes condenavam, digamos, o boxe pela sua violência agora terem virado igualmente fãs dessa nova modalidade de combate.
Ah, e por falar em boxe: para garantir a integridade física, por assim dizer, dos lutadores, seja do boxe, como também das artes marciais, sempre foi exigido um mínimo de equipamentos de proteção, como luvas, capacetes, peiteiras, saqueiras (aqueles protetores anti-vasectomia traumática), etc...
E por que cargas d´água nos MMAS da vida não há esse cuidado e permite-se que os caras se arrebentem a pau sem proteção alguma??
Huuuuummm... aaaaaahh, sim... aham... percebo, percebo...
Olha, também assisto vez em quando, quando tô meio à toa na vida, mas a verdade é que sou um hipócrita assumido: não curto. O que me faz ver provavelmente é aquela curiosidade pelo grotesco, que nos faz seguir vendo um filme trash ou até mesmo algum reality show da vida... mas não curto. Por dois motivos principais:
Primeiro porque na realidade a maior parte do tempo da luta acho o negócio um tanto quanto chato... muita ensebação, como costumamos dizer por aqui: rola pra um lado, rola pro outro, se agarra, se solta, se agarra, se solta, rola pra um lado, rola pro outro... e nada.
E segundo, ainda que contraditoriamente em relação ao primeiro motivo, porque quando não estão naquele rala-e-rola sem graça, ao mesmo tempo não consigo compactuar com aquela porradaria extrema ali, caras com a cara arrebentada, sangue jorrando pra todo lado, e tudo aquilo exposto como algo “legal”, como só mais uma modalidade esportiva, pra todo mundo ver na tv, com patrocínios, propaganda, cachorro-quente, pipoca, e tudo...
Aliás,creio que a maioria hoje em dia no fundo continua a se chocar com toda aquela coisa insana ali dentro daquele ringue, mas não admite isso de forma alguma; pelo contrário: jura que acha o máximo!... parece mesmo que admitir que você não goste daquilo possa lhe fazer parecer fraco ou algo assim perante os olhos do resto do mundo...
Não, você tem que babar, gritar, esganar-se, clamando por porrada, por sangue! Isso sim é sinal de força!
Isso sim é sinal de virilidade, de masculinidade! (Ou de feminilidade, conforme o gênero do/da fã)...
Outra coisa interessante: curiosamente também até alguns dias atrás todo mundo babava pelo tal Anderson “Spider” Silva. Agora, dum dia pro outro, só pelo fato de ele ter levado umas bifas na orelha, todo mundo bombardeia o sujeito, chamando-o de arrogante, palhaço, mercenário, vendido, patife, canalha, sem-vergonha, bobo, feio, chato, entre outros tantos impropérios... parece mesmo uma espécie de ciúme:
“Ai, Spider, que óóóódio; beijou a lona e não a mim!...”
Pois vejam só: já eu, que não gostava do cara, agora passei a gostar – talvez exatamente por ele ter perdido. E acho que se é pra existir, tem que haver mesmo um pouco de arte no meio desse troço, um pouco de zoação – como nos velhos e bons telecatchs, por exemplo...
Uma das poucas coisas divertidas, aliás, desse negócio todo, que ao meu ver são as declarações do verdadeiro showman do ramo, o fanfarrão Chael Sonnen, ah!, disso a maioria dos fãs do “esporte” surpreendentemente parecem não gostar, criticam até mesmo, falam em “falta de respeito” e blá blá blá...
Mas isso talvez só seja um sintoma do nosso mundo: as pessoas preferem ver sangue a dar uma boa risada.
Ou levam realmente a sério todo esse circo.
E além do mais, lá vem os teóricos da conspiração de novo: ah, porque o cara entregou, assim como a Espanha entregou pro Brasil na Copa das Confederações e o Brasil pra França na Copa de 98 e...
Tudo bem, eu como um notório teórico das conspirações, respeito as teorias das conspirações alheias, mas essas aí confesso que já me parecem demais.
Uma coisa é dar a cara a tapa, outra a um puta soco que pode te matar.
Se bem que revendo o vídeo do nocaute agora, o Anderson Silva parece forçar bastante mesmo naquela frescura dele e quando ele está no chão o americano meio que “erra” alguns golpes, socando o ar e...

Para, para!! Para, se não eu já acabo me convencendo também!...
Já estou até começando a imaginar um retorno triunfal do Spider, tal qual Rocky Balboa em Rocky 2 diante do Apolo, o Doutrinador, tal qual Superman em Superman 2 diante dos vilões da zona fantasma, tal qual o Grêmio na Segundona diante do Náutico (felizmente não posso citar o meu time como exemplo, pois ele nunca teve um retorno triunfal desses), enfim, um retorno triunfal, reconquistando o cinturão em uma revanche es-pe-ta-cu-lar, épica ,história... afinal, quem não gosta de uma revanche es-pe-ta-cu-lar, épica, história??
Os humildes serão exaltados. E Anderson Silva voltará, depois de humilhado, mais humilde (embora com bem mais grana no bolso) e triunfará.
Anderson Silva é nosso pastor e nada nos faltará.
Porém...
Há teorias também que dão conta que Chris Weidman é um robô, fabricado pela NASA, sob encomenda da CIA, um protótipo de última geração, para botar ordem na casa e manter o imperialismo em dia. Que porra era essa de um negão do Mercosul mandar no octógono? Já não bastou o “barbudo das Arábia” ter detonado nosso pentágono?
Bom, mas voltando o foco da questão ao nosso estimado público:
E você, cara – sim, você aí, barbado – , não se envergonha, de convidar sua namorada para assistir às duas da madruga de um sábado a dois caras suados só de sunga se agarrando?
Já não bastam os vinte e dois correndo atrás da bola no sábado à tarde?
Até uma infame duma comédia romântica é preferível nesse caso, pô!...
Eu, como disse antes, até assisto também, mas isso se não houver duas moças se agarrando em algum outro canal. Preferência sempre delas, claro. Ladies first.
(Imagem proibida para menores de 18!)
E, para finalizar (tranquilamente, sem chave de braço ou de perna), não querendo dar uma de moralista – embora talvez já dando –, mas quanto a esse papo que as lutas não incentivam a violência, não são um mau exemplo porque é só um esporte e tudo deve ficar ali dentro do ringue e blá blá blá, fica a interrogação:
Se quando é fã de futebol, a gurizadinha mais nova vai pra rua imitar os jogadores chutando uma bola, agora com essa nova geração correndo o risco de virar fã dos MMAs e UFCs da vida, graças a todo esse destaque e propaganda em cima do relativamente novo esporte, vão imitá-los como? Indo para a rua chutar o quê, exatamente?
Enfim, são só conjecturas meio perdidas de mais um sujeito chato que às vezes parece mesmo não achar nada engraçado, macaco, praia, tobogã, UFC, MMA, eu acho tudo isso um saco, mas, bem, é isso, e depois de tudo isso, se você é um lutador esquentadinho e não gostou do que foi escrito aqui, não te faz de rogado, cara: pode vir! Vem! VEM! Vem, que eu encaro a bronca...
Não uso sunga nem pra tomar banho de mar, mas fiz judô no colégio até a faixa azul, porra!!! 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pelos sebos da vida: "1984", de George Orwell (por Diego T. Hahn)


 
Embora o detalhe da obra-prima publicada em 1949 por George Orwell que mais tenha se popularizado nos últimos tempos – ao menos no nosso Brasilzão – tenha sido o termo Big Brother - e infelizmente não pelos motivos mais, digamos, nobres, mas devido ao reality show que leva o nome do poder supremo da velha Oceania do livro (é, meu amigo, surpresa: não foi o Bial que inventou o Big Brother e nem a Globo que inventou o totalitarismo) - , cansamos de ver ainda referências a "1984" nos nossos dias de hoje...

Por que será?

Para quem nunca ouviu falar, um breve resumo: a história se passa na Oceania, um dos três países, junto com Eurásia e Lestásia, que restaram depois de uma grande guerra mundial e contra os quais Oceania está eternamente em guerra – mudando somente o inimigo de tempos em tempos; às vezes um, às vezes o outro. Neste país, o governo controla tudo através do Partido e seu líder supremo, o Big Brother (Grande Irmão), que não se sabe ao certo se é um símbolo ou um homem de carne e osso, mas que, definitivamente, está sempre de olho em tudo e todos. E disso não resta dúvida, pois todas as casas – e todos os recintos em geral – são monitorados através da teletela, exatamente uma tela que captura tudo que se faz e fala em qualquer espaço público ou privado. Faltam mantimentos e comida no país, todo o esforço de produção vai para incrementar a máquina bélica de Oceania, mas, independente de tudo, como o Partido controla – ou, pode-se dizer, É – o único meio de comunicação existente e através dele mostra como a vida está cada vez melhor para o povo e tudo que está sendo feito em seu benefício e as vitórias recorrentes do exército do país na guerra, o povo ama devotadamente o Grande Irmão.
Winston, o protagonista, porém, a um certo ponto, cansado de toda essa farsa e essa opressão, resolve rebelar-se contra essa dominação.
Sempre se associou a sociedade controlada descrita na obra ao regime soviético stalinista, o que sempre pareceu bem óbvio, já que Orwell era um socialista decepcionado com o regime totalitarista que imperava por aquelas bandas em tempos de Guerra Fria.
Pois, passado tanto tempo, caído o Muro de Berlim – e com ele, quase por completo, o comunismo – , por que "1984" continua tão atual e há sempre aqui e ali uma referência a ele, quando se fala de algum fato do nosso cotidiano atual? Não será tão somente para criticar os resquícios do comunismo presentes nos regimes de Cuba e da Coréia do Norte, será?
Pois, apesar de focar sua crítica, como dito anteriormente, no regime soviético do final dos anos 40, Orwell acabou tornando-se também mesmo uma espécie de “profeta” e vemos sua obra ainda atual e particularmente para este que aqui escreve muitas vezes fica difícil não visualizar a face do Grande Irmão em algumas bandeiras que tremulam imponentes hoje sobre nosso mundo globalizado - especialmente depois do vazamento de informações confidenciais da inteligência estadunidense que dão conta de que o país conta com um intrincado sistema de monitoramento de ligações telefônicas e comunicação em redes sociais, e-mails, e outras ferramentas, na internet, planeta afora...
(Como obviamente o paralelo feito não é de exclusividade aqui do "De Letra", as vendas de "1984" nos dias seguintes ao vazamento de tal informação aumentaram em mais de 7000% na livraria online Amazon, fazendo o livro passar em um dia do número 12.589  para o 184 no ranking dos mais vendidos do site.)
Ah, isso sem falar, claro, nos satélites, e seus Google Street Views e Google Earths e tal, a não nos deixar sumir do mapa... assim, estamos lá, queiramos ou não.
 
Pois a propósito de queiramos ou não, o mais incrível de tudo talvez seja exatamente isso: hoje em dia, às vezes até parece mesmo que queremos! - sem nos importarmos nem um pouco ou sequer pensarmos a respeito de eventuais consequências e efeitos colaterais...

Essa outra, por exemplo, pode não ser lá tão óbvia - e até um pouco paranoica, bem sei -, mas flagrei-me também algumas vezes em meio a devaneios imaginando a face imponente do Grande Irmão pairando na nossa velha e boa rede mundial de computadores, especialmente na tela de entrada de algumas redes sociais – como naquela do nosso amigo Facebook particularmente, que pela sua abrangência virou quase uma espécie de império virtual mundial.
O curioso, neste caso, é que esse suposto novo Grande Irmão seria tão sutil e perspicaz que não nos obrigaria a nada: ele conta com a nossa bondade e a nossa espontânea colaboração e nós, por contra própria, expomos tudo – nossos dados pessoais e aqueles de nossos familiares e amigos, nossos rostos, nossos corpos, nossa localização exata neste exato instante; enfim, nossa vida inteira – ali para ele.
E como o Facebook, por exemplo, foi uma das empresas que cedeu seus dados – ou melhor, o de seus “clientes”, ou sua “população” – ao governo norte-americano, seria, de certa forma, um “círculo que se fecha”...
Enfim, às vezes parece que o Grande Irmão se transformou, se adaptou, se refinou, fez-nos acreditar que é tudo legal hoje em dia, não há perigo nenhum, é tudo para o nosso bem. Não precisamos mais levar porrada como levou Winston na ficção de Orwell.
E, como é tudo inofensivo, é tudo pelo nosso bem, o Ministério do Amor continua ali, de prontidão (piada interna).
Ah, os motes do Partido, que controlava Oceania, eram: “Ignorance is strenght, freedom is slavery, war is peace” (ignorância é força, liberdade é escravidão, guerra é paz).
Mais alguma semelhança com a realidade talvez seja mera coincidência, uma fantástica profecia do escritor... ou pura obviedade.

(por Diego T. Hahn)
 

domingo, 7 de julho de 2013

Projeto crowdfunding “Flashbacks de um mentiroso 2”


O título do livro ainda é provisório (o definitivo está sendo guardado a sete chaves!), mas o projeto já está em andamento: os amigos e interessados em geral têm a possibilidade de participar da produção do segundo livro de contos deste que aqui escreve através do sistema de crowdfunding - para quem não sabe do que se trata, é um sistema de colaboração, com cotas para ajudar na produção do livro e que dão direito a “recompensas”, as quais, sem mais delongas, estão abaixo descritas: 
 
- Colaborações de 10 reais ou mais: agradecimento ao colaborador impresso no livro ("Uau! Meu nome vai estar lá no livro???" Sim, vai estar lá, nome, sobrenome, apelido, nome de guerra, o que quiser!) e um pdf (enviado por e-mail) com os cinco primeiros contos da obra;
- Colaborações de 20 reais ou mais: agradecimento ao colaborador impresso no livro, pdf com os cinco primeiros contos, e um exemplar do livro, recém-saído do forno, novinho em folha, cheirando ainda a gráfica;
- Colaborações de 40 reais ou mais: agradecimento ao colaborador impresso, pdf com os cinco primeiros contos, e dois exemplares do livro (“Por que diabos eu quereria dois exemplares do livro?” Ora, uma boa opção de presente de Natal para algum tiozão ao invés das tradicionais cuecas e meias ou de amigo secreto para algum colega para o qual você não faz ideia do que poderia dar, por exemplo) – ou um exemplar do novo livro e outro do anterior, “Flashbacks de um Mentiroso”;
- Colaborações de cem até um milhão de reais (acima dessa quantia, não serão aceitas colaborações!): agradecimento ao colaborador impresso no livro, pdf com os cinco primeiros contos, cinco exemplares e possibilidade de divulgação de logotipo (no caso de pessoa jurídica) no livro.
* Em todas as colaborações, além das acima descritas, haverá uma recompensa bônus, que é, claro, a gratidão eterna do autor! 
* As recompensas deverão ser entregues na primeira quinzena do mês de dezembro.

A colaboração poderá ser feita pessoalmente, em mãos, quando cruzar com o autor por aí, ou através de depósito na conta abaixo:
BANCO DO BRASIL
Agência: 0126-0
Conta Corrente: 28.716-4
Diego Trindade Hahn
*Para um melhor controle, peço que, uma vez (se mais de uma, melhor ainda!) feita a colaboração, seja feito um contato, telefônico ou por e-mail, passando o número de depósito. 

Estimativa de custos de produção:
- GRÁFICA: 2500 reais;
- DIAGRAMAÇÃO, ARTE, CAPA: 800 reais;
- REVISÃO: 300 reais;
- TOTAL: 3600 reais.

Prazo de encerramento das colaborações: final do mês de setembro. Se ao final dos 3 meses (contados a partir do início de julho) não for atingido com as colaborações – e eventuais patrocínios - um mínimo de 80% do valor estimado de custo do projeto, a viabilidade do projeto será reavaliada e, caso se conclua que não será possível dar continuidade ao mesmo, o colaborador será devidamente ressarcido.
No final dos meses de julho e agosto será divulgada no blog literário “De Letra” (www.deletradj.blobspot.com) uma parcial do andamento das colaborações e no final de setembro o resultado final do projeto. 

Contato para maiores informações:

Desde já agradeço pela atenção e pela força!

Diego T. Hahn
 

terça-feira, 2 de julho de 2013

A bailarina (por Auri Sudati - versão em italiano: Diego T. Hahn/ Versão em inglês: Auri Sudati)


Intimado pelo Seu Auri Sudati, excelentíssimo presidente da Casa do Poeta de Santa Maria, para um duelo ao nascer do sol – com armas que seriam não adagas ou pistolas mas sim le parole pelo meu lado e words da sua parte –, encarei a bronca e fiz uma versão em italiano para uma bela poesia sua, “A bailarina”. Seu Auri, que além de escritor, poeta, agitador cultura e gente finíssima, também é professor de língua inglesa, fez uma versão em inglês. O resultado desta parceria está no jornal Letras Santiaguenses (é um alternativo-cultural independente que tem na equipe editorial Auri Antônio Sudati e Zé Lir Madalosso e leva esse nome por ter sua origem e circular também na “Terra dos poetas”) deste mês de junho.

Pois o De Letra orgulhosamente apresenta o resultado deste projeto (eis um projeto que deu certo!) multilinguístico - que certamente renderá novos frutos e novos desafios – :
 
A BAILARINA
 
               Auri Antônio Sudati 
Que canção vou dedicar
à fantástica menina
que vive sempre a dançar
num sonho de bailarina?
Um DÓ, RÉ, MI, agradaria?
Um FÁ, SOL, LÁ, pode ser?
Um SI LÁ, SOL de harmonia
que encantos pode trazer? 
Mas por mais que se invente
uma canção para ela,
em seus passos de repente,
vem outra canção mais bela.
 
       LA BALLERINA*
 
Che canzone posso dedicare
alla fantastica bambina
che sta sempre a ballare
in un sogno di ballerina? 
Un DO, RE, MI, le piacerebbe?
Un FA, SOL, LA, come andrebbe?
Un SI, LA, SOL di armonia
che incanti porterebbe? 
Ma anche se sempre si inventi
una nuova canzone per la bambina
nei passi suoi all´improvviso
viene ancora una canzone più carina 
   (* Versão em Italiano: Diego T. Hahn) 
 
    THE BALLERINA*
 
Will I dedicate what song
to the girl who is so bright,
and who dances all day long
in her ballerina´s dream delight? 
Can it be a DO, RE, MI?
A FA, SOL, LA, is it real?
A SI, LA, SOL of harmony
what wonders can it reveal? 
Although you in a straight away
try a new song to her devote,
from her footsteps you will contemplate
other prettier song that she will denote. 
  (*Versão em Inglês: Auri Antônio Sudati)