Heróis
Sérgio e Diogo eram ex-colegas de colégio e amigos de infância.
Reencontraram-se pela rua depois de anos sem se ver e Sérgio convidou Diogo
para ir tomar uma cervejinha à noite com sua namorada Laura e a amiga dela,
Clarissa. Diogo topou.
- Pois como eu ia te dizendo, Cla... o Diogo aí é uma espécie de
herói... – dizia Sérgio, apontando para o amigo e rindo já meio embriagado. A
ideia era empurrar Clarissa para Diogo. Diogo passava viajando, fazia tempo que
não tinha uma namorada fixa... era hora de dar um jeito naquilo. Fazer o cara
se “assentar” um pouco... Diogo andava pensando mesmo em ficar um tempo pela
cidade. E Clarissa, na casa dos seus trinta e poucos, andava desesperada.
Então, feitos um para o outro...
- Que é isso... – ria de volta Diogo.
- Esse cara... esse cara!... ele estava sabe onde antes de aparecer
do nada esta tarde?
Onde? Onde? Perguntava Clarissa com o olhar, curiosa.
- Onde você estava mesmo, cara? – gargalhava Sérgio, confessando
sua embriaguez.
- No Afeganistão... – sorria meio sem jeito agora Diogo.
- É mesmo? – interessava-se Clarissa – fazendo o quê?
Sérgio interrompia:
- Ele não gosta de falar disso... como todo bom herói... he he
he... mas deixa que eu conto pra você: ele estava lá trabalhando com a Cruz
Vermelha... ajudando feridos e desabrigados, vítimas do regime talibã...
Laura tentava traduzir para Clarissa, já que esta não era exatamente,
digamos, a mulher mais antenada do mundo a respeito de determinados assuntos:
- O Diogo ajuda pessoas nessas zonas de conflito pelo planeta
afora...
- Puxa... – impressionava-se sinceramente Clarissa, controlando-se,
porém, para não perguntar como funcionava aquele tal regime talibã, se era
parecido com o de melão e aveia duas vezes ao dia, que ela seguia fielmente há
seis meses.
Diogo, que tinha gostado de Clarissa – apesar do complexo que ela
tinha com os seios pequenos, era uma mulher bonita de rosto e de corpo - ,
tentava mudar de assunto, falar de futebol, cinema, mas Sérgio e Laura não
deixavam...
- Calma... e antes disso, sabe onde ele estava? – continuava
Sérgio.
Onde? Onde? Perguntava Clarissa com o olhar.
- No Iraque... ajudando também outros feridos e desabrigados...
esses, vítimas da “missão de paz” dos States
lá... – respondia Laura, toda orgulhosa do amigo.
- Puxa... – repetia Clarissa.
- É... – respondia meio tímido Diogo.
- Não, sim!... assim... quero dizer... né!?... como experiência...
- Calma lá, minha filha! – interrompia mais uma vez Sérgio – por um acaso você sabe onde ele estava antes disso? Você sabe?
- Calma lá, minha filha! – interrompia mais uma vez Sérgio – por um acaso você sabe onde ele estava antes disso? Você sabe?
Não. Ela não sabia.
- Ele estava no Polo Norte, num daqueles navios da galera ecológica
e tal, lutando contra os baleeiros japoneses... como é mesmo o nome da
organização, Diogão?...
- Greenpeace.
- É isso aí... Greenpeace... tá ligada? O cara aqui é um heroi... – afirmava Sérgio, dando um tremendo tapa nas costas de Diogão, que só sorria cabisbaixo, repetindo “pois é... pois é...”.
- É isso aí... Greenpeace... tá ligada? O cara aqui é um heroi... – afirmava Sérgio, dando um tremendo tapa nas costas de Diogão, que só sorria cabisbaixo, repetindo “pois é... pois é...”.
- Nossa... – surpreendia-se Clarissa. Ela já tinha ouvido falar
alguma vez no nome daquela organização. Mas imaginava que fosse uma rede de design ou algo assim – afinal... green... é verde, né?... sabe como é... cores...
enfim... – de qualquer maneira, embora não soubesse muito o que dizer a respeito
– pensou em perguntar a respeito do tamanho dos seios das mulheres no Iraque e
no Polo Norte, mas desistiu – já parecia interessadíssima em Diogo.
- Você me dá uma carona depois, Diogo? – perguntava ela
inocentemente com sua voz melosa – é que o Sérgio e a Laura moram lá pro outro
lado...
- Claro, claro... digo, eu não estou de carro... mas sem problemas,
podemos ir juntos; te dou uma carona de táxi – disse Diogo, sorrindo.
-Ah... ok... – respondeu a moça.
Nesse momento, estaciona em frente ao bar uma BMW preta reluzente. De dentro dela sai Ricardo. O doutor Ricardo.
- Ó o Ricardão aí! – gritava Sérgio. Sérgio não lembrava, mas havia
convidado Ricardo para tomar uma cervejinha com eles também. Mais tarde, Laura
cobraria isso de Sérgio: “Pô, mas logo o Ricardo, Sérgio!? ”.
- Desculpem o atraso... desculpem o atraso... é que estava numa
cirurgia...
- Ôpa... cirurgia do quê, Ricardão? E contra quem?... – perguntava rindo
seu riso bêbado Sérgio.
- Implante. Silicone. Na dona Márcia. Foi tudo bem.
- Um brinde aos seios novos da dona Márcia! – repetiam os outros.
- Puxa... – impressionava-se Clarissa – você é cirurgião plástico??
- Sim, sim... – respondia o doutor Ricardo.
- Mas... tão jovem... nem parece... digo... entende?...
- Pois é... pois é... – respondia sorrindo balançando a cabeça o
doutor Ricardo.
- E quantos miligramas foram nessa cirurgia? Quanto tempo de
recuperação? Puxa, deve ser muita responsabilidade, né!?... – os olhos de
Clarissa efetivamente brilhavam então.
Depois de mais algumas cervejas que fizeram os olhos de todos os
outros presentes brilharem muito também, pagam a conta e saem do bar. Enquanto
Sérgio e Laura deslocam-se para o carro deles – Laura brigando com ele baixinho
pelo seu estado etílico e ainda por ter convidado Ricardo -, Clarissa vira-se
para Diogo:
- Diogo, foi um prazer... olha, eu acho que vou fazer o seguinte:
vou pegar uma carona com o Ricardo... já que ele mora pro mesmo lado que eu...
não quero te atrapalhar, te fazer gastar mais ainda no táxi só pra me levar,
ok?...
- Bem, ok... – sem em segundo algum deixar transparecer o ligeiro desapontamento que no fundo o toca com o desfecho da noite aparentemente diverso do que imaginava, responde Diogo, do alto de toda sua "heroica" classe – igualmente,
Clarissa... foi um prazer...
Diogo e Clarissa então se despedem e nunca mais se veem.
Ricardo leva Clarissa para a
sua casa aquela noite. Alguns dias depois estão namorando. Juntos, são felizes
por dois meses... até que Ricardo troca Clarissa por uma enfermeira chamada
Elisângela.
Sérgio acordou de ressaca no dia seguinte. Laura continuou
xingando-o – o que só aumentou sua dor de cabeça...
Diogo passou mais alguns dias na cidade, saiu e se divertiu mais
algumas vezes, mas logo partiu de novo...
Ele continua tentando salvar o mundo.
(Diego T. Hahn/ publicado em "Flashbacks de um mentiroso")
(Diego T. Hahn/ publicado em "Flashbacks de um mentiroso")
Cara, esse é um dos meus favoritos do livro! Rede de design rsssssssss
ResponderExcluirPaulada mesmo.
Falou
Abço
Marquinhos