segunda-feira, 2 de junho de 2014

Pelos sebos da vida: "Monsenhor Quixote", de Graham Greene (por Diego T. Hahn)


Já estava há horas em dívida com o mestre Graham Greene (desde que li há uns dois anos o ótimo “Nosso homem em Havana”), mas foi bom ter esperado um pouco antes de homenageá-lo aqui: pois eis que encontro no sebo da Floriano, entre páginas meio amareladas e carcomidas e capa um tanto quanto cafona, este pequeno tesouro.

Olhando para ele de relance, em meio a um mar de livros, realmente você não dá nada por Monsenhor Quixote.
Uma versão mais legalzinha da capa

Quer dizer, não dá nada se não for um conhecedor de Greene...

Por falar no homi,  a melhor definição que já li a seu respeito é a seguinte: “Greene é o cara que conseguiu aliar a literatura de diversão com a boa literatura”.
       Não confundir com o simpático ator de traços indígenas, homônimo do escritor em questão


Impossível não se divertir com sua leitura que flui, aparentemente leve, mas com tramas bem construídas  - e, sim, com conteúdo (particularmente, seu estilo me lembra bastante o do L. F. Veríssimo dos tempos das Comédias da vida privada...).
Neste livro, Greene conta a história do padre de um pequeno vilarejo na região de La Mancha, na Espanha, terra do lendário personagem de Cervantes (diz-se que Greene era um fervoroso fã da obra-prima do espanhol e quis fazer uma pequena homenagem a ele – e, como também fã do Cavaleiro da Triste Figura, provavelmente este texto é o mais próximo que vou chegar de me atrever a resenhá-lo).

Reza a lenda no povoado que o padre é descendente do Dom, o que confunde alguns outros personagens durante o desenrolar da história: mas como, se Dom Quixote é um personagem fictício?
Seja como for, devido a uma sequência de curiosos episódios, o padre acaba partindo em uma viagem com um ex-prefeito comunista da cidade (para completar o "quadro", no decorrer da viagem o padre passa a chamá-lo de Sancho). Duas personalidades tão distintas, mas que inevitavelmente começam a estreitar laços durante essa jornada, ainda que à custa de muito embate ideológico – o ex-prefeito, por exemplo, nega a existência de Deus, enquanto o padre por sua vez defende que a salvação está no Senhor e contesta os métodos empregados pelos comunistas no poder, como Stálin, só para dar uma ideia do conteúdo que permeia boa parte da obra.
Sem dúvida, a viagem em si, com todos os seus percalços, é divertidíssima (hilário, por exemplo, o trecho em que o padre se encanta com a extrema simpatia das moças da hospedagem onde chegam em determinada cidade, sem a princípio dar-se conta do tipo de empreendimento no qual o ex-prefeito o faria passar a noite), mas o ponto forte da obra talvez sejam realmente os diálogos entre os dois personagens principais e, na particular opinião deste que aqui escreve, o seu emocionante final – o qual, se poderia ser um exagero dizer que é um dos melhores que já li, certamente incluo entre meus favoritos.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Apelo aos internautas (por Diego T. Hahn)

(Por razões que a vida moderna e o mundo ao redor me oferecem cotidianamente, sinto-me impelido a reprisar este texto aqui no blog - e creio que o farei daqui a mais um tempo de novo e de novo e de novo)

Este texto, gostaria de deixar claro desde o princípio, é completamente despojado de qualquer ínfima pretensão literária. Está sendo simplesmente “vomitado” mesmo, pouco se atentando à sua forma, ao seu estilo, etc... talvez fique meio deslocado aqui, tendo-se em mente o intuito principal do blog, mas é uma questão tão somente de aproveitar este espaço para “utilidade pública” (agora sim, não literário, mas eis um toque de pretensão!). Ou tão somente para um solitário desabafo mesmo.

Enfim... venho por meio deste texto fazer um apelo a todos vocês, meus caros amigos internautas.

 Bem, o caso é que esta nossa velha e boa internet, esta imensa rede na qual flutuamos (e muitas vezes flatulamos) hoje em dia, essa dimensão paralela na qual vagamos diaria e meio distraidamente, bem sabemos tem lá seus prós e contras, e, como se diz, tudo depende do modo como fazemos uso dessa ferramenta – e blá blá blá...

Pois, eis a questão que tem me incomodado bastante, que tanto me intriga, e que quero partilhar aqui:
Com tantas maravilhas à nossa disposição, por que diabos insistimos em fazer um uso tão precário desse universo de possibilidades???

Se por um lado, sendo extremo, poderia citar, por exemplo, o norte-americano Nicholas Carr que sugere em seu livro “A geração superficial: o que a internet está fazendo com nossos cérebros” que devido à maneira como obtemos a informação na internet, estamos ficando ainda mais burros, pela superficialidade das mesmas, assim tornando essa ferramenta uma faca de dois gumes, ao menos temos hoje acesso a mais informação e a questão que abordo aqui não é nem essa superficialidade em si, mas o fato de o pessoal IGNORAR até mesmo essa informação, ainda que superficial, em detrimento a outras “informações” - essas, além de superficiais, simplesmente inúteis, fúteis ou maldosas.

Somos – falo aqui por nós, brasileiros – um povo atrasado, culturalmente, politicamente, historicamente, em termos de educação, etc, em relação a outros povos mais “desenvolvidos” – como, digamos, só para exemplificar, a maioria dos povos europeus.

Sem babação de ovo e pagação de pau; isso é um fato. É uma questão que também diz respeito, claro, à idade de um povo, seu tempo de existência mesmo...

Pois a internet coloca à nossa disposição a possibilidade de encurtarmos centenas – ou até mesmo milhares – de anos de distância e equilibrarmos um pouco essa balança! Temos quase tudo ali.

Claro, nem precisaria dizer que é necessário se saber selecionar, “filtrar”, a informação desejada, mas ok!, aproveito (como diria Paulo Freire, "é óbvio; mas o óbvio às vezes também precisa ser dito", ou algo assim; vá pesquisar pra ver se ele disse mesmo isso) e – que conste dos autos – acabo de fazê-lo.

Pois dito isso, repito: temos um mundo de informações ao alcance de um clique, informações que perdemos nos tempos de colégio quando queríamos mais era bagunçar no fundão ou jogar bola, quando na adolescência estávamos mais preocupados em namorar, festejar e seguir jogando bola ou assistindo o jogo de bola, ou fazendo outras mil coisas mais divertidas à época – e outras não tão divertidas na sequência da vida, como, por exemplo, trabalhar – e, ok, era assim que devia ser!, foi realmente divertido, valeu, e provavelmente faríamos do mesmo jeito de novo se pudéssemos voltar atrás e escolher – e não quero pregar o fim da nossa diversão; não, por favor!, obviamente não vamos deixar de fazer nada do que gostamos – ou do que efetivamente precisamos, como trabalhar – e vamos continuar normalmente namorando e jogando bola e assistindo ao jogo de bola, e também trabalhando e fazendo todas as nossas outras coisas de gente grande, enfim...

Mas o caso é que hoje podemos recuperar todo aquele tempo perdido!! Basta flagrarmo-nos – o que, bem, na verdade, já não é fácil, afinal, como bem mostra, aliás, a própria internet, atualmente somos todos gênios e temos tanto a dizer – dessa nossa ignorância e desinformação. Um pouco de humildade, portanto – outro artigo raro no mercado. E, claro, vontade. Vontade de aprender, vontade de evoluir. É, não é fácil: noção da própria ignorância, humildade, vontade... por isso este apelo desesperado. Pois no mais, acesso às informações, ao menos acesso àquelas informações que circulam na internet hoje em dia quase todo mundo tem.

Informações as quais, sem acesso à rede, teríamos que garimpá-las gastando enormes somas em livros, deslocando-nos a bibliotecas, correndo – literalmente – atrás... pois agora está tudo ali, na nossa frente: história, geografia, política, filosofia, religião, física, medicina, tudo prontinho, explicado, reexplicado, uma versão, duas, três, a oficial, a não-oficial, tudo...

Pois aqui vem o meu apelo: Por favor, FAÇAMOS MELHOR USO DESSA FERRAMENTA, PORRA!!!

Aproveitemos para correr atrás e nos informarmos!! Ler. LER mais! Se não nos livros, na tela do pc mesmo – tem quem prefira assim hoje em dia... enfim... pois então façamos assim. Mas façamos.

LER. LER. LER!!

Estudar! E não só a gurizada lá do colégio. Também nós. “Velhos”. Adultos. Leiamos. Informemo-nos. Não aceitemos o que nos dão mastigado. Contestemos. Não aceitemos o que a mídia tradicional nos mostra no telejornal ou no diário em papel... não aceitemos o que os filmes (e séries, e livros) hollywoodianos tentam nos empurrar goela abaixo...

Leiamos. Estudemos. Informemo-nos.

Repito: é um apelo desesperado!! 

Sim, pois me desespera ver toda essa informação hoje ao nosso dispor e a nossa gente ignorando-a solenemente, fazendo esfumaçar três ou quatro horas dos seus dias – todos os dias – bisbilhotando a vida alheia em alguma rede social e continuando sem saber os porquês das coisas que realmente importam neste complexo mundo no qual vivemos – não que a internet vá fazer isso por nós, mas talvez já nos ajude a ao menos sair da “estaca zero”, na qual a maioria de nós se encontra...

Sim, sei que isso tudo talvez tenha a ver simplesmente com “pensar grande”, “pensar pequeno” – e não me refiro aqui a “ter sucesso”, ter dinheiro, ter poder, etc (embora, claro, não se possa ignorar completamente essa relação...) – e talvez seja impossível incutir o “pensar grande” para quem vive numa redoma de vidro, dentro de uma espécie de Big Brother ou “Show de Truman” da vida. Provavelmente eu mesmo, que estou aqui bradando tudo isso, esteja dentro dessa redoma também... mas creio que, humildemente, treinando pouco a pouco os olhos, começo a enxergar, ainda que meio embaçado, algo lá fora.

E, de qualquer modo, eu brado, mesmo que eu esteja condenado a viver aqui dentro, brado para talvez mexer com os brios de alguém com um potencial maior, alguém que consiga fugir dessa nossa prisão e quem sabe volte um dia para nos salvar: informemo-nos para sabermos ao menos por que cargas d´água estamos indo para uma mobilização na rua, por exemplo, pelo que efetivamente estamos protestando, e não corramos o risco de virar massa de manobra, e um dia talvez no futuro, com caras de bobos, dizermos “ah...”, concluindo que não era nada daquilo que pensávamos – ou não pensávamos, mas tinham nos dito – e nos arrependermos.

Enfim, é tudo que peço a você, amigo internauta.

(Agora, ok, pode voltar pro seu game – cuidado! Um inimigo atrás de você!! Olha aí; não diga que eu não sou amigo e não avisei – ou pra sua rede social pra fuçar a vida da Suzimara da esquina – aquela vagabunda!...)


 

sexta-feira, 16 de maio de 2014

"Cotidiano Crônico" e "Obras Encolhidas 2" (por Diomar Konrad)


Bom, entre outras coisas boas com as quais topamos pela Feira, tivemos o prazer de encontrar Cotidiano crônico, coletânea de crônicas do amigo Diomar Konrad, prontamente adquirida.

O Diomar, pra quem não conhece, é um daqueles caras com um humor e jeito de expressá-lo que a gente acaba nunca sabendo se ele está falando sério ou nos sacaneando - e receio que na maioria das vezes ocorra mesmo a segunda opção...

Na primeira e ótima crônica desse livro, Bibliografias, porém, ele sacaneia é o "sistema", como diria o Capitão Nascimento, e começa assim:

"Segundo fulano de tal, complementado por sicrano e outros, minha opinião não vale muita coisa. Sim, estamos no mundo científico, onde tudo o que for escrito ou dito necessita da bibliografia, essa entidade poderosa que torna todo trabalho glamouroso. Eu não posso dizer nada que é meu porque ainda não tenho ideias, só vou ter depois de famoso."

e por aí vai, nessa sua velha e boa toada irônica e crítica.

E aproveitando a deixa, publicamos aqui mais uma saraivada de frases-pensamentos do Diomar de outra obra sua, Obras Encolhidas 2 (para otimizar o espaço aqui, apesar de as crônicas não serem tão longas, e também porque já havíamos publicado alguns petardos do primeiro Obra Encolhidas no pequeno link aqui https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6933832815028685316#editor/target=post;postID=6390931706306552428;onPublishedMenu=posts;onClosedMenu=posts;postNum=29;src=postname 
e prometido mais uns do segundo). Pois ei-los:

"Os engodos são os bárbaros modernos";

"Para os freudianos, não há voto consciente";

"Casamento não é prisão. Mas já significa amizade com o carcereiro";

"Antes de ensinar, a escola domestica. Você precisa estudar para poder ser explorado, pois até isso exige certo nível de conhecimento";

"Quem perdeu a identidade, na pós-modernidade, pode fazer uma segunda via";

"Todo mundo que namora tem um arroz. É aquela pessoa que se finge de amigo, mas quer ficar com seu par. Em alguns casos, eles são integrais, ficam o tempo todo azarando."

E, pra fechar com chave de ouro, esta fantástica, que consta da contracapa:

"Uma reunião é um agrupamento de pessoas que estão juntas para decidir alguma coisa, nem que seja a data da próxima reunião."


terça-feira, 13 de maio de 2014

3 Poetas em 1 Opúsculo


E, bem, finda a Feira do Livro de Santa Maria 2014, e feita a análise dos espólios, vou destacar aqui alguns achados em meio à função.

Um deles é a obra "3 Poetas em 1 Opúsculo", dos poetas José Kmargo, Valério Rocha e Gilson "O incompreendido".


Uma obra curta - são apenas 4 páginas -, porém com uma bela e caprichada produção, e alguns divertidos-românticos-filosóficos poemas, entre os quais destacaria os seguintes:


Alegria Orgânica
(Valério Rocha)

O que prometem
Estas plantações
Incrustradas nos dentes?
A fartura da colheita
de legumes gargalhantes?
Ou antes:
A claridade marfim
De uma agre ecológica
Felicidade cintilante.


Retrovisor
(Valério Rocha)

Contas de vidro
Não conta cigana
Não engana
Nem vejo no espelho
A vida que tinhas em mim
Resto de um vício
No chão dessa sala
Rasga o contrato
O trato com minha sibila
As almas visíveis em seda
Atrás de cortinas.
Não mais se atina
Não mais nos repara
Apenas refletem no olho
A imagem de dois indivíduos
Que o tempo deixou para trás.


Mitológica
(3 Poetas)

Mulher-medusa
Por teu olhar
Fiquei estátua de pedra na praça
Com os pardais cagando em cima.


Nota-desafio do blog: E agora, sem consultar os googles da vida, o amigo leitor saberia por acaso dizer o que significa "Opúsculo"?


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Mais um trio de bons eventos na Feira do Livro de Santa Maria e imediações


Nos próximos dias mais alguns bons eventos vão continuar movimentando a Feira do Livro e imediações da mesma.

Já devidamente citado em post anterior - mas nunca é demais, não é mesmo!? - o grande momento, centro do Universo do Cosmos da Feira: 
o lançamento do nosso "Histórias reais de amigos imaginários (e vice-versa)", neste domingo, dia 04 de maio, a partir das 17 horas.


                                                                Uma das capas experimentais do livro

Antes disso, uma interessante proposta vai rolar na Athena Livraria: após um debate e sessão de autógrafos, um bando de nove malucos escritores vai ficar enclausurado na madrugada de sábado para domingo no local, com o intuito de aproveitar a inspiração da calada da noite e liberar uma nova fornada de contos de suspense e terror. O evento, batizado como "Uma noite alucinante", é inspirado na famosa história da criação do livro Frankenstein, quando Mary Shelley, sua autora, o concebeu exatamente numa reunião de entusiastas da literatura passada na mansão do amigo poeta Lord Byron em uma madrugada de raios e trovões.



E na segunda-feira, dia 05, acontece mais um Trocadilho, a partir das 20 horas, no Café Cristal.




O Trocadilho (ou seria "Trocatílio"? - irresistível, aproveitando o nome do amigo organizador do evento, Atílio Alencar, disparar este trocadilho em cima do trocadilho do Trocadilho! :) ocorre mensalmente no Café e a proposta do evento é a troca de livros - e de ideias, entre amantes da literatura... ou só de cerveja, mesmo.

Nesta edição, o Trocadilho está em parceria com o Circuito Elétrico, que é, desde 2008, o projeto com programação noturna paralela à Feira do Livro.

Pois nesta segunda, algumas atrações a mais do Trocadilho serão a exposição de poemas visuais e o sorteio do livro "Poética", de Ana Cristina Cesar.


Que trio, hein!??

Levanta a bunda do sofá e prestigia lá, pô!!


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Encontro de Escritores do MERCOSUL e Feira do Livro de Santa Maria


Nos próximos dias, dois eventos prometem dar uma movimentada na cena cultural - mais especificamente literária - de Santa Maria:

São o V Congresso Internacional de Educação Intercultural e Literatura Contemporânea, que engloba o VIII Encontro de Escritores do MERCOSUL mencionado no título deste post, e a Feira do Livro de Santa Maria.


 

O primeiro ocorre de 2 a 4 de maio; a Feira, de 26 de abril a 11 de maio.
 

 
Banner da Feira, que este ano, com o intuito de aproximar o público jovem, tem o tema "Tatuagem como forma de expressão".


Aqui um link com outras informações e a programação completa do Congresso:

http://www.escritoresdomercosul.org/p/programacao.html

 
 


E aqui o link com a programação da Feira:

https://www.santamaria.rs.gov.br/index.php?secao=noticias&id=8196&pchave=feira%20do%20livro


Com destaque mais uma vez, claro, entre outras atrações, para o lançamento do nosso "Histórias reais de amigos imaginários (e vice-versa)", no domingo, 4 de maio!
 



E, antes disso, na próxima segunda-feira, dia 28 de abril, outro evento interessante na programação é o encontro do Clube de Leitura Companhia de Papel, no palco principal da Feira, a partir das 19 horas, quando será debatido (o debate é aberto ao público) o livro "A fera na selva", de Henry James.
 


sábado, 19 de abril de 2014

Garcia Marquez

Impossível deixar de fazer esta menção aqui como uma pequena homenagem ao mestre colombiano que se foi - e que particularmente considero mesmo um dos caras que me ensinou a ler e a escrever nesta vida (ok, obrigado também a Tia Maninha lá do jardim de infância!, mas obviamente falo aqui de algo diferente...).

Isso levando-se em conta que até hoje tive o prazer de "degustar" somente dois de seus clássicos: Cem anos de solidão e O amor nos tempos do cólera (este tem inclusive uma humilde resenha, por assim dizer, aqui no blog: http://deletradj.blogspot.com.br/2013/06/pelos-sebos-da-vida-o-amor-nos-tempos.html).
Porém, assim como George Orwell, com seus 1984 e A revolução dos bichos, conseguiu colocar os dois no meu seleto top 10 (ah, ok, outra hora discorro mais sobre essa lista), e tornou-se também um dos meus autores internacionais favoritos, ao lado do próprio inglês, de um outro bretão, Graham Greene, do americano Hunther S. Thompson (este conseguiu a "proeza" com um só livro, o famigerado Medo e delírio em Las Vegas), e do alemão Herman Hesse.

Seja como for, como mencionei em outro texto de despedida há pouco tempo aqui no blog, é engraçado esse sentimento de profundo pesar quando se vão determinadas pessoas que admiramos mas nem conhecemos pessoalmente, as quais sequer vimos in loco ou com as quais sequer conversamos - ao menos no sentido literal do termo - nesta vida.

Mas a verdade é que de alguma forma lamentamos, além de por tudo aquilo que é notório, a perda do homem - de qualquer homem - e, no caso aqui, da arte, também pela utópica pretensão, para não dizer fantasia - ou seria realismo fantástico? - de um dia virmos a ter o privilégio de trocar uma ideia com elas, ou algo assim...

Enfim, seja como for, só pra não perder a deixa para mais um trocadilho infame (especialidade da casa, é verdade) - e uma, digamos, melancólica "piada interna" com quem leu o maior clássico do Gabo, como era conhecido o escritor - numa última homenagem ao colombiano:

Impossível ter um Buen día hoje com uma notícia dessas.


(por Diego T. Hahn)


quarta-feira, 16 de abril de 2014

Novos eventos de lançamento do "Histórias reais de amigos imaginários (e vice-versa)" (por Diego T. Hahn)


SEGUNDA (E ÚLTIMA) CHAMADA!!


Para os (*%&#*%!) amigos que não compareceram no primeiro evento na Athena Livraria, duas novas oportunidade aí:


Lançamento oficialíssimo (e quase internacional) do "Histórias reais de amigos imaginários (e vice-versa)" no Café da Praça, em Uruguaiana, no próximo sábado, 19 de abril.

 


E, na sequência, na Feira do Livro de Santa Maria, no domingo, dia 4 de maio!

E os que prestigiaram o amigo lá na Athena também estão convidados, claro, a repetir a dose (inclusive de repente comprando mais um exemplar - pra presentear, ué!, algum colega no amigo secreto do trabalho ou aquela tia distante pra quem a gente nunca sabe o que dar de aniversário ou no Natal), por que não!?



Abraços e até lá!

Diego


Lembrando que o primeiro sorteio dos ausentes acumulou!! E na Feira sairá o resultado definitivo, sendo que há consideráveis acréscimos na premiação, tais quais:

- Tião Taco de Beisebol garantiu a parceria do seu sócio Alcemir Marreta na visita surpresa de cortesia na casa ou no trabalho do amigo sorteado;

- E para a viagem à Ucrânia, estamos em intensa negociação com a Malasya Airlines, que acena com a possibilidade de uma passagem inteiramente grátis para o felizardo premiado!

Consultoria em Marketing agressivo: Corleone e Fratelli LTDA.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Biografias: Alberi Degalhos

Bom, aproveitando o alvoroço - e, por que não dizer?, até certa polêmica - causados pela repentina descoberta por parte de vários amigos leitores da existência e curiosa história de vida do poeta luso Alberi Degalhos, decidimos expor aqui mais alguns fatos descobertos nos últimos tempos através de contatos feitos com pessoas que teoricamente conheceriam um pouco mais do escritor português ou teriam ao menos cruzado eventualmente e trocado alguma palavra com ele (e também, mais abaixo, para aqueles que não conhecem, a reprodução da sua biografia, narrada na sequência da apresentação do recém-lançado "Histórias reais de amigos imaginários (e vice-versa)", da qual Degalhos é o autor, e que motivou toda essa nova onda de curiosidade a respeito do homem):


- Hernan Jimenez (alguns nomes, como este, são fictícios, pois não obtivemos autorização dos contatos para a divulgação deles), por exemplo, agricultor morador de um pequeno vilarejo da região de La Angostura, conta que certa feita ficou com o carro quebrado em meio à Cordilheira, tendo sido socorrido por um velho que passava pelas imediações com seu cajado e um pequeno rebanho de cabras (ele não lembra o nome do homem, mas supõe-se, pela descrição feita, que se trate mais uma vez do poeta português). Pois o tal sujeito foi bastante solícito e lhe fez companhia e o ajudou a buscar auxílio para o conserto do veículo por toda uma manhã e uma tarde. Jimenez lembra que a princípio o homem, embora bastante gentil, era de poucas palavras - as quais emitia com um estranho sotaque - e tinha um olhar perdido no horizonte, o que inclusive teria chegado a preocupá-lo por alguns instantes, fazendo-o cogitar a possibilidade de tratar-se de algum  tipo de doente mental ou algo do gênero. No decorrer do dia, porém, após o agricultor tecer alguns comentários sobre amenidades e a vida em geral enquanto aguardavam a chegada de um mecânico que estava a caminho, o indivíduo teria passado a balbuciar "sim, sim, sim", como concordando, porém visivelmente alheio ao que Jimenez dizia, na realidade parecendo ter um "estalo", e passara então a falar, e, parecendo entrar mesmo em uma espécie de transe, discursou por mais de hora, quase ininterruptamente, sobre várias teorias confusas que dizia que havia formulado nos últimos tempos e as quais Jimenez confessa não lembrar mais, tendo-lhe ficado impressa, no entanto, trechos de uma em específico, que o homem revelava estar desenvolvendo naqueles dias, a respeito de bifurcações e encruzilhadas  existentes pelo mundo afora e que, embora muitas vezes distantes umas das outras, acabam fatalmente por se entrecruzar em algum momento, como a formar um gigantesco e uno labirinto, se vistas de um ponto de referência no alto.
- Metaforicamente falando, o senhor quer dizer? - lembrava de ter-lhe perguntado o agricultor, um tanto quanto confuso e admitindo tê-lo interpelado tão somente para não evidenciar rudeza, desinteresse ou mesmo ignorância.
- No se... no se... - teria se limitado a responder o homem, e voltado a calar-se por um longo tempo, mirando novamente, um tanto quanto melancólico, os confins da Terra no extremo Oeste, formando um quadro que Jimenez afirma ser difícil de esquecer - suas humildes vestes e a longa barba branca ao vento, o cajado fincado na terra, e o brilho no escuro dos seus olhos, pelos quais o resto de sol daquele dia parecia especialmente atraído e nos quais parecia se banhar com intensa alegria e com urgência, antes da noite cair - e aquilo dera a Jimenez também uma sensação de imensa serenidade e relaxamento únicos. 
Ao questionar em seguida o mecânico que lhe dava carona, este, um tanto quanto indiferente e distraído, dizia não conhecer o tal homem ("debe ser un loco cualquiera!") que havia ficado para trás, então acocorado, mas ainda imóvel admirando a linha do horizonte, e cada vez menor à medida que desciam a Cordilheira, até tornar-se um pontinho branco e por fim desaparecer de vez, enquanto o mecânico falava muito rápida e irritantemente sobre uma determinada partida de futebol, uma grande festa do povoado próximo, misturando outros assuntos, e sorrindo-lhe com uma boca com poucos e amarelados dentes.
No fim das contas, apesar de toda a estranheza da situação e dos seus modos e linguajar, e de não lembrar da maioria das coisas que o velho pastor lhe havia dito - e ter entendido muito pouco daquelas que lembrava - , Jimenez afirma ter ficado com uma forte impressão de que não, por algum motivo que lhe foge à razão, mais uma sensação do que qualquer outra coisa mesmo, ele não seria capaz de contestar a sanidade daquele sujeito perdido lá em cima.



- Já o bolicheiro Jose Sellas conta que Degalhos esporadicamente aparece no seu recinto - uma espécie de bar/armazém situado em Susques, norte altiplano da Argentina - para comprar alguma coisa, e costumeiramente entra quieto e sai também quase calado, emitindo na sua passada tão somente os protocolares "buenos dias" e "buenas tardes", mas certa feita ancorou lá e surpreendeu a todos os presentes, tirando o chapéu e o pala e esparramando-se em um canto, no qual vararia a noite discursando sobre o poder mágico do vinho, que inclusive consumiu abundantemente naquela ocasião, elencando minuciosamente todas as propriedades medicinais e terapêuticas da bebida, além de sua textura, seu aroma, seus variados sabores, e fazendo comparações destes com situações da vida, e o misterioso poder da silhueta de uma mulher sobre um homem, no que foi rodeado de outros frequentadores do bar, que o ouviram calados, como hipnotizados, por horas e horas. Um desses frequentadores do bar, Facundo Reyes, afirma ter visto um brilho especial,segundo ele uma espécie de lágrima fugaz, bailar pelo olho do poeta luso quando ele descrevia "a cordilheira que descreve uma nostálgica parábola no lombo de uma fêmea, tão próxima do céu aquela elevação, e que nos rouba o oxigêneo do cérebro pelo ar rarefeito de sua altitude...", suposta lágrima que ele, porém, conteve e impediu de se espatifar naquela mesa de bar no meio da escuridão entre as montanhas, pois "as lendas não choram", repetia sorrindo o homem, "as lendas não choram", e seguia contando que o singular homem se levantou ao terminar a descrição, pegou seu chapéu, enterrou-o bem na cabeça, enrolou-se no seu velho pala andino, e se foi, encarando o gelado vento lá fora no lombo de sua mula, apenas balançando a cabeça em saudação de despedida para os que ficavam, atônitos, um pouco por vê-lo partir tão repentinamente, quando aguardavam ansiosos por mais, um tanto por tudo que haviam ouvido naquela noite, como a processar toda aquela incomum informação para rústicos homens da Cordilheira.
Antonio Venegas, outro frequentador e dono de certo talento para as artes - gosta de declamar trovas com sua voz rouca e grave e costuma rabiscar caricaturas dos habituais frequentadores em guardanapos -, embora fazendo a ressalva que Reyes tem certa inclinação a "aumentar os fatos", por assim dizer, confirma que o grosso do causo é mesmo esse e lembrando, inclusive, que em uma parede do recinto há um desenho de sua autoria retratando Degalhos e sua caracterização naquela noite.
Segundo Venegas, muitos dos homens presentes naquela ocasião aguardaram ainda por muito tempo por outra daquelas - não há realmente muito o que se fazer por aquelas bandas, e tinham tantas perguntas por fazer -, mas Sellas afirma que tal evento não mais se repetiu - o tal homem até voltaria lá, e continua aparecendo esporadicamente, mas geralmente pelo fim da manhã ou início da tarde, como de costume, trocando, sempre soturno, apenas rápidas e formais saudações com os presentes.
Embora alguns até tenham tentado em certas ocasiões empreender novas conversações com o velho, ele então limitava-se a emitir alguma vaga resposta monossilábica ou, mais comumente, balançava a cabeça como pedindo desculpas e respondia quase timidamente "no se, amigo... no se", antes de retirar-se outra vez.
Nada que afetasse, contudo, certa adoração que lhe devotavam ainda os frequentadores do bar, sempre esperançosos de que um dia Degalhos voltaria lá e lhes contaria mais sobre a vida.


E aqui abaixo, para quem ainda não tinha conhecimento, a reprodução da biografia de Alberi Degalhos - que, como dito antes, consta do "Histórias reais de amigos imaginários (e vice-versa)", livro de contos do qual o poeta português é autor da apresentação:


"Sem dúvida, é válido  aproveitarmos também este espaço
para apresentar um breve resumo da extraordinária história deste
fantástico poeta português, inacreditavelmente quase ignorado por
completo no Brasil.
O lendário – em seu país e boa parte da América Latina,
especialmente aquela andina – Alberi Degalhos nasceu em Alcobaça
(em data desconhecida; especula-se, porém, que tenha hoje algo
em torno de 90 anos de idade), mas foi criado na Ilha da Madeira.
Reza a lenda que fora abandonado ainda bebê na frente da casa
da família Degalhos, tendo assim sido adotado por Odisseu Francis
Degalhos e Eleonora Caminha Degalhos, ele também escritor,
ela descendente de nobres da Ilha. Hoje diz-se que vive sozinho e
isolado, praticamente sem contato algum com outras pessoas, em
uma pequena casa na Cordilheira dos Andes no Chile, onde dedica-se à criação de cabras.
Embora fosse bastante notório por seus haicais no início
da carreira, era também considerado ótimo na prosa. No entanto,
em um incêndio ocorrido em navio no qual cruzava o Atlântico
vindo de Portugal para a América do Sul na década de 40 – fugia
da perseguição do ditador Salazar, que o considerava um poeta
subversivo – todos seus textos foram perdidos, com exceção de dois,
os poemas “Cuidado com esse negócio (Os versos perdidos)” e “Um
belo dia chegou o futuro”, que hoje são os únicos registros “oficiais”
de sua obra. Felizmente, todos os tripulantes do navio, que em
poucos minutos jazia no fundo do mar, foram recolhidos e salvos por
uma segunda nau que fazia a travessia transoceânica em conjunto.
Alguns poemas e outros textos circulam ainda hoje em seu nome,
mas sua autoria jamais foi confirmada. Diz-se também que, depois
do incidente no navio, o poeta luso, provavelmente desgostoso com
o destino trágico de seus escritos, até continuou escrevendo quando
chegou na América do Sul, mas quase tudo aquilo que escrevia
passava a queimar logo em seguida em uma pequena fogueira
em frente ao seu chalé na Cordilheira. É certo que há até pouco
tempo ainda escrevia esporadicamente para algumas pequenas
publicações, sem maiores pretensões literárias, geralmente ensaios
ou resenhas, comentários a respeito da produção de novos talentos
locais. Embora apreciador de uma boa leitura, consta que nunca
gostou de falar de sua própria obra.
Alberi  Degalhos  casou  oito  vezes,  mas  nunca  teve  filhos.
Algumas poucas pessoas que tiveram contato com o poeta afirmam
ser ele um homem de poucas palavras, porém bastante afável e,
mais do que qualquer outra coisa, dedicado ao seu rebanho, no qual
aparentemente passou a focar com fervor nesses seus novos tempos
na América quase toda sua concentração e seu empenho, outrora
voltados com a mesma intensidade quase unica e exclusivamente
para a literatura.
Como não poderia deixar de ser, devido aos seus hábitos
diferenciados e sua vida quase de ermitão, surgiram com o
tempo várias lendas a seu respeito. Como, por exemplo, a de que
o verdadeiro Alberi Degalhos havia morrido há muitos anos e a
partir de sua morte algumas pessoas, fãs seus, passaram a adotar
sua “personalidade” para não deixá-lo partir totalmente: passaram
a escrever em seu nome – seriam as obras que circulam sem sua
autoria  confirmada  -,  e  assim,  Alberi  Degalhos  seguiria,  de  certa
forma, vivo, sendo “retransmitido” de geração para geração.
Há algum tempo atrás circulava na internet um
documentário feito por estudantes chilenos sobre a vida de um
homem já de avançada idade, longa barba branca, que vivia numa
pequena casa na Cordilheira dos Andes com suas cabras e surgiram
fortes suspeitas que o homem fosse o poeta... no documentário, ele
falava sobre várias teorias esotéricas, sobre metafísica, vida e morte,
a pedra do gênesis, o elixir da juventude, mas não menciona-se em
nenhum momento o nome do homem e as suspeitas que ele fosse
Alberi Degalhos nunca foram confirmadas.
O autor deste livro conheceu Degalhos – ou o homem
identificado  como  Degalhos,  como  queiram  –  há  alguns  anos  em
um café em um pequeno vilarejo quando cruzava a Cordilheira,
na fronteira entre Argentina e Chile, em meio a um mochilão
pela América do Sul. Após aproveitar a raríssima oportunidade
– especialmente pelo fato de o proprietário e os outros poucos
frequentadores presentes no bar confirmarem que as aparições do
homem ali eram quase bissextas – para uma breve, porém intensa,
conversa, deixou-lhe um exemplar de “Flashbacks de um mentiroso”
e, depois de alguns meses, passou a corresponder-se por cartas –
esporádicas, é verdade, mas hábito que mantém até hoje – com o
velho ermitão
."



quarta-feira, 2 de abril de 2014

Lançamento do "Histórias reais de amigos imaginários (e vice-versa)" (por Diego T. Hahn)


Olá, caros amigos!
E finalmente tenho o prazer de escalar-vos para esta nova missão literária:  

Os que estiverem zanzando distraidamente pelas paragens de Santa Maria/RS nesta quinta-feira, 03 de abril, estão convidados para dar uma passada na Athena Livraria (pra quem não sabe, situada na Floriano, onde ficava a loja Ugalde, a meia quadra do Calçadão) a partir dumas 18:30 para o lançamento oficial do meu mais novo compêndio de causos:

"Histórias reais de amigos imaginários (e vice-versa)".
 

 
(Porque, de alguma forma, provavelmente você - sim, você aí! - também faz parte destas histórias!...)

Bueno, sem mais delongas, até lá!!  
Abraços!
Diego  
 PS: Ah, não se preocupem, sem dúvida compreendo que às vezes não dá pra aparecer, a pessoa está longe, em outra cidade, estado ou país, o horário não fecha e tal... entendo, claro! 
E, só para mostrar que não sou rancoroso e vingativo, já adianto que preparei alguns brindes e quem não for poderá vir a ser agraciado inclusive em um sorteio que ocorrerá, e no qual constarão só os nomes dos ausentes, com um dos três seguintes prêmios:



- serviço de acupuntura à distância, também conhecido como "Acupuntura Haitiana", realizada com bonequinho importado, personalizado com a cara do amigo sorteado;
 
- visita surpresa de cortesia na casa ou no negócio do amigo sorteado por parte do meu amigo Tião Taco de Beisebol, o qual fará arrojada demonstração prática das suas habilidades com o artefato esportivo que justifica seu apelido (obs: este prêmio está sujeito a alterações, devido a disponibilidade do Tião, considerando-se sua "agenda" - leia-se "progressão ou não da sua pena");
 
- uma passagem (só ida - infelizmente temos limitações orçamentárias) para Kiev, capital do belo e tranquilo país da Ucrânia.
Se você é um dos prováveis ausentes... boa sorte!! 
 
 

sábado, 22 de março de 2014

Leituras em stand-by: "A divina comédia", de Dante Alighieri (por Diego T. Hahn)


Bom, comecei a ler “A Divina Comédia” há, o quê? Cerca de dez ou doze anos?
Sim, acho que foi mais ou menos por aí...
Eu devia ter uns vinte e poucos invernos vividos então...


É, definitivamente, não sei o que eu tinha na cabeça na época...
Bom, seguinte, para quem não sabe do que se trata: é o poeta florentino Dante narrando em primeira pessoa a história, na qual, em parte dela guiado por outro lendário poeta italiano, Virgilio, visita inferno, purgatório e paraíso.

 
Tudo - claro, como não poderia deixar de ser - por causa de uma mulher! (assim como Dom Quixote por sua Dulcinéia, diz-se que Dante empreende sua aventura por causa de sua musa, Beatriz...).
O poeta narra pormenores dessas andanças, descrevendo minuciosamente o caminho trilhado pela dupla e – no caso do inferno, por exemplo –  as punições infligidas a mentirosos, que chafurdam na lava, gulosos, que são espetados por capetas sacanas, e assim por diante, de um modo tal que nos faz cogitar que o filho da mãe ou teve uma espécie de visão ou realmente andou por lá!... (entre outras punições, interessante aquela direcionada aos adivinhos: têm suas cabeças torcidas para trás, de modo a não conseguirem olhar mais para a frente, castigo imposto por alegarem saber o futuro – que "somente Deus sabe").

(A propósito de Dante, em visita por Florença, quando então ainda inexperiente no quesito visita a “Casa do/da...”, paguei 5 barões para conhecer a casa do mesmo... puro engodo, claro; como toda “Casa do/da...”, consta apenas de uma casa normal (poderia ter sido a casa de qualquer ser humano - do pizzaiolo da esquina, por exemplo - e jamais saberíamos), com algum material impresso afixado nas paredes contando a história do fulano ou da fulana – no caso, além de um pouco da história do escritor, obviamente também trechos da Divina Comédia para encher um pouco mais de linguiça)

Bem, de qualquer maneira tenho o orgulho de dizer – especialmente considerando-se que, tal qual acontece com o “Ulisses” de Joyce e “Em busca do tempo perdido”, de Proust, só para citar dois exemplos clássicos, nunca ninguém leu “A Divina Comédia” inteira – que consegui chegar até a metade do livro!
O “empecilho” na leitura da obra nem é exatamente seu tamanho (são razoáveis 337 páginas na edição pocket que tenho em casa, de 2004 da L&PM - que, diga-se de passagem, é em prosa, tornando um pouco mais acessível a leitura do texto, que originalmente é um poema), mas sua linguagem arcaica.

Apesar disso, no entanto – e do seu cunho, por alguns versos, meio religioso –, por algum motivo que me foge à razão já decidi que esse é um dos meus objetivos literários dessa vida:
Sim; um dia terminar de ler “A Divina Comédia”.
Talvez pelo fascínio que, não dá pra negar, a obra causa, no sentido de sua criação em si.
Talvez para não ficar com a sensação de ter desperdiçado em vão um precioso tempo de vida com a primeira parte da leitura...

Ou então simplesmente por, depois de ter penado pelo sétimo círculo do inferno e começado a vagar meio a esmo pelo purgatório, acreditar que mereço também um dia conhecer o tal do paraíso...
 

sexta-feira, 7 de março de 2014

Pelos sebos da vida: "O coração das trevas", de Joseph Conrad (por Diego T. Hahn)


Curioso Joseph Conrad ser o primeiro cara a ser resenhado duas vezes aqui no blog (a primeira vez, inclusive, foi na primeira resenha do De Letra, com Os duelistas). Curioso, no caso, porque nem é um dos meus autores preferidos - e, na verdade, só li mesmo esses dois livros do sujeito (ou seja, ele tem 100% de aproveitamento por aqui!).

Um dos livros com a quantidade de versões da capa mais legais que já encontrei por aí (embora esta acima esteja meio "fora de foco", foi talvez uma das mais interessantes que achei e assim decidi por incluí-la também na rela).
Curioso também, pelos estilos empregados em cada um, parecerem os acima referidos livros terem sido escritos por autores totalmente diversos (Os duelistas é, digamos, mais light, mais direto, sem tanto rebuscamento, ao contrário da densidade de O coração das trevas - se bem que isso possa se dever, claro, tanto ao conteúdo de um e de outro, quanto a questões referentes a edição, tradução, etc).

A respeito disso, vale dizer que Conrad era polaco e só foi morar na Inglaterra (posteriormente naturalizando-se inglês) lá pelos vinte e poucos anos, quando ainda não falava uma palavra sequer do idioma bretão... e, ainda assim - e talvez por isso mesmo -, superou-se e tornou-se um exímio conhecedor e artista daquela língua.
Embora o mais do que centenário livro - sua publicação data do longínquo 1902 - seja um clássico, foi mais também pela sua curiosidade que decidi resenhá-lo, por assim dizer, aqui (e por ser um dos últimos livos resenháveis que li), já que certamente, assim como Conrad, e apesar de um bom e envolvente livro, não ter se tornado um dos meus favoritos.

Inevitável, claro, mencionar que Francis Ford Coppola se baseou no livro para filmar Apocalypse Now, adaptando a realidade da obra de Conrad que se passava no Congo colonizado para a Guerra do Vietnã.

A respeito do filme (que, a propósito, na minha humilde avaliação, uma raridade nesse tipo de comparação, chega a ser melhor que o livro), embora Brando, interpretando Kurtz – de certa forma, mais uma vez o poderoso chefão –, ainda que só apareça no final, seja o eixo central do filme, e Martin Sheen - sim, o pai do sequelado Charlie, que, diga-se de passagem, protagonizou também outro clássico de guerra, Platoon - o protagonista, quem definitivamente marca presença, ainda que só apareça em determinado trecho – ao meu ver, igualmente, nas melhores sequências –, é Robert Duvall, com seu coronel surfista e suas frases épicas, tais quais “Vietcongues não surfam!” e “Adoro o cheiro de napalm pela manhã”.

 Obviamente revi o filme após terminar de ler o livro, para verificar se teria e qual seria a nova impressão sobre a obra cinematográfica (e o resultado foi realmente positivo e, entre outras coisas, foi interessante perceber a relação feita por Coppolla entre Vietnã e o Congo colonizado do livro quanto à justificativa de “ajudar a humanizar e trazer progresso à região” – típica ação que podemos dizer, inclusive, se perpetua e segue atual, já que tal justificativa – esfarrapada? – segue sendo usada em eventuais incursões imperialistas mundo afora).

Impossível, no entanto, não começar a ler o livro tendo já visto o filme anteriormente, já na expectativa de encontrar Kurtz. Não sei ao certo, mas talvez isso, ainda que sutilmente, tenha prejudicado (ou teria ajudado?) de alguma maneira a leitura.

O fato, de qualquer forma, é que é uma leitura densa. Quem narra a história é o marinheiro inglês Marlow, contando sua experiência no Congo, na época que a Bélgica colonizava o país africano. Encarregado de subir o rio (que, embora não identificado por Conrad, presume-se seja o rio Congo, também conhecido como rio Zaire) numa expedição a bordo de um precário barco para buscar Kurtz, o genial agente da companhia que explorava a região e que, diziam, havia enlouquecido no posto mais avançado da empresa e, apesar de seguir com suas enormes remessas de marfim, havia se tornado um problema.


E, no mais, em meio a tudo isso, temos canibais famintos, decapitações, rituais pagãos, frequentes e controversas menções ao tal cara lá no fim do caminho que não aparece nunca - até aparecer - e um barquinho a deslizar, no azul, azul do mar (bem, não tão azul, e muito menos mar, mas você entendeu - e eu não podia perder a deixa).

"Dei ordens para que a âncora, que havíamos começado a puxar, fosse jogada outra vez. Antes que ela parasse de correr com seu retinido surdo, um grito, um grito muito alto, como que de infinita desolação, soou lentamente através do ar opaco. E cessou. Um clamor de lamentação, modulado em selvagens dissonâncias, encheu nossos ouvidos. O fenômeno era tão inesperado que meus cabelos arrepiaram-se sob o meu boné. Não sei o que causou nos demais; para mim era como se a própria neblina tivesse gritado, tão repentinamente, e aparentemente vindo de todos os lados ao mesmo tempo, despertando aquele tumultuoso e triste clamor."

" 'Eles atacarão?', murmurou uma voz apavorada. ' Seremos todos massacrados em meio a este nevoeiro', murmurou outra. As faces contraíam-se de tensão, as mãos tremiam levemente, os olhos esqueciam-se de piscar"

" 'Pega elis', ele disparou, abrindo os seus olhos avermelhados e mostrando os seus dentes afiados - 'Pega elis. Dá elis pra nóis'. 'Pra vocês, hein?', perguntei; 'O que vocês fariam com eles?' 'Comia elis', falou secamente, e, apoiando seu cotovelo no gradil, olhou através da neblina com um ar de grande dignidade e uma atitude de profunda reflexão."

Críticos costumam dividir-se, questionando a mensagem central do livro, se uma espécie de libelo anticolonialista ou simplesmente uma representação racista da África - Conrad, que, diga-se de passagem, era também marinheiro, havia visitado e viajado pelo Congo na época da dominação belga.

Para se ter uma ideia da densidade do produto, procurando informações, críticas, etc, sobre o livro na internet, achei até mesmo tese de universidade sobre ele.
O que creio, particularmente, possa restar basicamente de questionamentos ao cabo da leitura, após todas as reflexões que já foram feitas e são conhecidas, e sem forçar lá muito a barra com maiores análises psico-antropológicas e tal - e talvez já forçando um pouco - , é:

- Precisamos mesmo chutar o balde, mergulhar fundo de verdade, abandonando todas nossas defesas - físicas e psíquicas -, ir realmente até o limite, para descobrirmos nosso real potencial – ou, em outras palavras, para simplesmente conhecermos verdadeiramente quem somos (e, por tabela, o que realmente nos rodeia nesse mundão de meu Deus) – ? (Como diria o Capitão Willard no filme de Coppolla, justificando sua presença no Vietnã: “Eu não saberia quem sou numa fábrica em Ohio!”)

- E seria o ser humano essencialmente selvagem por natureza (sendo que a nossa sociedade civilizada só consegue mascarar relativamente isso)?

 
 
E para não dizer que não dei voz ao principal personagem da história - Kurtz - aqui, eis sua mais curta e emblemática sentença, na qual ele talvez sintetize as respostas e resuma essa loucura toda:

"O horror... O horror".