segunda-feira, 2 de junho de 2014

Pelos sebos da vida: "Monsenhor Quixote", de Graham Greene (por Diego T. Hahn)


Já estava há horas em dívida com o mestre Graham Greene (desde que li há uns dois anos o ótimo “Nosso homem em Havana”), mas foi bom ter esperado um pouco antes de homenageá-lo aqui: pois eis que encontro no sebo da Floriano, entre páginas meio amareladas e carcomidas e capa um tanto quanto cafona, este pequeno tesouro.

Olhando para ele de relance, em meio a um mar de livros, realmente você não dá nada por Monsenhor Quixote.
Uma versão mais legalzinha da capa

Quer dizer, não dá nada se não for um conhecedor de Greene...

Por falar no homi,  a melhor definição que já li a seu respeito é a seguinte: “Greene é o cara que conseguiu aliar a literatura de diversão com a boa literatura”.
       Não confundir com o simpático ator de traços indígenas, homônimo do escritor em questão


Impossível não se divertir com sua leitura que flui, aparentemente leve, mas com tramas bem construídas  - e, sim, com conteúdo (particularmente, seu estilo me lembra bastante o do L. F. Veríssimo dos tempos das Comédias da vida privada...).
Neste livro, Greene conta a história do padre de um pequeno vilarejo na região de La Mancha, na Espanha, terra do lendário personagem de Cervantes (diz-se que Greene era um fervoroso fã da obra-prima do espanhol e quis fazer uma pequena homenagem a ele – e, como também fã do Cavaleiro da Triste Figura, provavelmente este texto é o mais próximo que vou chegar de me atrever a resenhá-lo).

Reza a lenda no povoado que o padre é descendente do Dom, o que confunde alguns outros personagens durante o desenrolar da história: mas como, se Dom Quixote é um personagem fictício?
Seja como for, devido a uma sequência de curiosos episódios, o padre acaba partindo em uma viagem com um ex-prefeito comunista da cidade (para completar o "quadro", no decorrer da viagem o padre passa a chamá-lo de Sancho). Duas personalidades tão distintas, mas que inevitavelmente começam a estreitar laços durante essa jornada, ainda que à custa de muito embate ideológico – o ex-prefeito, por exemplo, nega a existência de Deus, enquanto o padre por sua vez defende que a salvação está no Senhor e contesta os métodos empregados pelos comunistas no poder, como Stálin, só para dar uma ideia do conteúdo que permeia boa parte da obra.
Sem dúvida, a viagem em si, com todos os seus percalços, é divertidíssima (hilário, por exemplo, o trecho em que o padre se encanta com a extrema simpatia das moças da hospedagem onde chegam em determinada cidade, sem a princípio dar-se conta do tipo de empreendimento no qual o ex-prefeito o faria passar a noite), mas o ponto forte da obra talvez sejam realmente os diálogos entre os dois personagens principais e, na particular opinião deste que aqui escreve, o seu emocionante final – o qual, se poderia ser um exagero dizer que é um dos melhores que já li, certamente incluo entre meus favoritos.

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