sábado, 7 de dezembro de 2013

Água de piscina (por Juliano Lanius)



            Fui sócio de um clube recreativo, em certa época da minha vida. Os finais de semana e os períodos de férias escolares eram preenchidos com idas regulares ao clube. Neste tempo, eu deveria estar entre os 8 e 9 anos de idade. Portanto, a piscina e os tobogãs que me faziam cair dentro dela eram a atração principal. Ficava horas dentro d’água, e saía com os dedos dos pés e das mãos murchos e a boca roxa. Mas, sempre reclamava quando minha mãe avisava a hora de ir embora. Hoje, percebo desinteresse dos jovens em aproveitar os espaços e as atividades que os clubes oferecem e que são cada vez mais diversificados.

            Uma jovem de seus 14 anos, aproximadamente – idade em que o clube é o lugar das festas, das pegações, das tardes de piscina e esportes e do encontro com os amigos –, relatou-me que não tem muita disposição para ir ao clube do qual é sócia. O argumento usado por ela foi que quase não há espaço para tanta gente nas piscinas e nas dependências do clube. Mesmo com os dias de calor, sua preferência é ficar em casa, no ar-condicionado e no conforto de seu sofá. Nem mesmo a piscina com ondas lhe chama a atenção. E, pensando bem, não deve ter a menor graça mesmo entrar em uma piscina e não poder nem ao menos dar algumas braçadas. Sabe quando “deitamos” de costas na água e nos deixamos boiar e nos levar conforme as turbulências da piscina? É impossível de se fazer isso com a piscina lotada. Corre-se o risco, inclusive, de provocar o que podemos chamar de “embundamento”. Nunca sabemos se um desatento irá cruzar em frente ao tobogã quando estamos prestes a cair na água. E também podemos ser “embundados” quando esquecemos que, no final do tobogã, tem sempre alguém chegando.

            Nos meus tempos de clube, o acesso a este tipo de entretenimento era um tanto quanto restrito. Somente me tornei sócio porque era dependente do meu padrasto na época. Porém, nos dias atuais, as mensalidades estão mais em conta, e existem planos diversos para os mais diversos públicos. Estudantes pagam menos. Idosos pagam menos. Crianças abaixo de certa idade pagam menos. Casais pagam menos. Ou seja, com este turbilhão de descontos, todos querem o seu lugar ao sol. E dentro da piscina, também. Acho ótima a ideia dos clubes abarcarem todas as acamadas sociais em suas instalações, mas que se preparem para o superpovoamento e façam as adequações necessárias para satisfazer a todos.

            Uma característica do clube onde eu era sócio que me chamava a atenção era o fato de a piscina das crianças ter a água menos fria do que a dos adultos. Em minha ingenuidade, pensava que o motivo de tal fenômeno era o volume de água da piscina das crianças, que era bem menor do que a piscina dos grandes. Contudo, passados os anos e algumas visitações esporádicas a outros clubes, me dei por conta de que não era a quantidade de água que influenciava em sua temperatura, e sim o xixi que, nós crianças, fazíamos dentro da piscina. E que sensação maravilhosa. Aquele líquido quentinho nos escorrendo pelos calções e misturando-se a água cristalina da piscina era um deleite. Ainda mais quando o dia estava nublado e a água mais fria, aí então as terminações sensitivas de temperatura do meu corpo arrepiavam-se de prazer.

            Sinto falta dos tempos de clube, dos amigos, do tempo ocioso que passávamos curtindo a piscina, os tobogãs e todo o aparato do lugar. Nestes dias de calor, sinto falta do frescor da água cristalina. E, nos dias de frio, sinto falta das calorosas guloseimas que me aqueciam o estômago. Porém, concordo com a jovem que prefere ficar em casa. Se não podemos nadar, boiar e nos saracotear, que graça tem a piscina? Se não podemos escorregar, que graça tem os tobogãs? Pelo menos, a piscina menor continua quentinha.

 

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