segunda-feira, 17 de junho de 2013

Pelos sebos da vida: "O amor nos tempos do cólera", de Gabriel Garcia Marquez (por Diego T. Hahn)


Em ocasião do Dia dos Namorados passado há alguns dias, aqui vai este texto sobre um dos maiores clássicos de Gabriel Garcia Marquez...
Bem... cara, não é que eu seja um sujeito insensível nem nada assim, mas, ultimamente quando vejo a palavra “amor” no meio do título de um filme ou livro, costumo fingir que nem vi e passar reto... sei lá, isso provavelmente por me remeter à profusão de “mela-cueca”, “água com açúcar” e comédias românticas, enfim, todos esses enlatados holywoodianos meio parecidos – e às vezes muito forçados – dos últimos tempos (lembro sempre de ter ido certa vez ao cinema assistir “Cidade dos anjos” e acompanhar atônito  aquela choradeira de boa parte da plateia no final do filme... Eca! – esse já não é tão novo, é verdade, mas é um bom exemplo de filme romântico que fez sucesso e eu achei um grude melequento dos infernos e deve ter ajudado mesmo a me “traumatizar"... me vem até de dizer que Cidade dos anjos, o c*, filmaço romântico de fazer chorar é Cidade de Deus, p*!!)...
Pois, bom, para provar que não tenho um coração de gelo e sou, sim, também um romântico, digo aqui que gosto bastante, só para exemplificar alguns, dos filmes “Em algum lugar do passado” (com seu paradoxo do relógio que faz o pessoal da geração mela-cueca virar mela-cuca por quase fundir a mesma ao se indagar, “mas como é possível...”, mostrando que são românticos de meia tigela, afinal o ponto-chave da história, o verdadeiro romance dela – e, por que não?, da vida em geral – está exatamente aí, no paradoxo, no impossível... ahá! Essa ficou boa), “Antes do amanhecer” (com seus diálogos bacanas e não aquele festival indiscriminado de “eu te amo!” e “você me completa!”), “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” (não se deixe levar pelo preconceito contra o Jim Carrey; embora ele esteja bem e não comprometa neste, de qualquer forma a Kate “Titanic” Winslet não deixa a peteca do filme cair – o que seria difícil de qualquer maneira, devido à ótima trama, ganhadora inclusive de Oscar de roteiro original), e “Cinema Paradiso”, que já vi e revi e provavelmente vou rever ainda, por estar mesmo no meu top 10 (e isso numa classificação “geral”, e não só entre filmes românticos)...
Bom, mas, enfim, feita aqui a minha defesa, não era sobre isso que queria falar exatamente. Ao menos não sobre filmes (embora vá mencionar ainda mais um na sequência). Mas sim sobre um livro, que tem o tal “amor” no título também, mas, felizmente, está longe de ser um mela cueca ou um água com açúcar... não, esse sim é que é um romance romântico de verdade, meus amigos!
A partir de agora, cuidado, há a possibilidade/ probabilidade de spoiler no lance (spoiler, sempre dando o toque pra quem não sabe, é o ato fdp de “entregar o ouro”, contando partes importantes e/ou até mesmo o final de filme ou livro).
 
Neste romance do mestre colombiano (que, infelizmente, como revelou seu irmão recentemente, está perdendo a memória e a lucidez, devido à demência senil), no qual não há, diga-se de passagem, nenhum Buendía perdido pelo caminho, o protagonista é Florentino Ariza, que desde garoto é apaixonado pela bela Fermina Daza e com a qual se corresponde através de cartas na juventude. O pai desta, porém, ao descobrir aquele flerte, manda Florentino procurar outros ares, pois não o considera um pretendente à altura para sua filha... eles acabam por afastar-se um do outro e em seguida ela casa com um dotô rico que chega na cidade.
A partir daí, Florentino Ariza decide esperar pela amada, nem que leve a vida toda para ficarem juntos – e (SPOILER! SPOILER!) é quase o tempo que leva mesmo para isso finalmente acontecer... vale salientar que, embora sempre com a amada no pensamento, Florentino não se abstém das outras mulheres do mundo: não, pelo contrário; o sujeito passa o rodo em simplesmente TODO rabo-de-saia que cruza seu caminho... porém, romanticamente, sempre pensando na amada (digamos assim que numa espécie de treinamento para quando estivessem juntos)...
 
Foi feita uma versão hoolywoodiana do livro para o cinema (com o Javier Barden no papel do Florentino Ariza e Fernanda Montenegro como mãe do protagonista), que, digamos, até que não é tão mau (vale essencialmente pela presença da belíssima Giovana Mezzogiorno no papel da Fermina Daza)... mas... hummm... sinceramente, achei meia boca e não recomendaria com muita ênfase (pra não dizer que definitivamente não recomendo, ou, ao menos, recomendo que se leia primeiro o livro – e depois, ok, se assista o filme e se decepcione com ele! Mas não se faça o caminho inverso, para não estragar o ótimo romance... e, bem... na verdade, para essa dica fazer sentido, o leitor não deveria nem estar lendo esta resenha, certo?... assim sendo, se leu até aqui, fazer o quê, né? Obrigado pela preferência! Já não precisa mais ler o livro, pois contei-o todo aí em cima e não precisa mais assistir ao filme, já que o que vale nele é a Giovana e é ela está aí embaixo pra você...).
Enfim, isso é que é romantismo de verdade, sem aquela pieguice grudenta da maioria dos últimos filmes e livros de “amor” da vida... fica a dica para a geração mela-cueca, de um grande romance romântico, que pode dar inclusive aos sonhadores de plantão algum alento ao se fazer vislumbrar aquele romance perdido no passado que você tanto fantasia ressurgindo um dia – e, ao menos no caso do livro, concluindo-se num futuro (beeeem) distante com um, literalmente, final feliz.
Ps: Ah, sim, o cólera (ou “a” cólera) do título se refere não à ira, fúria, e sim à doença transmitida pelo vibrião colérico (ver livros de biologia do segundo grau)...
A trama do livro se passa na Colômbia de Garcia Marquez numa época de epidemia da mesma que dizimou boa parte da população e que, aparentemente sendo mais uma dificuldade imposta pelo destino aos amantes, dando um tchan a mais no romance, no fim das contas acaba mesmo por ajudar a uni-los.
Moral da história: sem dúvida, pode haver vida inteligente em romances com o amor no título - às vezes, contudo, talvez só seja necessário um leve contraponto a ele para se atingir o devido equilíbrio.
  
(por Diego T. Hahn)
 

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