segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Seção "Mais valem algumas palavras do próprio autor - quando este é fera, claro - do que mil resenhas": "Sapiens - Uma breve história da humanidade", de Yuval Noah Harari (por Diego T. Hahn)


Muita gente com quem conversei nos últimos tempos já andou lendo esta obra - mas, se não leu, e vive neste planeta Terra, você já deve ter ouvido falar dela ou visto em alguma lista de best-sellers (há um bom tempo, por sinal), assim como seus dois "irmãos", "Homo Deus" e "21 lições para o Século 21", também da autoria do israelense Harari.

Seja como for, me atrevo a dizer que todo metido a sabichão, como eu e você, deveria ler este troço (que cobre os primeiros passos bípedes da nossa espécie até chegar aos dias de hoje, passando por revoluções tecnológicas, influência de crenças, religião, dinheiro, entre outras abordagens feitas de uma maneira esclarecedora, de leitura fluida e bastante acessível, até divertida, e sem ser necessariamente superficial) para ser minimamente digno de dar palpite sobre qualquer coisa hoje em dia.

Se você não leu - e é um maldito preguiçoso (ou, pior, burro confesso, que prefere ficar, como livro de cabeceira, com a obra de algum astrólogo fanfarrão ou a biografia de algum "injustiçado" torturador de alguma republiqueta de bananas, ou algo assim) e não pensa em ler as 400 e poucas páginas do produto (porque, claro, tem muita coisa escrita ali, isso é verdade) - vou cometer uma heresia e te fazer um favor, camarada; vou de certa forma resumir a obra, simplesmente reproduzindo aqui seu épico epílogo (lembrando, porém, que se você refuta veementemente a possibilidade do evolucionismo e acredita pia e radicalmente que tudo começou com o chefe lá em cima, entediado, girando um belo dia sua varinha mágica e criando nossos velhos e bons Adão e Eva, talvez possa se desestimular rápido com toda aquela suposta "ficção" ali contida e acabe deixando pra lá - ou, enfim, sendo otimistas, pelo contrário, talvez tenha um motivo extra pra dar uma boa conferida no referido material, para pelo menos considerar uma segunda opinião - , tá ok?...):

"Epílogo - O animal que se tornou um deus

Há 70 mil anos, o Homo Sapiens ainda era um animal insignificante cuidando da sua própria vida em algum canto da África. Nos milênios seguintes, ele se transformou no senhor de todo o planeta e no terror do ecossistema. Hoje, está prestes a se tornar um deus, pronto para adquirir não só a juventude eterna como também as capacidades divinas de criação e destruição.

Infelizmente, até agora o regime dos sapiens sobre a Terra produziu poucas coisas das quais podemos nos orgulhar. Nós dominamos o meio à nossa volta, aumentamos a produção de alimentos, construímos cidades, fundamos impérios e criamos grandes redes de comércio. Mas diminuímos a quantidade de sofrimento no mundo? Repetidas vezes, os aumentos gigantescos na capacidade humana não necessariamente melhoraram o bem-estar dos sapiens como indivíduos e geralmente causaram enorme sofrimento a outros animais.

Nas últimas décadas, pelo menos fizemos algum progresso real no que concerne à condição humana, com a redução da fome, das pragas e das guerras. Mas a situação de outros animais está se deteriorando mais rapidamente do que nunca, e a melhoria no destino da humanidade ainda é muito frágil e recente para que possamos ter certeza dela.

Além disso, apesar das coisas impressionantes de que os humanos são capazes de fazer, nós continuamos sem saber ao certo quais são nossos objetivos e, ao que parece, estamos insatisfeitos como sempre. Avançamos de canoas e galés a navios a vapor e naves espaciais - mas ninguém sabe para onde estamos indo. Somos mais poderosos do que nunca, mas temos pouca ideia do que fazer com todo esse poder. O que é ainda pior, os humanos parecem mais irresponsáveis do que nunca. Deuses por mérito próprio, contando apenas com as leis da física para nos fazer companhia, não prestamos contas a ninguém. Em consequência, estamos destruindo os outros animais e o ecossistema à nossa volta, visando a não muito mais do que nosso próprio conforto e divertimento, mas jamais encontrando satisfação.

Existe algo mais perigoso do que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem?"


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