Cara, o que eu
queria dizer é mais ou menos o seguinte: eu posso não ser um mito, ok...
maaass... ando nuns delírios de ser mesmo uma espécie de profeta (bem, como o nosso país é talvez o mais democrático do
mundo – aparentemente qualquer um pode
ser presidente, independentemente dos delírios – , por que não já começar a pensar em um corrida ao Planalto
baseado então nesse meu novo status??...)
O caso é que
há alguns (3?4?...) anos, logo após a explosão da revolução pós-pós-pós-digital, com a proliferação
dos smartphones que curiosamente geraram não uma maravilhosa onda de informação
como seria de se supor (meio que utopicamente, agora vejo, é verdade...) mas
sim primeiramente uma insuportável onda de popularização dos tais dos memes, que pipocavam (e continuam pipocando) pra lá e pra cá, eu
(que não tinha – e, acredite, continuo
não tendo – face ou mesmo o tal do uáts) olhava para a galera em alguns
encontros, churrascos, ou simplesmente no dia a dia, e observava – fora a
brincadeira inicial do “profeta”, não queria dar uma de visionário às avessas, mas há coisas que só você
olhando de fora para entender - cada
um no seu aparelhinho, dando risadinhas e se cutucando e mandando uns para os
outros os videozinhos e imagens engraçadas durante duas horas seguidas – e me
mostravam e eu às vezes até me esforçava, para não parecer tão "dissonante", mas em geral não conseguia entender qual era a graça daquelas piadinhas toscas ou
daquelas imagens bizarras (em sua maioria, coisas nada inéditas, ou no máximo um pouco curiosas às vezes, vá lá, mas que haviam por algum
motivo atingido uma aura, um status pop...
Lembra, por exemplo, do Marco Véio? Um dos involuntários “precursores” dessa
nova onda descerebrada – e, diabos, era um tal de taca le pau pra cá, taca le
pau pra lá, taca le pau pra todo lado!... e eu só ia abaixando a cabeça,
procurando não ser atingido... fazer o quê?).
Ah, mas que sujeito chato sou eu também, que não acha nada engraçado, praia, macaco, tobogã, Marco Véio, eu acho tudo isso um saco, admito!...
Ah, mas que sujeito chato sou eu também, que não acha nada engraçado, praia, macaco, tobogã, Marco Véio, eu acho tudo isso um saco, admito!...
Mas, cara, seja como for, noves fora minha chatice em termos de humor, já ali senti que havia algo muito errado em curso aqui por estas nossas bandas. Sim, era possível se perceber que uma burrificação em
massa estava em franco processo na nossa sociedade tupiniquim moderna. De alguma forma, a
tecnologia, que havia avançado inacreditavelmente, possibilitando fantásticas
alternativas de crescimento em termos de informação e comunicação, estava de
alguma forma gerando uma terrível involução
cognitiva (ou seja, os telefones estavam mesmo mais inteligentes – mas nós,
cada vez mais burros...). Mas havia também algo mais (começo aqui ligeiramente então também meus delírios "sociológicos"): não era para eles a questão puramente da graça do meme em si; mas uma certa sensação de "pertencimento" também: o não sentir-se sozinho neste mundo; o fazer parte de um "time" - nem que seja o time dos memes...
Agora devo dizer – se você ainda não tinha sacado –,
prepare-se: meio através de “metáforas”, mas este texto é sim sobre política.
Porque tenho a teoria que ali foi o começo de tudo - ou, o começo
do fim... (da picada?...)
Eeee... corta!
Bem, já que estou
sendo deveras pretensioso com minhas teses, vamos agora a uma singela análise sociológica do brasilian (supostamentis) sapiens – ou seja, eu,
tu, ele(não?)/ela, nós, vós, eles/elas... Por que não? (Isto é, por que não
além do fato de eu não ter um diploma de sociologia? Bobagem... Já que todo
mundo – ou ao menos todo o mundo facebookiano
– atualmente é especialista em tudo, por que também não eu, pô? Só porque não rezo também para
o Deus Zuckerberg? Rá! Vocês – quatro ou cinco leitores deste blog – vão ter
que me engolir do mesmo jeito!...)
Pois bem...
a tese, lá vai (ok, se quiser passar para uma parte mais “divertida”, e “metafórica”,
pode pular para 4 parágrafos adiante!):
O caso é que
o brasileiro, independente da classe social (e mesmo, caramba, do grau de
instrução – inclusive, de acordo com pesquisa feita pelo instituto britânico Ipsos Mori, o brasileiro é o segundo povo no mundo (perdendo só para o
sul-africano) com a visão mais distorcida da própria realidade... bem, a
proliferação das famigeradas fake news,
mesmo entre gente facebookiana/uatsápiana teoricamente instruída, só
corrobora isso, não é mesmo?), parece transitar entre a falta de "cultura" e o medo, o que
acaba gerando uma espécie de hipocrisia crônica nesse nosso povo – e, claro,
diferente do que muitos pensam, uma gente em termos gerais deveras preconceituosa/egoísta.
Falta de
cultura, pois educação, de melhor ou pior qualidade, até é oferecida em nosso
país, todo mundo teoricamente tem acesso a ela, mas a questão é que percebe-se que
mesmo aqueles que têm o acesso à melhor não conseguem dar “o salto” que só a
reflexão verdadeira (através da famigerada "cultura" – o pensar de formas diferentes...), é capaz de permitir (então, se você
engole todas as bobagens que lhe repassam no facebook e no uatsáp, sinto muito,
mas não adianta nada sua formação superior, sua pós, seu mestrado, seu doutorado...
você é instruído, mas burro).
E o medo é o
medo mais primordial, da violência, sim, mas também o medo de parecer fraco,
medo de admitir-se fraco (medo de
admitir a fraqueza de não saber determinado assunto, por exemplo, que talvez seja o mais pertinente nesta avaliação... melhor ter certeza de
tudo, não é mesmo, ainda que possa não ser a verdade verdadeira?), mascarando-o
portanto com agressividade, ou seja, com mais
violência, ou ainda, procurando "virar o jogo" não com argumentos mas com a sua tradicional "ginga" e "malemolência", com sarcasmo, ironia, através da velha e boa malandragem (criticada mas,
paradoxalmente, ao mesmo tempo, de certa forma, cultuada
em nosso país – afinal, quem prefere, por exemplo, no dia a dia a convivência com o chato
certinho ao invés do charmoso cara comunicativo e engraçado, ainda que este
resvale um pouquinho para o “lado negro da força”?) e do politicamente
incorreto, que, pois bem, é exatamente mais engraçado – e másculo!
Pois a
propósito de chato certinho – e agora pulando diretamente para a área das “artes”
– , lembro de uma história em quadrinhos da minha infância, dos Transformers, em
que o Optimus Prime, chefe dos “mocinhos”, disputava com Megatron, líder dos
malvadões, uma partida de uma espécie de videogame, era uma realidade virtual
na qual os avatares dos dois se enfrentavam para decidir a guerra entre
autobots e decepticons (para evitar mais destruição e mortes), e Optimus vencia
Megatron, que devia então ser destruído na vida real com o simples apertar de
um botão. Mas então, para surpresa de todos, Optimus diz que não pode ser
assim pois trapaceou, pois puxou uma espécie de cano naquela realidade virtual,
fazendo cair no abismo e morrer uma porção de pequenos seres que viviam ali...
para incredulidade dos seus próprios comandados – e minha também, óbvio – Optimus dizia que ele é que devia ser destruído por ter matado aquelas criaturas que
não existiam na realidade, e Megatron seguiria em frente, forte, belo e mau.
Meio burrico, pragmaticamente falando, me parecia, mas, ao mesmo tempo, exemplo máximo de lisura e cavalheirismo que já vi, ao menos na ficção, e, bem, ainda que nem perto disso – furo sinal
vermelho de madrugada, com a justificativa de não dar mole pra violência, colei
muito durante os anos de estudante, já menti pra caramba nessa vida, ainda que
sob a justificativa de “mentiras sinceras” etc – procurei de uma forma ou outra
nortear ética e moralmente minha vida a partir de então de acordo com o mais
próximo possível daquela lição de Optimus Prime.
E, buscando
esse exemplo do líder dos Autobots, procuro sempre questionar carinhas que vêm
com enfáticas opiniões, no mínimo polêmicas, mas supostamente engraçadas ou revolucionárias (ao menos nas cabeças
deles...), se seriam eles capazes de defender essas ideias, que defendem ali no
churrasco ou no futebol em meio aos outros carinhas (acredito que mais
procurando reforçar a “moral” deles do que propriamente emitir uma opinião
realmente sincera sobre o assunto), em um microfone, em um auditório diante de
um público variado e desconhecido? E, talvez o principal, o fariam, defenderiam
essas ideias, para um filho pequeno deles?...
Mas, com
licença, a propósito de artes e voltando à tese, só que pulando dos quadrinhos
para o cinema, o brasileiro mostra então toda sua hipocrisia mesmo, esta forjada
sem que ele se dê conta através do medo e da falta de cultura, quando se
sensibiliza por exemplo em situações bem retratadas na telona ou na telinha –
diante do sofrimento de certas minorias, por exemplo (e nem vou adentrar na temática da Segunda Guerra aqui, para não "ferir sentimentos"...); o brasileiro emociona-se com
filmes como “Dança com Lobos” e “A Missão”, mas, curiosamente, ignora, ou relativiza a questão, quando HOJE, na
vida REAL, certos indivíduos que estão no poder ou marchando rumo a ele no país
demonstram total desrespeito, por exemplo, pelos povos indígenas, e por outros grupos em situação de vulnerabilidade - sinto muito, mas não consigo evitar: minha "formação" obtida através da ficção também não me permite jamais voltar-me contra os "fracos e oprimidos"...
(não, também não quero fazer o papel, mas, bem, talvez o que nos falte seja mesmo um Kevin Costner “vira-casaca” no que resta
de nossas aldeias, não é mesmo?...)
Mas por falar em
filmes, algo na atual situação do nosso país também me remete ao penúltimo Star
Wars, o tal Despertar da Força... caramba, depois de tudo aquilo que passamos,
com a vitória final dos rebeldes sobre o Império em O Retorno de Jedi, 30 anos
depois (!) há uma sombria Primeira Ordem, querendo reimplementar aquele regime,
com tudo o que se passou parecendo ter sido esquecido! (hey, criaturas
facebookianas, assim como eu não quero acabar num calabouço por escrever textos
como esse aqui, vocês também não querem levar porrada após terem seus textões
debulhados por uns tiozinhos mal-humorados num porão, né? Não é 13, nem 17; é
2018, porra!!)... – o problema aqui, no entanto, é o risco de um desses grupos
se apossar da ideia de que, tal qual naquele filme, seu messiânico Luke
Skywalker também está “isolado” e sem nada poder fazer no momento (portanto,
perdão, George Lucas! – Deixemos as guerras lá nas estrelas, já que temos a
nossa própria aqui, entre elas...)
Pois ainda
no terreno da ficção científica – agora me empolguei! – , às vezes sinto nos últimos dias também
inacreditavelmente estar vivendo um
daqueles sombrios futuros alternativos de alguns filmes, como “Efeito
Borboleta”, ou “De volta para o Futuro 2” (caramba, nossa mãe está prestes a
casar com o imbecil do Biff, cara!! Vocês tão entendendo isso???)...
Seguindo em
frente nas citações cinéfilas, para finalmente chegar na minha “profecia” (não
comigo, mas pode também fazer a relação com o anticristo do filme de mesmo nome
aí com o seu adversário político, seja ele qual for... tá valendo – já que já se
joga, por exemplo, o nazismo/fascismo de um lado pro outro mesmo, com direito
inclusive a contestações de brazucas a contextualização feita
institucionalmente pelo governo da própria Alemanha, veja você!): há um tempo
atrás, pensando nesse medo de se falar a verdade e de se falar sobre coisas
realmente importantes, refletir realmente sobre elas, mascarando isso através
do “humor” que me parecia proliferar como uma peste com os tais memes pela internet,
cheguei a escrever, falando sobre a “burrificação” que vinha acontecendo
através da tecnologia, que me parecia que haviam dado ferramentas
poderosíssimas a primatas, parecia o monólito diante dos homens-macacos (ver
Kubrick)... como dito antes, a tecnologia evoluindo absurdamente, a comunicação
teoricamente sendo facilitada como jamais imaginado, mas cognitivamente o
brasileiro involuindo abruptamente...
e foi, e foi, e foi... até que uma geração cresceu, foi forjada, através da
linguagem que prima nessas novas tecnologias, através especialmente do humor desses memes, que virou o norte deles – como talvez a lição do Líder
Optimus tenha sido um dia para mim... assim, eles baseiam-se a respeito do que realmente
importa através do que é simplesmente mais engraçado, cool, do que está em voga na rede, de quem faz mais barulho, ou
até mesmo simples e masculamente
politicamente incorreto... isso dá até votos, veja bem. Você não precisa de uma
plataforma de governo. Você não precisa de propostas. Você não precisa sequer
saber falar. Você pode dar simplesmente declarações “engraçadas” (ou
“diferentes de tudo que está aí”) – batendo em minorias, que seja... Você tem
que gerar “memes”. Você tem que “mitar”, como eles dizem hoje em dia. Só assim
você chegará ao coração deles.
Artes? Para
quê? Ler? Quem lê hoje em dia? Notícias, jornais? Para que, se tem o face e o
uáts para nos dar as últimas e mais importantes da nossa bolha – e,
especialmente, saciar nossa sede de pertencimento e homogeneidade – ?...
Então, aonde
chegamos? A uma disputa entre uma Gang 90 e as Absurdettes (e me parece que estamos mesmo fadados a ficar “perdidos na selva...” aqui por
estes nossos pagos) que a meu ver nem deveria estar participando dela – talvez
devesse estar se refundando, ensaiando mais, corrigindo as distorções dos
acordes dos últimos shows, talvez até mesmo mudando o nome da banda, enfim,
revendo conceitos musicais etc – e um Exército
de um Homem Só (mil perdões, caro Scliar, por essa associação! Mas sei que
neste caso posso contar ao menos com o seu
senso de ironia...), com a diferença que o Capitão (!) Birobidjan (além de ser um
fiel e revolucionário seguidor dos preceitos do velho Marx, claro), após seus
lunáticos discursos, recebia o aplauso entusiasmado tão somente de pequenos
homenzinhos imaginários... e não, como acontece insanamente com esse “nosso” atual,
inacreditavelmente ovação de um grande número de gente de verdade!
A "solução",
para mim? Ainda que não o melhor dos mundos, pareceria-me bem óbvia (embora provavelmente tarde...): procurar algum
caminho pelo meio – e, no fim das
contas, o principal, o que nos resta, seguir nosso caminho de evolução através –
além claro do básico estudo e informação, filtrada, ponderada – das artes
(leitura, cinema, teatro...), buscando novas ideias ou adaptar/refrescar nossas
novas velhas ideias.
Mas, como
aparentemente a nova arte realmente
valorizada em nossos tempos é o meme...
fazer o quê, pode seguir tacando le pau,
Marco Véio, se quiser – só, por favor, não pros meus lados, ok, amigão??...
Nenhum comentário:
Postar um comentário