sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Leituras em stand-by: "Ilíada", de Homero (por Diego T. Hahn)


Há algum tempo, comentei nesta mesma seção "Leituras em stand-by" sobre a minha interrupção da leitura (até hoje não retomada) da "Odisseia", de Homero.

Pois agora, embora por motivos diversos, a contemplada na coluna é a sua predecessora, a "Ilíada" (na verdade, a autoria de ambas as obras é atribuída a Homero, mas, para não termos que ficar nos referindo a elas como "a obra atribuída a Homero" e facilitar nossa vida, vamos admitir que ele seja mesmo o autor delas).


Como já descrito, a "Odisseia" trata da volta para casa - a ilha de Ítaca - do herói grego Ulisses (ou, no original, Odisseu, o que dá sentido ao título - ahá) após o término da Guerra de Troia. 

A "Ilíada", portanto, como já pode imaginar quem ainda não conhece o enredo, descreve os acontecidos exatamente da tal guerra, com seus Heitores, Paris e Aquiles da vida.


Mas se na "Odisseia" consegui navegar com muito prazer pelo mar Egeu até cerca de metade do livro, na "Ilíada" sequer consegui encontrar os tais personagens acima mencionados, pois travei já na segunda ou terceira página!


E a culpa aqui imputo ao estilo empregado no texto: ao contrário também da edição da "Odisseia", "traduzida" para a prosa, facilitando sua leitura, neste pocket da "Ilíada" (da Editora Martin Claret, e que chegou às minhas mãos numa permuta na Feira do Livro de Porto Alegre de alguns anos atrás), o texto permanece em formato poesia; mas não só, também sua linguagem é arcaica e de difícil entendimento (ao menos para um animal como este que aqui escreve), como demonstrarei, transcrevendo os primeiros trechos da trama aqui e agora:

"Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos, Verdes no Orco lançou mil fortes almas, Corpos de heróis a cães e abutres pasto: Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem O de homens chefe e o Mirmidon divino. Nume há que os malquistasse? O que o Supremo Teve em Latona. Infenso um letal morbo No campo ateia; o povo perecia, Só porque o rei desacatara a Crises. Com ricos dons remir viera a filha Aos alados baixéis, nas mãos o cetro E a do certeiro Apolo ínfula sacra. Ora e aos irmãos potentes mais se humilha:“Atridas, vós Aqueus de fina greva, Raso o muro Priâmeo, assim regresso Vos dêem feliz do Olimpo os moradores! Peço a minha Criseida, eis seu resgate; Reverentes à prole do Tonante, Ao Longe-vibrador, soltai-me a filha.”Que, aceito o preço esplêndido, se acate O sacerdote murmuraram todos; Mas desprouve a Agamêmnon, que o doesta E expele duro: “Em cerco às naus bojudas Não me apareças mais, quer ouses, velho, Deter-te ou retornar; nem áureo cetro, Nem ínfula do deus quiçá te valha. Nunca a libertarei, té que envelheça Fora da pátria, em meu palácio de Argos A urdir-me teias e a compor meu leito. Sai, não me irrites, se te queres salvo.”Taciturno o ancião treme e obedece, Busca as do mar flutissonantes praias. Ao que pariu pulcrícoma Latona Afastando-se impreca: “Arcitenente, Ouve, Esminteu, que Tênedos enfreias, Crisa proteges e a divina Cila, Se de festões colguei teu santuário, Se de cabras e touros coxas pingues Te hei queimado, compraze-me os desejos, A tiros teus meu choro os Dânaos paguem."



Sacou?





Ah, sim, há no texto aqueles numerozinhos no alto das palavras, as tais notas do editor, com as respectivas explicações de termos e nomes na parte inferior das páginas, mas são tantas (praticamente um numerozinho a cada duas palavras, ou algo assim - há várias páginas nas quais as notas ocupam mais espaço que o texto principal em si), que ficaria simplesmente inviável ir parando o texto para lê-las.


Bom, se não posso então falar quase nada do livro, ao menos não por conhecimento próprio de causa, para encher linguiça aqui vou ao menos falar do tal filme aquele, "Troia", lançado alguns anos atrás e teoricamente baseado nessa obra de Homero...

Bem, o que dizer do filme?

Acho que não há nada a se dizer muito além de:



Cara... mas que bela porcaria!!



À época assisti no cinema e saí realmente deprimido da sala e não consigo até hoje compreender como alguém conseguiu achar aquilo um "filmaço"... 

O filme em si é muito fraco e, embora eu não tenha nada - além talvez de inveja - contra o Brad Pitt (até acho ele um bom ator e tal - sou fã do trabalho dele nos 12 Macacos e no Bastardos Inglórios,  por exemplo), a verdade é que não ajuda em nada aquele loirinho com aquela carinha bonitinha no papel do famigerado e temido Aquiles, pô!! (algo, aliás, como o - também bom ator, mas igualmente dissonante no contexto - Colin Farrell no papel de Alexandre, o Grande, naquele outro filme...)
Será que o diretor do filme também era cego como o Homero e não viu isso??

                    O filho de Tétis? O melhor dos Aqueus? Com essa pose??

Mas, repito, é só um detalhe a mais que colabora para emperrar a engrenagem, pois o filme como um todo, ao meu ver, não se ajuda (talvez o que sobre de interessante no fim das contas sejam algumas fotografias, algumas tomadas de batalhas e, ah, claro, a safadinha da Helena - por sinal a causa/pretexto pro pau comer - com sua beleza esfuziante - embora eu particularmente provavelmente não me prestasse a cruzar um oceano e nem enfrentar um monstruoso e sanguinário exército inimigo nem por uma daquelas), e, por mais difícil que seja a missão, se um dia me enfiarem uma arma na cabeça e, como condição para seguir vivendo, mandarem escolher entre essas duas opções, assistir de novo o dito filme ou tentar terminar de ler a irmã mais velha da "Odisseia", creio que aí sim, senhoras e senhores, finalmente darei um jeito de concluir a leitura de uma obra atribuída ao velho e bom Homero.


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