E fazendo sua surpreendente estreia na área da poesia aqui no De Letra nosso amigo de fé, irmão camarada, Diogo Couto, vulgo Diogão, piloto aéreo nas horas vagas, quando não está filosofando sobre a vida. Recebemos do nada um dia esse seu maravilhoso texto via e-mail (certamente inspirado pelo que vê lá de cima, mas provavelmente também por um de seus Hemingways ou Kerouacks que carrega invariavelmente embaixo do braço - mesmo quando está pilotando um avião!) dizendo lá nada além do que segue abaixo... ninguém sabe por onde anda a figura hoje em dia (últimas informações, embora um tanto quanto desencontradas, dão conta que pros lados do espaço aéreo goiano... outros dizem, porém, que foi abduzido por jupterianos anfetaminados e indecentes, que o recrutaram com o intuito de fazer experiências sexuais com um espécime terrestre e implantar-lhe um chip em um local do corpo que não podemos mencionar aqui), há tempos o sujeito não dá as caras (dá sinal de vida aí, seu porra!!), mas certamente esse filho da mãe abençoado com uma alma poeticamente conturbada está bem onde estiver e, além de para não escondermos do mundo essa preciosidade abaixo, também para matarmos um pouco da saudade do mesmo, não poderíamos deixar de publicar o que segue:
Por você eu deixo de ser coruja e viro cotovia
pra assim andar só de dia
por você
a temperatura caiu e o céu se encheu de um rubro pastoso
lânguidas nuvens que quase posso tocar
cheiro de almíscar e solidão
mórbido asfalto
sereno orvalho
secas gramíneas
multidões solitárias
poeira e fumaça
luzes ascendem paralelas, verticais
telhas do mais barato barro
borracha e carne
tô te dizendo tudo o que tô vendo
rostos cuidadosamente embelezados, inexpressivos
às vezes uma tímida lua me espreita pelo buraco da janela cinza de nuvens
o que ela quer?
tô na sacada da poesia e lá embaixo nada e tudo, mescla pastosa de dúvida
pode ser
afinal acho que nada é
não tem que haver pontos nem vírgulas,
apenas um rolo de papel higiênico
cheiro de café e sorriso
então pare
estático alvoroço
maravilhoso
cool feet
longa tarde, ciclo eterno de esperas
leve frio, denso ar, agressivo barulho do silêncio
vira o disco ou a página
ou vira louco,
artista quem sabe um lobo
vira lata, vira casaca,
vira o copo
tô na sacada da poesia
lá embaixo tudo e nada
mescla pastosa de dúvida
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